Capítulo 11 - Nova York, janeiro de 2016.

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   Já passava das seis de manhã quando o despertador tocou, Arthur levantou ainda grogue de sono, uma dor de cabeça infernal lhe atormentava, sabia que era uma péssima ideia ter aceitado o convite de Michael para ir assistir ao jogo dos Patriots em um bar perto da casa dele, odiava acordar de ressaca no outro dia, mas Michael sempre conseguia convence-lo.
    Após tomar um banho rápido, vestiu uma camiseta preta e uma calça jeans que estava junto das roupas que havia trazido da lavanderia no dia anterior, tomou seu café da manhã rapidamente. Era o primeiro dia de suas férias do trabalho depois de anos, ele nunca havia tido férias propriamente ditas, sempre eram folgas que duravam no máximo de 2 a 10 dias, ele nunca reclamava, gostava de se manter ocupado, gastava de sua profissão. Sentou-se no sofá da sala, sua dor de cabeça começava a diminuir, então ligou a tevê e resolveu deixar em um canal de culinária na qual tinha certeza que sua mãe estava assistindo, podia apostar que quando ligasse para seus pais, ela iria contar a nova receita que tinha aprendido e que iria cozinhar para ele na próxima vez que o visitasse.
   Seu celular começou a tocar e o encontrou jogado em cima da cama, ao olhar no visor, viu que era Michael e atendeu.
- Como se sente, cara? – Michael perguntou um pouco divertido, com certeza já imaginava sua ressaca.
- Péssimo, mas vou melhorar – Ao passar pelo espelho do quarto, reparou em seu cabelo molhado e bagunçado por causa do banho.
- Devia ter ficado até o final do jogo, aquela garota da mesa ao lado perguntou por você, perdeu sua chance grande.
- Tenho certeza que não eu seria uma boa companhia – Disse ao passar as mãos pelos cabelos quase secos.
- A quanto tempo você não tem um relacionamento? Acho que tem quase um ano, a última foi a Lena, que trabalhava com você – Disse surpreendido pela sua própria resposta.
- Garanto que estou bem – Disse ao voltar a sentar no sofá.
- Tudo bem, sei que estar bem, mas deveria aproveitar mais a sua vida, você trabalhar demais e esquece de viver, aproveita essas férias. Lembro que Lena terminou por causa disso.
- Prometo que vou tentar, talvez eu viaje para algum lugar, não sei...
- Aproveita, cara. Depois a gente se fala, alguém aqui ainda não está de férias e precisa trabalhar.
- Até mais.
    Ao desligar, deixou o celular em cima da mesinha em frente ao sofá, reparou na foto com Michael quando era apenas um recruta dos fuzileiros navais, havia passado 3 anos lá, admitia que havia sido uma atitude radical, se alistar no 1° posto de recrutamento que viu quando foi embora de Hoverfield, mas não se arrependia, havia aprendido muitas coisas quando estava lá e também havia ganhado e perdido amigos, quando se tem uma guerra, sempre tem o risco de isso acontecer.
   Depois que saiu, com o dinheiro que juntou abriu uma grande loja de materiais esportivos e depois que soube que Carly havia se formado em administração, a convidou para ser sua sócia, foi ela que o convenceu a tirar umas férias, sabia que ela lidaria bem com questões da empresa sozinha, mas ele já se sentia estranho por sua rotina não ser mesma durante algum tempo.
O celular tocou outra vez, sorriu ao ver no visor que era a sua mãe.
- Oi, mãe.
- Oi, filho. Como estar? – Sua mãe pergunta com a mesma animação de sempre.
- Ótimo – Ainda sentia um pouco da dor de cabeça, mas resolveu não revelar a ela – E você?
- Me sinto ótima. Mas eu liguei para dizer que recebi uma ligação do seu antigo colégio.
- Como assim? Por acaso esqueceram que já terminei o ensino médio a 10 anos? – Ouviu a risada de sua mãe do outro lado da linha.
- Não, na verdade, ligaram para fazer um convite.
- Que tipo de convite? – Ele franziu o cenho um pouco curioso.
- A moça me disse que o diretor está planejando uma reunião com ex-alunos do ensino médio, ela me explicou que é uma tradição da escola organizar um baile em comemoração de 10 anos de formatura todo ano, então ela queria saber se poderia confirmar sua presença.
   Arthur ficou em silencio por um instante e pensou em todas as desculpas possíveis para evitar este tipo de evento.
- Filho? – Sua mão disse um pouco preocupada do outro lado da linha.
- Oi, mãe. Desculpa – Disse ao acordar do transe.
- Posso confirmar?
- Na verdade, eu não sei se poderei ir.
- Nada de desculpas, Arthur. Carly me ligou ontem e me disse que estava de férias e não tinha nada para fazer – Arthur xingou Carly mentalmente por isso – Essa é uma ótima oportunidade para você voltar a sua antiga cidade, rever seus amigos.
" Rever ela", ele pensou.
- Não sei se estou afim de ir – Ele confessou.
- Arthur, você nunca nós contou o real motivo de ir embora daquele jeito, seu pai e eu resolvemos não perguntar o que aconteceu, sei que tem a ver com a Julia, mas já faz 10 anos, sempre te visitamos todos os anos ai em Nova York, agora é a sua vez de voltar, pelo menos por mim e pelo seu pai, não precisa ir a festa, só precisa vim até Hoverfield, por favor.
   As palavras de sua mãe causaram um efeito que ele não esperava, sabia que ela tinha razão, mas tinha medo do que podia acontecer quando voltasse, do que poderia encontrar.
- Preciso pensar um pouco, posso te ligar depois?
- Tudo bem, mas não demora. Te amo – Sentiu o sorriso dela ao pronunciar aquelas palavras.
- Também te amo. Tchau, mãe.
   Após encerrar a ligação, Arthur passou alguns minutos pensativo a olhar para o teto da sala, a imagem que tinha dela surgiu em sua mente, não tinha um dia que não pensasse nela, sua mente não o deixava apagar cada detalhe do seu rosto, era como se o tempo não passasse. Lembrava do dia que tinha rasgados todas as fotos dela, lembrava de como o vento levava cada pedaço e de como queria poder rasgar ela de seus pensamentos.
Às vezes se pegava pensando em como ela é agora, se seu sorriso era o mesmo, se seus cabelos ainda eram longos, se era casada e tinha filhos ou se ainda lembrava dele. Ficava imaginando o que ela estaria fazendo nesse momento, se perguntava se ainda olhava as estrelas como ele sempre fazia.
   Na verdade, ele nunca soube mais nada sobre ela. Quando saiu de casa, pediu que seus pais evitassem falar dela, ele não queria saber nada, tinha medo que qualquer informação o fizesse voltar para apenas ficar perto dela, Carly é a única que ele sabia que ainda tinha contato com ela, no começo ela sempre falava de Julia, mas Arthur sempre mudava o assunto, pensava que se sentiria aliviado quando ela parou de tentar, mas cada vez que conversava com Carly, se sentia tentado a perguntar sobre Julia, mas sempre conseguia se segurar no fim das contas.
E agora ele não sabia o que lhe aperava caso voltasse, sabia que 10 anos era muito tempo, mas para ele, não foi tempo suficiente para esquece-la.
  O som da campainha o trouxe de volta a realidade, ao abrir a porta, Carly o esperava com um sorriso no rosto.
- Por favor, me diga que precisa que eu volte ao trabalho – Disse quando ela entrava e sentava no sofá.
- Sinto decepciona-lo, mas não. Vim apenas dizer que precisa ir.
- Ir onde? – Ele sentou-se na poltrona de frente para ela
- Voltar a Hoverfield.
- Como soube?
- Caso não lembre, estudamos juntos na mesma escola, então, também recebi um convite e presumi que você também receberia.
- Minha mãe ligou para você, não foi?
- Talvez, sim – Ela confessou com um sorriso tímido – Vamos, você precisa ir.
- Eu não sei.
- Arthur, já faz muito tempo, muita coisa mudou, você foi embora de lá sabendo que um dia teria que voltar, e esse dia chegou.
- Você vai? – Ela lhe lançou um sorriso um pouco triste.
- Também tenho lembranças lá, a maior parte delas são boas, são lembranças das quais não posso esquecer, tenho que ir.
- Talvez você tenha razão, mas eu preciso saber se ela vai estar lá, se vou correr o risco de encontrá-la. Sei que evitei que você falasse dela todos esses anos, mas eu preciso saber se vou vê-la.
- Sim, ela vai estar – Ela disse ao tirar uma mecha de cabelo que caia em seu rosto – E você?
- Depois do que você me disse, tenho a sensação que preciso ir, faz muito tempo, estar na hora de voltar para casa.
Ela foi até onde ele estava e o abraçou.
- E você? Vai ficar bem? – Ela sorriu e apertou sua mão devagar.
- Ainda sinto falta dele – Disse ao se referir a Daniel – Mas, como sempre disse, faz muito tempo.

