Capítulo 10 - Disposição

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Quando entrei na vila sábado à tarde, depois do meu expediente matutino na loja (onde ninguém, nem Daniel, lembrou do meu aniversário), já sabia que Mariana tinha armado alguma coisa. A porta de sua casa estava aberta e ela e Caio estavam colocando para dentro uma montanha de bebida e caixas de som. Entrei na minha casa sem ser vista, querendo dar um jeito de fugir daquela festa. Mariana ia convidar um monte de gente que eu detesto de novo e eu ia ter que abraçar e agradecer cada um? Socorro.

Eu e minha mãe passamos a tarde juntas. Ela fez bolo de cenoura e nós batemos parabéns e cortamos o bolo com meu pai no Skype. Claro, não era a mesma coisa, mas, ainda assim, era alguma coisa. Minha mãe parecia ainda mais feliz que eu, fazendo aquele aniversário "em família". Meu pai disse que estava muito orgulhoso da mulher que eu estava me tornando (mas hein?) e que quando estivesse no Rio iriamos sair para jantar em comemoração. Recebi ainda o telefonema de minha avó que morava em Minas Gerais, onde minha mãe nasceu e da minha tia, irmã do meu pai, e meus 4 primos pequenos (são trigêmeos de 3 anos e um dois anos mais velho). No final da tarde, minha mãe olhava pela janela impaciente. Acho que ela sabia de algo que eu não sabia sobre a comemoração-surpresa-não-tão-surpresa-assim da Mariana. Provavelmente ela veio perguntar quais eram os planos para o dia e se ela podia tomar conta da noite.

Não demorou muito para Caio tocar a campainha. Ele estava de terno e gravata e eu estava de pijamas. Deu um passo para dentro e me tomou num abraço.

— Kate! Parabéns!

— Obrigada! - murmurei.

— Mariana me mandou vir aqui para te chamar para a festa! Surpresa! Não que você já não soubesse! Conhece minha irmã, né? - ele disse, rindo, ao me soltar do abraço.

— Sim, desconfiei! - respondi também dando um sorriso. - Mas olha isso! - apontei para sua roupa. - Eu preciso usar um vestido longo?

Ele encolheu os ombros em constrangimento.

— Ah, não. É que eu não vou poder ficar para a festa de vocês. Tenho um Congresso em outro bairro. Por isso estou arrumado assim – respondeu, para minha tristeza. - Espero que você não fique muito chateada. Podemos comemorar outro dia, se você quiser.

— Não, tudo bem - respondi, tentando manter o sorriso no lugar. - Só estou desapontada porque não vou precisar usar um longo, afinal.

— Você pode usar um longo, se quiser. Ou esse pijama também. Vai ficar linda de qualquer maneira - disse, se aproximando de novo e beijando minha bochecha. - Aproveita sua festa. Parabéns.

Assenti muda, observando-o enquanto ele se afastava. Caio não ia ficar pra festa, não me deixou nenhum presente e nem sequer parecia ressentido de não participar de meu aniversário. Virou-se para acenar, antes de entrar no seu carro, manobrar e sair da vila sem olhar para mim novamente. Claro, nós não éramos um casal, mas isso doía um pouco. Especialmente quando eu não conseguia parar de pensar que, provavelmente, sua "conferência" se chamava Pri. Olhei para casa deles e avistei Mariana, já devidamente vestida em um vestido preto cheio de paetês que ressaltava seus cabelos ruivos, acenando do hall de entrada muito animada.

— SURPRESA!!!!!!!

Eu sorri, fazendo uma cara de quem não estava acreditando naquilo. Ela pareceu ainda mais animada.

— Vou me arrumar e já apareço aí.

Nunca fui muito fã de grandes festas para comemorar meu aniversário, mas Mariana sempre foi. Por isso, já estava acostumada. São 18 anos comemorando juntas e 18 anos de grandes festas, das quais as últimas cinco ela me fez "surpresa" e nunca desconfiou que, talvez, eu já soubesse. Nunca contei a verdade para ela também.

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