Pizza

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-No dia seguinte ligaste-me. Querias levar-me a sair, mas os meus pais nunca o premitiriam. Não lhes chegara a pedir autorização devo confessar. A verdade é que sempre fui cobarde. A ideia de enfrentar os meus pais era tão absurda na minha mente que eu deixara de lhes pedir permissão para nada, apenas recusava todos os convites que me eram feitos com uma desculpa inventada. Isso fez-me perder muitos amigos. Não que eu alguma vez tenha tido muitos, mas mesmo assim eu podia considerar-me um pouco solitária. Esse facto não me afetava como às outras pessoas. Eu gostava da solidão. Ela ajudava-me a pensar. E este é outro dos motivos porque te odeio: por me teres mostrado que a solidão não é melhor do que a tua companhia. Recusei o convite dizendo que naquele dia teria um almoço de familia. Era mentira. Os meus pais nem estavam em casa para eu lhes fazer tal pergunta. Eu estava sozinha. Olhando a televisão de forma alegre pelo filme que acabarar de colocar. E então a campainha tocou. E eu sabia quem era. Eras tu. Tu e as tuas pizzas de fiambre, queijo e cogumelos. Tu sabias que eu te tinha mentido. Eu atrapalhei-me ao ver a minha mentira ser descoberta, mas não pareces-te importar-te. Sentaste-te no sofá e abris-te a a caixa que me fez roncar de fome. Não protestei. Não valia a pena. Apenas me aconcheguei a teu lado demasiado envergonhada para falar. Alice começava agora a cantar no ecrã. E vi-me surpreendida quando te vi cantarolar com ela. Estavas concentrado. Descobri depois a tua paixão por Disney. Adorei saber desse ponto em comum, mas odiei que soubesses aquela musica de cor. Ainda por cima tinhas uma linda voz. As pizzas foram desaparecendo ao longo do filme, lembro-me de reparar como comias muito. O filme manteve a nossa atenção focada, mas o fim troxe-me insegurança. Não sei porquê. Tu começas-te logo a conversar comigo. Fizeste-me imensas perguntas. Eu respondi a todas e naquela tarde tu conheces-te mais uma parte de mim. Eu sorri. Era impossível não sorrir para as tuas piadas clichês. Eu odiava clichês. Os teus em especial. Mas odeio ainda mais pizzas de fiambre, queijo e cogumelos. Passei a odiá-las depois de me teres deixado. Elas lembravam-me de ti. Porque aquelas foram apenas as primeiras de muitas e muitas. Porque, por um motivo que desconheço, sempre que comíamos juntos eram as mesmas pizzas. As mesmas pizzas do pequeno restaurante na esquina. E eu odeio que me tenhas feito odiar as pizzas que eu tanto gostava.

Odeio amar-teOnde histórias criam vida. Descubra agora