Capítulo 26

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Estávamos lá. Estávamos lá mesmo. Mesmo que não parecesse; o clima era nublado, sem sol e com nuvens escuras. O vento era sombrio, fazendo o frio intenso nos atravessar. Atrás de nós, estava a porta pela qual saímos, a mesma porta que usávamos para ir ao mundo humano. Shisar não esperou que alguém falasse algo, ele só andou com Hylla no colo, apressado para levá-la à enfermaria. Ravena e eu o seguimos, e de certa forma, eu estava preocupado.

A aldeia estava movimentada, com elfos conhecidos vigiando a área; com certeza, o clima estranho deixou todos aflitos. Porém, quando nos viram, ficaram tensos e curiosos, mas pude detectar alívio e felicidade, ou era raiva.
Reconheci Rinvan parado na varanda de seu chalé, e quando nos viu, correu na nossa direção.
— O que houve?— Rinvan perguntou e eu não tinha certeza se era sobre o clima ou sobre Hylla.
— Vamos explicar tudo, mas precisamos cuidar de Hylla— falei
— Tragam ela— Rinvan tomou a frente

Hylla foi posta no chalé dos curandeiros, e ficou sendo cuidada lá; Shisar se recusou a sair, mas Ravena e eu precisávamos explicar as coisas para Rinvan. Shisar entendeu, e disse que estava bem.
Segui ao lado de Ravena, sem conseguir me acostumar com a tensão no estado de Verum. Queria saber onde estava o sol, o céu azul, e a beleza dos bosques. Tudo que eu via, era um clima de morte, e ameaça de uma chuva longa.

No chalé de Rinvan, Ravena pousou o copo sobre a mesa, fazendo seu padrasto se afastar com aflição. Ele nos olhou confuso, e ao mesmo tempo, com raiva.
— Por que isso está aqui?!— Rinvan tentou não gritar
— O templo foi destruído— contei— Rodthal não conseguiu pegar o copo graças a ajuda dos aequitas, tivemos que trazer ele.
— Eles virão atrás disso— Rinvan afirmou
— Vou guardar no palácio— tentei amenizar a situação
— Traidores podem entrar— Rinvan lembrou— Nada está seguro. Viu o clima? Isso quer dizer que os monstros de Meribella nos acharam.
— Eu sei...— suspirei— mas por que esse clima?
— É quando o fim está próximo— Rinvan disse em um tom triste
— Onde está minha mãe?— Ravena perguntou
— Dormindo — Rinvan olhou para ela— São cinco da manhã.
— Ah...— Pisquei surpreso— Por que todos estão lá fora?— apontei
— Um trovão ricocheteou no céu há alguns minutos, todos decidiram ficar apostos— ele explicou
— Entendi— assenti
— O que houve com Hylla?— Rinvan sentou, pegando o copo em mãos
— Rodthal lançou algo nela— contei
— Feitiço?— Rinvan piscou assustado
— Foi com um cajado— Ravena deu de ombros
— Vou chamar Tom— Rinvan levantou— Vão descansar. Vocês precisam.
— Fica com o copo?— perguntei
— Melhor não— ele me entregou

Revirei os olhos, pegando o copo sem nenhum problema.

O meu chalé estava do mesmo jeito que eu lembrava; minha roupas estavam horríveis, e Ravena não ficou para trás. Tirei minhas armas da cintura, e as coloquei sobre a mesa, peguei o copo e o coloquei em uma gaveta, torcendo para que nada o fizesse sumir. Me virei para Ravena, vendo que ela estava nua já. Suas roupas estavam jogadas em um canto, e ela me olhava sem nenhuma expressão. A última vez que a vi nua, foi um dia antes de irmos na busca, e vê-la assim agora, me fazia sentir coisas fortes e descontroladas. Me aproximei dela, analisando cada marca nova e já conhecida de seu corpo. Ela havia ganho um arranhado no braço, um corte na clavícula, um roxo no quadril, e pequenos cortes nas pernas; mas ainda familiar era a cicatriz que tinha na barriga, devido a uma facada que havia levado de uma fúria. Seu rosto estava pouco machucado, apenas com um corte na testa e no lábio.
Ravena segurou na ponta de minha blusa e a puxou para cima, arrancando ela do meu meu corpo. Deixei que ela fizesse, não me importava nada disso. Ela continuou, tirando minhas calças e peças, e as jogando para longe. Eu não ia ficar com aquelas roupas mesmo, não me importava onde elas iriam ficar.
Ravena ficou com o rosto próximo ao meu, dividindo o mesmo espaço espaço ar.
— Banho?— ela sugeriu
— Banho..— concordei

Sobre a água familiar do chuveiro, Ravena e eu tirávamos as camadas de sujeira que haviam se acumulado, e nessa oportunidade, mantínhamos nossas mãos no corpo um do outro. Era tão familiar tê-la para mim, tão bom termos voltado em segurança. Passei as mãos no cabelo de Ravena, sentindo o peso dos cachos como algas encharcadas; deslizei por seus ombros, seguindo o trajeto pela clavícula, seios, barriga e virilha. Ela pôs as mãos sobre as minhas, incentivando meus toques. A água já não era capaz de conter o fogo que atravessava meu corpo, trazendo vontades incontroláveis, consequentemente. Ravena devia estar da mesma forma, pois se virou rapidamente, enlaçando meu pescoço e beijando-me ferozmente. Eu a ergui pelo quadril, ela envolveu minha cintura com as pernas; nossos corpos se atritando só me deixavam mais eletrizado com a situação.
Fui deslizando pela parede, ficando sentado no chão e deixando Ravena em meu colo. Meus lábios desceram para seu pescoço, no instante que nos conectamos, nos perdendo em nosso próprio desejo carnal.

   Estávamos secos, vestidos e saciados. Ravena havia colocado uma saia verde e uma blusa até o umbigo; suas botas combinavam com a roupa, deixando ela mais sexy. Eu pus uma calça, minha blusa cinza e meu casaco com capuz, pondo por último meu sapato preto. Não deixei minhas adagas para trás, não tendo uma boa lição desde que fiz isso pela última vez. Ravena também não deixou a sua, mas parecia relutante em deixar o copo aqui.
— Está tudo bem— afirmei— ninguém vai pegar
— É, acho que sim— Ravena suspirou
— Que foi?— perguntei
— Hylla vai ficar bem?— ela me olhou
— Vamos vê-la— estendi minha mão e ela ergueu a mão com o anel

Sorri. Ela havia mesmo aceitado o meu pedido, estava certo disso.
Saímos do chalé de mãos dadas, e eu ainda estranhava o ambiente do lado de fora.
No chalé dos curandeiros, Shisar estava sentado na varanda; ele não parecia bem, mas também não parecia ruim. Quando nos viu, deu um sorriso rápido, que não nos convenceu.
— Acordou?— Ravena perguntou
— Não...— Shisar suspirou— Mas Tom vai vir avaliar ela.

Uma curandeira saiu do chalé.
— Hylla acordou— Disse ela fazendo Shisar saltar em seu lugar

Nós entramos no chalé, vendo ela sentada na cama de costas para nós. Corremos para sua frente, ganhando seu olhar confuso e assustado. Ela piscou, e apertou a cama com força, como se tivesse medo de nós. Shisar sorriu, mas isso não a fez sorrir.
Ia falar algo quando os olhos dela se encheram de lágrimas, me deixando mais confuso que o normal.
— Quem são vocês? — ela perguntou, nos atingindo com uma força invisível.— Quem sou eu? Me ajudem, por favor.

O Destino de Ravena: O Outro Lado de VerumWhere stories live. Discover now