- Então, quer dizer que você vai viajar – Michael perguntou enquanto tomavam café na cafeteria da praça na manhã do outro dia

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- Então, quer dizer que você vai viajar – Michael perguntou enquanto tomavam café na cafeteria da praça na manhã do outro dia.
- Ao que tudo indica, sim – Arthur responde depois de tomar um gole do se cappuccino.
- Onde fica mesmo? Cloverfield? Se fosse você tomaria cuidado com esse nome.
   Arthur riu ao lembrar que Michael fazia uma referência ao filme Cloverfield-Monstro.
- É Hoverfield, e tenho certeza que lá não tem nenhum monstro.
- Mas, então, me diz, quanto tempo vai ficar por lá?
- Não sei, estou devendo uma visita aos meus pais, então, não sei quanto tempo ele me segurarão por lá.
- Não sei quanto tempo aguentaria ficar em uma cidade como a sua, pequena e calma demais para o meu estilo de vida agitado.
- Devia conhecer, uma mudança radical sempre e bem vinda.
- Dispenso, obrigado. Mas, quando é que você vai?
- Talvez, daqui a 2 dias, a reunião será daqui a 2 semanas, mas meus pais insistem que eu vá antes.
- Sentirei falta das nossas noites assistindo jogos dos Patriots no bar.
- Sei que terá dias bem difíceis e deprimentes sem mim, mas você vai sobreviver.
Michael deu um soco de brincadeira no ombro de Arthur.
- Tenho que ir, cara. Tenho que arrumar minhas malas, amanhã volto para a Califórnia.
- Tchau, cara. Também tenho malas para arrumar.
   Depois que se despediram, Arthur pagou a conta, no caminho para casa, lembrou dos velhos tempos da marinha, Michael é seu amigo desde esse tempo, ele ainda era um marinheiro, sua base ficava em San Diego, não se veem muito igual antigamente, mas sempre davam uma maneira de se encontrarem para um dia entre amigos.
Enquanto caminhava em direção ao seu apartamento, ele não deixava de tentar imaginar como estava o rosto dela, ela já tinha quase 29 anos, o aniversário dela seria próxima semana, ele nunca esquecia, com certeza, estava mais bela do que antes.
  Ao chegar em seu apartamento, começou a fazer as malas, lembro que nunca perguntou a Carly ou ao seus pais se ela ainda morava na mesma casa, se ainda era sua vizinha, queria saber o que sentiria ao olhar pela janela de sua antiga casa e o seu olhar cruzar com o dela.       


Oi, pessoal. Espero que tenham gostado, vou deixar minha página do face no link externo para que curtam e fiquem por dentro das novidades das minhas obras. Até mais. 

Seu Coração Ainda é MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora