CAPÍTULO 14

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"Eu quis
No alvo estou
Foi por um triz
Só arranhou
Na mão
Do atirador
As facas que
Eu mesma concedi"

Um Leão, Pitty


– E então amor, o que tem feito nesses últimos dias que não nos vimos? – Kaio limpara os lábios com o guardanapo após terminar sua lasanha, e bebeu um gole do vinho branco suave enquanto esperava, com os olhos cravados nos meus.

– Ah, as mesmas coisas de sempre – dei de ombros, pousando a taça de vinho na mesa – estudar, estudar, ir ao cinema, jantar com os amigos... essas coisas.

A expressão inerte de Kaio e os olhos sustentando meu olhar, mostrava que sua análise sobre mim era minuciosa e calculada. Era óbvio que ele estava desconfiado, pois eu até agora não estava mostrando expressões e gestos de muito afeto, como ele sempre estivera acostumado, e some isso ao fato de estarmos distantes há alguns dias desde que fomos ao motel.

Devido à minha decisão de hoje, creio que não voltarei a ser o mesmo com eles. Algo mudou após eu decidir que os testaria. Algo mudou quando eu abrira o arquivo de memórias perdido em minha mente, mudou quando trouxe Jorge para meus pensamentos, fazendo-me lembrar do crime que cometi e da forma como eu traíra minha mãe, a pessoa que mais me compreendeu quando revelei toda a verdade.

Quero dizer, quando modifiquei a verdade.

Pois ainda sustentava e escondia que eu era sombriamente atraído por Jorge. Sentia uma atração descomunal e irresistível por aquele homem que era quase como um pai para mim.

Tive que matá-lo, pois eu sei que à medida que o tempo passaria eu ficaria mais fascinado por Jorge, e eu temia que mamãe pudesse descobrir e sentir-se traída e me culpar pelo resto da vida. Tive que matá-lo também por que, eu nunca fui a favor de traições e via minha mãe sendo amada por ele quando estava em casa, e quando saía, fodia o filho dela em todos os lugares da fazenda. Traição e mentiras nunca foram coisas que eu realmente pudesse adorar, mas aprendi, vendo minha mãe ser traída pela pessoa que amava com seu próprio filho, que o amor é uma farsa. Pode haver paixão, desejo, carinho, atração física ou envolvimento no sexo, mas amor, não. Fora que Jorge estava saindo do controle, sendo violento e manipulador, forçando-me a transar quando eu não queria.

Voltei a visualizar os olhos de Kaio vidrados nos meus e instintivamente, sorri.

O que foi?

– Você estava distante nos últimos dias Victor – ele piscou algumas vezes, inclinando se para mais perto de mim na mesa. – Pode me falar se está acontecendo alguma coisa, você sabe.

Sentindo sua mão delicadamente pousar em cima da minha, e seus dedos macios (que eu adorava chupar) faziam carícias lentas e calmantes nas costas da minha mão, respirei fundo e lá ia eu contar mais uma mentira.

– Sinto falta da minha mãe e da minha irmã – confessei, escorando-me nas costas da cadeira. – Me sinto pressionado aqui, sabe. Faculdade, trabalhos... sinto a falta da minha família, apesar de que minha mãe está plenamente satisfeita por eu estar indo bem na faculdade.

– Você será um ótimo psiquiatra – Kaio sorriu.

– É por que você me influencia a ser um bom medico no futuro – contornei o assunto, pegando sua mão e sorrindo radiante para ele. Ficamos sorrindo um para o outro durante alguns segundos. – Te amo Kaio.

– Também amo você Victor.

– Não quero que pense que só porque não nos falamos muito nos últimos dias, que eu esteja distante ou sem vontade de estar com você. Sei que é difícil nos vermos sempre, mas quero que entenda. Que sempre que eu puder, eu estarei contigo.

– Entendo sim, até porque eu também sou muito ocupado. A clínica toma grande parte do meu dia-a-dia e ainda tem as aulas que ministro na universidade. – Kaio parecia desconfortável na cadeira – Desculpa se te pressiono demais às vezes. Só queria que entendesse que não aguento mais ficar um minuto longe de você Vic.

Saltei da cadeira e fui para seu colo. Kaio me agarrara com suas mãos delicadas e fortes enquanto nosso beijo se estendia em grandes encontros com nossas línguas. Pude sentir seu perfume amadeirado que me enlouquecia, e o toque poderosamente magnifico dos seus lábios pressionados contra o meu fizeram com que todo o álcool do vinho subisse para minha cabeça.

Agarrei sua nuca com os cotovelos apoiados nos seus ombros largos enquanto ele, acariciava minhas costas por debaixo da camiseta. Kaio estava ofegante logo de início e pude sentir que seu coração acelerar por baixo da camisa social azul clara que usava.

– Você me acende logo quando me beija... – sussurrou Kaio no meio dos beijos.

A coisa toda começava a esquentar em uma velocidade impressionante. Me perguntei enquanto o beijava e sentia seu cheiro, se Kaio já não estava aprovado nos testes. Mas enquanto ele beijava meu pescoço e meu amiguinho começava a dar sinal de que estava acordando, pensei que estava sendo precipitado demais em declará-lo vencedor. Esperaria um pouco mais.

Não resistimos e a sobremesa foi uma transa deliciosa. A luz do luar que entrava pela janela fez tudo ficar ainda mais emocionante e prazeroso.

Após Kaio gozar deliciosamente dentro da minha boca, fomos tomar um banho de banheira juntos. Ficamos mais de duas horas deitados na banheira, um de frente pro outro, cobertos de espuma.

Já passava da meia-noite quando deitamos para dormir. Ambos de cueca e camiseta, deitamos e eu me aconcheguei no peito musculoso de Kaio, sentindo as batidas do seu coração.

Era incrível como Kaio acreditava em tudo o que eu dizia, nas mentiras ou nas modificações. Eu estava começando a não querer mais mentir, porém a essa altura, com mais um relacionamento e o affair com Duda, eu já não tinha mais escolha. Era mentir ou fracassar. Era esconder ou perder tudo.

Não poderia me culpar também por isso, pois desde que a humanidade é humanidade, que os seres humanos mentem, enganam, omitem a verdade. Eu era só mais um apesar de às vezes sentir culpa e remoer o remorso dentro de mim por ser tão falso.

– Amor, quero te dizer uma coisa... – Kaio, que estava deitado de barriga pra cima, acariciando minhas costas delicadamente, me fizera ter um pequeno susto ao falar, trazendo-me de volta a realidade, enquanto, aconchegado em sue peito, levantei-me um pouquinho para olhar seu rosto.

– Fala.

Kaio levantou-se, tirou uma pequena caixinha de seu blazer e voltou a se sentar na cama. Sentei-me também, curioso e com uma sensação estranha no peito.

Ele aproximara-se e me beijara de leve, mas eu sustentei nosso beijo carinhoso por alguns segundos até que Kaio segurara meu queixo com uma das mãos.

– Te amo Victor – sussurrara. – E por isso, quero te pedir uma coisa.

Ele abrira a caixinha preta e lá estava um anel de prata pura, a argola era larga e poderosa dentro daquele veludo preto. Meus olhos se arregalaram, mas tentei não demonstrar espanto, apenas fiquei quieto esperando mas minha mente fervilhava como um vulcão.

Kaio chegara mais perto do meu rosto.

– Aceita se casar comigo?

O Destruidor de Corações (Romance Gay)Where stories live. Discover now