Capítulo 63 - Três Palavras

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O resultado oficial saiu alguns dias depois de eu responder o e-mail. Dessa vez o telefone da minha casa tocou e era o próprio Robert Shineider do outro lado da linha. Claro que eu não sabia disso quando minha mãe atendeu o telefone e começou a xingar em português.

— Quem é, mãe? — eu perguntei, ao alcança-la.

— Deve ser alguma daquelas revistas de novo — ela disse, abaixando o fone. — É um homem falando em inglês.

Eu pulei para agarrar o telefone, certa de que poderia ser alguma notícia das universidades para as quais me inscrevi. Foi só quando eu agarrei o gancho que o lampejo de que poderia ser Alexander passou pela minha cabeça.

Mas não era. Era Robert Shineider.

Ele passou a notícia oficialmente. Disse que costumeiramente eles não faziam isso, mas sim enviavam as cartas de aprovação. Porém, como a minha carta provavelmente demoraria muito tempo para chegar e eu tinha prazos para cumprir, se quisesse estudar na UCLA, ele se encarregou de fazer o telefonema.

Eles me ofereciam uma bolsa, simples assim. Robert me explicou que era uma bolsa baseada em mérito, mas que também estava lastreada nas minhas condições financeiras. Eles tinham uma ideia da situação por conta dos documentos que eu tinha mandado na inscrição – surripiando algumas coisas do escritório, xerocando e recolocando no lugar antes que minha mãe desse falta.

O resumo da história era esse. Eles queriam essa menina chamada Katerine Nunes, baterista e fabulosa escritora de letras na Universidade da Califórnia. Eu perguntei como ele sabia das letras de música. Ele disse que também tinham enviado para a universidade, mas que não tinha sido a mesma pessoa que enviou os vídeos. Comecei a achar tudo muito estranho! Quem tinha enviado o vídeo? E quem tinha enviado as músicas? Será que Alexander está por trás disso tudo? Isso explicava porque eles estavam tão interessados em ter essa menina Katerine Nunes, também conhecida como zé ninguém na 12ª melhor universidade do mundo (não que isso me importe. Eu não sou aficionada por listas, Deus que me livre).

Robert se despediu dizendo que mandaria um e-mail com todos os prazos e que eu precisaria ter muita atenção para não perder nenhum. O ano letivo só começava em setembro, mas pelo jeito havia um monte de coisas para serem feitas antes disso acontecer. Isso incluía uma burocracia gigantesca, com muitos papeis e pedidos de visto de estudante.

Eu agradeci, o mais calma que pude. A verdade é que eu estava dividia entre pular pela casa e me encolher na cama. Era mérito meu ou tinha sido Alexander? Será que eles tinham gostado do meu vídeo mesmo ou gostaram do remetente? Como sequer podem saber que eu sou uma excelente escritora de letras, se minhas letras são em português e estão a salvo em baixo da minha cama?

Desliguei o telefone e sentei na minha cama, com medo de continuar pensando. Eu queria ir para UCLA? Claro que sim! Eu poderia estudar música, quem sabe até trabalhar com produção musical. Mas será que era mérito meu? E, além disso, eu já tinha passado muito tempo fora de casa. Como poderia explicar para minha mãe que já estava de partida novamente? Ou melhor, como explicar para minha mãe de onde veio essa bendita bolsa, se ela nem sonhava que eu tinha feito os SATs?

Por que tanta burocracia? Com tantos meses entre fevereiro e setembro era de se esperar que eu pudesse ter alguns meses para pensar e não só alguns dias. Abri o laptop e o e-mail de Robert, com todas as datas limites. A primeira delas era só daqui há duas semanas e os primeiros passos eram mais simples e menos burocráticos. Ou seja, poderiam ser feitos em cima da hora. Fechei o laptop, me sentindo menos pressionada. Duas semanas estavam longe de ser meses, mas eram melhores que alguns dias.

Tiete!Where stories live. Discover now