CAPÍTULO 5

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"A dissimulação e a perfeição são traços maravilhosos
Um produzirá amor, o outro ódio
Você me encontrará nos corações perdidos
Sob o nome 'Estou procurando um novo começo
E não pertenço a ninguém'."

Homewrecker, Marina and the Diamonds em Electra Heart

Gustavo saíra do apartamento após socar meu rosto e deixar-me caído ao chão. Logo senti que teria que usar óculos escuros e bolsa de gelo por um bom tempo. Revelar toda a verdade só mostrou o que eu suspeitava, Gus era uma pessoa extremamente transtornada e agressiva. Tudo bem vai, eu tenho minha parcela de culpa e Gus não mostrou nada do que eu já não sabia.

Mesmo com o olho inchado, eu resolvi dar uma corrida na orla do rio Guaíba. Calcei os tênis de corrida, shorts e uma regata. Apanhei os óculos escuros na gaveta da cômoda e o IPod e desci o elevador fazendo os alongamentos iniciais. Cinco minutos depois de sair do prédio, eu já estava correndo pela orla. Pois eu morava em frente ao Guaíba.

O calor do sol e daquele domingo azul, juntamente com a brisa agradável que vinha do rio transformaram a sensação de liberdade que eu estava sentindo ainda mais nítida. A cada metro percorrido eu aumentava o ritmo, e podia sentir a endorfina brotando dos meus poros. Gostava de sol, gostava do movimento das pessoas, gostava do calor e do vento. Nada mais importava agora, senão eu, a música do IPod (Imagine Dragons), a brisa, o sol e o céu azul. Eu estava livre. Eu estava feliz.

Não é do meu feitio aturar possessões e cobranças, Gus sabia disso, mas por outro lado eu estava preocupado com ele pois não sabia o que Gus poderia ser capaz de fazer. Tanto a mim quanto a si próprio. Ele possuía muito dinheiro (tá certo, não exatamente ele, seus pais no caso), e poderia muito bem contratar um matador de aluguel para me matar, ou cometer suicídio ou até mesmo me torturar... Balancei a cabeça negativamente. Nunca foi de sua índole ser paranoico Victor Andrade. Contenha-se!

Aumentei a velocidade da corrida, no IPod tocava The Kooks agora, o que me fez esquecer todos estes pensamentos insanos sobre Gustavo ser um psicopata e me concentrei em outra coisa ou em outra pessoa: Kaio. Logo depois de Gus me deixar caído no apartamento, meui namorado mais velho ligara-me convidando para uma viagem ao Rio de Janeiro. Ele tiraria alguns dias de férias e como raramente viajamos, decidira que passaríamos alguns dias na cidade maravilhosa. Era tudo o que eu precisava agora. Precisava aproveitar cada minuto de sol que ainda me restavam das férias da faculdade. Pois logo depois, a tortura começaria novamente.

Era bom ter a companhia de Kaio. Sentia-me eu mesmo quando estávamos juntos. Sorri, e logo depois do sorriso, balancei a cabeça para tirar da mente a possibilidade de estar realmente apaixonado por Kaio.

Até parece! Eu, Victor, apaixonado? Justo eu? Não... Eu não poderia, não poderia colocar tudo a perder por um sentimento idiota chamado amor. Esse sentimento que pode destruir o mundo e que as pessoas tolas acham que existe, só me trouxe problemas no passado. Não arriscaria por tudo a perder o que já conquistei até agora, por causa das minhas célebres atuações com meus namorados. Não ia rolar.

Ao chegar ao Parque Marinha, pude sentir toda a umidade do ar presa por entre as arvores. Nem o calor fora de época poderia tirar o frescor que aquelas árvores verdes proporcionavam. Respirei algumas vezes para recuperar o folego, tirei os fones de ouvido e a regata, que estendi no gramado. Fiz algumas séries de abdominais e logo que mudei a posição do meu corpo para fazer algumas séries de flexões, pude sentir que olhos me vigiavam.

Por algum tempo fiquei imóvel, com os braços ao chão e as pernas retas. Meu bíceps e tríceps já estavam doendo quando finalmente, tomei coragem para ver quem me vigiava (temia que minhas paranoias sobre Gus estar me vigiando serem verídicas e ser ele o cara que estava com os olhos cravados em mim). Mas respirei aliviado quando um cara, que aparentava ter seus quarenta anos, me fitava do outro lado do parque.

Iniciei minha série de flexões quando novamente olhei para o sujeito para reparar em sua aparência: Pele bronzeada, corpo musculoso e bem definido, peludo e barba meio grisalha. O cara alongava-se em um banco a poucos metros do gramado onde eu me encontrava. Não pude ver com era o estilo de corte do seu cabelo, tampouco sua cor, pois estava de boné.

Logo, ele percebera que eu o estava fitando e sorriu. E eu, como que por instinto sorri de volta, um sorriso doce e simpático. Foi então que ele tirou sua regata, exibindo um corpo digno de algum soldado romano. Sem querer, eu parei de fazer minha última sessão de flexões e fui ao seu encontro. Não ligava se estava suado ou sujo, pois a medida que eu me aproximava, ele sorria ainda mais, e eu enfim soube que um novo começo estava por vir.

O Destruidor de Corações (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora