Capítulo 13 - Boa o suficiente

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Quando saí - com o cabelo mais ou menos controlado (sem arroz) e só isso - Mariana já tinha voltado para sala. Todavia, Caio estava parado na porta da cozinha me olhando como se quisesse me afogar na privada. Obrigada, vida!

— Katerine - ele grunhiu quando percebeu que eu o vi.

Se tinha algo mais estranho do que ouvir Roberto me chamando de Kate era ouvir Caio me chamando de Katerine. O que fazer? O que falar? Como lidar? Fugir para as montanhas é uma opção?

Antes que eu pudesse pensar em uma resposta para qualquer uma destas questões (exceto sobre fugir para as montanhas. Não, não é opção), Caio me puxou e me prendeu contra seus braços, na parede do corredor. Ele tinha uma mania irritante de fazer isso, mas normalmente fazia isto para me beijar. Desta vez, parecia mais perto de querer me matar.

— Ooi Caio - disse, tentando soar calma e confiante, mas provavelmente soando como uma criança pega fazendo besteira. — O que houve?

— Como assim o que houve? - ele gritou. Ou fez o mais perto de gritar que era possível considerando a proximidade com a sala. — Que porra você está fazendo com o Roberto?

Eu já tinha visto Caio irritado antes. Muitas vezes por causa do Flamengo, algumas vezes por causa da Mariana e outras poucas por causa de mim. Todavia, eu nunca tinha visto Caio daquela maneira. Ele estava transtornado. Encolhi meus ombros em resposta, metade assustada e metade nervosa sobre o que raios eu ia responder. Algo neste gesto fez com que ele mudasse de estratégia. Ele suspirou, passando a mão pelo rosto, como se estivesse cansado daquela conversa, que nem sequer tinha se iniciado.

— Desculpe, não precisa ficar assustada - ele disse em um tom mais ameno, libertando-me do cárcere entre seus braços.

Eu poderia ter aproveitado para fugir. Voltar para sala e me esquivar das respostas. Eu poderia, inclusive, ter tentado fugir pras montanhas (era uma opção mais viável agora), mas não o fiz. Subi os olhos para encontrar os dele que, apesar de sua aparente tranquilidade, continuavam exprimidos de ódio.

— Não voltei com o Roberto, Caio.

Percebi suas feições relaxarem, mas por pouco tempo. Ele respirou fundo antes de perguntar:

— É a minha irmã, não é?

Eu me encolhi de novo, involuntariamente. Ele percebeu, mas, apesar de ter certeza que meu gesto por si só já era a resposta que ele precisava, me forcei a responder mesmo assim:

— Você deveria perguntar isto pra ela e não pra mim, não acha?

Ele virou de costas para mim e começou a andar de um lado pro outro no curto corredor. Aparentemente cheio de ódio, percebi, observando-o dar um murro com as duas mãos na parede do corredor da minha frente.

— Caio! - gritei, quando senti que ele se preparava para mais um.

Ele voltou-se na minha direção, abaixando as mãos, mas mantendo-as apertadas em punhos.

— Roberto não é uma má pessoa - me ouvi dizer. - Ele não é a mesma pessoa que era quando nós namorávamos...

— Ele é um filho da p...

— CAIO! - repreendi, apontando um dedo na sua direção. - Cala a boca! Deixa eu terminar de falar!

Ele deu um passo pra trás, apoiando-se na parede socada do corredor, nos separando por uns trinta centímetros e me dando espaço para respirar e pensar melhor no que dizer.

— Eu não sei direito o que está acontecendo entre a Mari e o Roberto porque ela não me conta nada muito consistente sobre o assunto - assumi. - O que eu sei foi Roberto que me contou...

Tiete!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora