Um cigarro

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-Depois de te expulsar de minha casa só te voltei a ver no inicio da escola. Sei que te lembras desse dia. Estava frio, um frio estranho que não costuma acompanhar o inicio das aulas. O meu humor estava péssimo. Para falar verdade...tenho ponderado no facto de realmente ter um feitio lixado como costumavas sempre dizer. Acho que tinhas razão.
Como estava a dizer...o dia frio fez-me desejar um cigarro mais do que tudo naquele momento. Era um de meus muitos vícios. Um que eu sabia que teria de largar, mas não estava realmente disposta a isso pelo conforto que cada entrada de fumo nos meus pulmões me proporcionava. Era como se ficasse mais leve depois de cada bafo. A maioria das pessoas não compreendia, mas claro que tu não me julgas-te. Não! Tu apenas apareces-te a meu lado, como se nada fosse e esticas-te o teu cigarro acesso na minha direção. Eu não queria, mas aceitei. E odeio-me por ter aceite aquele cigarro. O primeiro de muitos. E odeio-te por mo dares.
Odeio-te por teres entrado na minha escola, mesmo depois de saber que não o fizes-te por mim, mas sim porque os teus pais assim o quiseram. Mesmo assim odiei-te por isso porque essa tua entrada faria com que te visse todos os dias. E eu queria ver-te todos os dias e odiava esse facto.
Fumei o cigarro ao teu lado em silêncio, sem nem proferir um obrigado e tu sorriste torto para mim. Não tive coragem de perguntar o que fazias ali porque no fundo sabia a resposta e queria adiar o meu confronto com a realidade. Mas eu sabia. E eu estava certa. Seguis-te pelo mesmo corredor que eu e paras-te na mesma porta. E então eu soube que eras ele. Que eras Adam...o novo aluno. Entramos juntos na sala, interrompendo a apresentação da professora que nos olhou mal humorada comentando a nossa falta de pontualidade. Sentei-me. E como é óbvio, sentaste-te a meu lado. E colocas-te outro papel na minha mesa. Serei honesta quando te digo que tive receio de o abrir, mas abri. Como sabias que eu faria. Dizia:
"Eu sei como é sentires-te diferente e o quão dificil isso é"
Depressa soltei um sorriso involuntário ao reconhecer a frase do filme da bela e mostro que me apanhas-te a ver uns dias antes. A professora notou e tu também pelo que correspondes-te ao meu sorriso de imediato. E então o papel foi rudemente arrancado de minhas mãos pela professora que fez questão de o ler em voz alta. Ficou desapontada ao não compreender a afirmação, pelos vistos nunca tinha visto aquele filme. Senti pena por ela. Eu amava aquele filme e tive pena que ela nunca tenha tido a oportunidade de o ver. E então,depois de um momento de reflexão pouco esclarecedor, perguntou se nos conheciamos.
Tu disses-te sim, sem hesitar. E eu disse não. E esse é outro dos motivos porque te odeio por teres dito sim. Por acreditares que me conhecias verdadeiramente porque tinhamos partilhado um banco, umas palavras, uns papeis e um cigarro. Eu achava que não era possivel. Mas tu sabias que sim...que já me conhecias. E eu odeio-te por saber que estavas certo.

Odeio amar-teWhere stories live. Discover now