Perdoe-me pelo que eu me tornei

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  Eu não sou o único filho? Isso não me abala muito, já vi muita coisa e fiquei sabendo de muitas histórias em meus anos de estrada

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  Eu não sou o único filho? Isso não me abala muito, já vi muita coisa e fiquei sabendo de muitas histórias em meus anos de estrada. Mas cara, são meus pais.  Quando é com a gente, a surpresa bate. 

- Mãe.... 

- Eu sei, você já disse que eu deveria descansar. Mas chegou o momento em que  preciso, eu devo falar. Agora que seu pai não está mais com a gente, quero que você saiba primeiro por mim, pois uma hora ou outra esta história vai aparecer. Já sufocamos a verdade por tempo demais, vocês dois são maiores de idade e já está na hora dessa página ser revelada. E virada.

- Nós dois...

- Victor. Seu pai tinha uma namorada antes de casarmos. E dói dizer isso, mas acho que ele nunca esqueceu dela. Eles terminaram, nós nos conhecemos e começamos a namorar. Até acabei topando com ela e  logo de início não fui com a cara dessa moça. Era evidente que os dois ainda gostavam um do outro. Não sei por que terminaram o namoro, e não interessa, no final eu que fiquei com o seu pai.

- Mãe.. 

- Espera. Só que não tinha acabado por aí. Depois de um tempo, essa moça casou também, teve uma menina e tudo parecia bem. Mas há quatorze anos atrás, o Geraldo, seu pai, pediu para ter uma conversa comigo. Disse que não conseguia mais esconder esse segredo, que eu era a esposa dele e merecia saber. Ele encontrou a antiga namorada, numa festa há muito tempo atrás, e eles acabaram dormindo juntos. E ele tinha certeza de que a menina era filha dele. E ele foi me contar só quando ela já tinha dez anos! Mas enfim, não posso ficar brava com seu pai. Ele era um homem bom e justo. Mesmo nervosa, concordei que ele deveria sim continuar a fazer o depósito em banco que fazia desde que descobriu que era pai daquela menina. Ele fez mais que isso, deu emprego a ela. 

- Porr.. Poxa, mãe! Cê tá falando da Suzana?!?

- Sim. 

- Eu a vi no funeral. 

- Sim. Mas só ela. A mãe dela e eu não nos falamos até hoje, e  prefiro que continue assim. 

- Será que o pai fez algum testamento para ela? 

- É possível. Seu pai nunca deixou de falar com a mãe dela para ver como estava, e mesmo não gostando da situação fiz o possível para apoiá-lo. A Suzana ainda não sabe, talvez agora a mãe dela acabe contando.

Fico pensando. Eu senti algo diferente a primeira vez que vi Suzana. Não entendia o porquê. Fico contente e ao mesmo tempo apreensivo, como serão as coisas daqui para frente? E se não sabe ainda, quantas possibilidades lhe foram roubadas?

Cara, eu tenho uma irmã!

Perguntas não param de ressoar em minha mente:E então, Victor?  O que vai ser? Voltar para o apartamento e para sua vida largada? Continuar sua vida largada só que aqui na casa da mãe? Conhecer a empresa e ver se trabalha lá, já que a vida de músico está parada há tanto tempo? Sair correndo daqui e me enfiar no ecstasy e no álcool para esquecer temporariamente este fim de semana? 

O que vou fazer a partir de amanhã?

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Novamente me debruço no vaso. Não há mais nada para sair,porém continuo muito, muito enjoado.

- Victor! Victor!

- Tá tudo bem, mãe, não esquenta.

Não sei nem como vim para casa da minha mãe e não para o meu apartamento, levando em conta que estava em modo automático. Mas aqui estou. Pateticamente abraçado ao vaso depois de uma noite em claro na balada.

Fiquei tantos dias sem álcool nem ecstasy, e depois de minha mãe contar a história sobre minha irmã que há poucos dias eu nem sabia que existia, pensei em esquecer tudo.. Em fingir que nada havia acontecido. Fui para a danceteria de sempre, fingindo que sequer havia parado de ir lá. Muito ecstasy, muita água, muito álcool. Alguns flashes lampejam em minha mente: Longos cabelos cacheados de alguma mulher, luzes piscando, alguém gritando "quem é vivo sempre aparece", um táxi.É, acho que foi de táxi que vim para casa.Só não entendo que pequeno raio de lucidez me acometeu para eu ter vindo para cá ao invés de ir ao meu apartamento.

Nossa, estou me sentindo um lixo agora. E não adiantou nada voltar ao que eu fazia antes. Da mesma forma que afogar minhas mágoas nas baladas e no ecstasy não tirou a dor de perder minha banda, também não apagou a morte do meu pai, não sumiu com a Suzana nem com nenhuma outra história. Porcaria de válvula de escape que não serve para mais nada, e com a qual não consigo romper. A vontade agora é de sair correndo e passar o dia trancado no apartamento, ou pegar uma grana em algum canto e me entupir de qualquer porcaria forte, que tire a dor, a consciência, que tire tudo. Por que meu pai tinha de morrer agora, levando a lembrança de um filho tão desgraçado como eu? Por que eu tinha de perder minha mão e ficar cheio de cicatrizes naquela porcaria de acidente? Por que eu tinha de inventar de voltar aqui pra casa e deixar minha mãe preocupada?

Respiro fundo e resolvo sair do banheiro. Minha dor é forte, porém eu vim para cá com um objetivo: dar apoio para minha mãe. Embora não saiba que porcaria de apoio um lixo como eu possa dar. Me sinto caindo de novo naquela espiral de autopiedade na qual fiquei preso anos a fio. Este tormento não vai terminar nunca?

- Filho, tá melhor?

- Que horas são?

- Meio-dia.

- Caraca!

- Tudo bem, pelo menos você dormiu um pouco. Eu não preguei o olho... Vou tentar descansar um pouco. Tem comida na geladeira, esquente o que você quiser. Ah, a Ana lá da empresa passou por aqui e deixou dois envelopes, um pra você e um pra mim. Ela disse que o seu pai havia pedido que entregasse.

- Tá, depois dou uma olhada.

Minha mãe se recolhe. Coitada, tão abatida. Devo ficar mais alguns dias ao menos. Depois vejo o que faço com o apartamento e com minha vida. Como qualquer coisa que encontro e vejo a ponta amarela do envelope onde larguei. Abro puxando uma ponta, por pouco não rasgo junto seja o que for que tem dentro.  Começo a ler....

Várias Facetas, Várias VidasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora