O Destino de Ravena: O Outro Lado de Verum

Capítulo 23

— Como assim um ceifeiro?!— perguntei enquanto seguiamos caminho
— Meu dom é da morte— Sam explicou de um jeito frustrado
— Você mata as pessoas com um toque?— Hylla indagou
— Eu mando elas para um mundo tenebroso— Sam parou para nos olhar— a teoria é que esse mundo fica dentro de mim, e que podem vê-lo através dos meus olhos quando eles assumem um negro intenso. Mas eu nunca testei. Sugo a alma deles e pronto. Estão mortos.
— Por que não usou isso antes?— Shisar perguntou
— Não é tão simples— Sam rosnou, advertindo Shisar — Sugar almas é algo forte, e se eu fizer isso direto pode influenciar no meu temperamento. Eu sou cruel na maior parte do tempo, e ter almas furiosas dentro de mim não ajuda.
— Mas são só teorias— pisquei
— Dizem que podem ver as almas em meus olhos quando eles ficam negros— Sam debochou— talvez não sejam teorias
— Então, de certa forma, você é limitada— Ravena ganhou o olhar de Sam
— De certa forma— Sam deu de ombros— podemos continuar?
— Claro— assenti

Sam foi na frente, nos permitindo conversar sobre o assunto.
Eu não estava com medo dela; o dom dela me parecia ser maneiro, como uma arma bem rara. Ravena não parecia assustada, só curiosa. Hylla estava pensativa e Shisar me olhava, esperando meus comentários.
— Achei legal — dei de ombros
— Assustador— Shisar opinou— mas incrível.
— Queria ver as almas— Ravena disse me fazendo olhar para ela
— Por quê?— indaguei
— Sei lá— Ravena riu
— Estamos perto?— Hylla perguntou
— Quase!— Sam respondeu
— Ravena...— Hylla chamou— posso falar com você?
— Hã...— Ravena piscou— claro.

As duas andaram mais para frente, impedindo que Shisar e eu ouvíssemos a conversa. Eu fiquei observando as duas, mas meus olhos ficavam mais em Ravena. Nos cabelos longos que chegavam até sua bunda; na cor laranja que me atraía como um farol, no andar firme e sensual. Ela havia mudado desde nossa primeira relação; seu corpo evoluiu, e eu como um mero observador posso comentar isso.
— Cara, o que você tem?— Shisar riu
— Por quê?— Olhei para ele
— Você tá com uma cara de apaixonado tão engraçada
— Ah. Legal.
— Eu tento não mostrar tanto assim.
— Eu mostro— sorri, debochado
— Eu estou meio preocupado com o que vai rolar na cidade das sombras— Shisar comentou
— Por que?
— Porque ninguém se perguntou qual é a chave do templo.

Pisquei vendo que ele estava certo
— Você foi a primeira — ele continuou— quem é a segunda?
— Eu não tinha pensado..— admiti
— Nós só paramos para pensar na missão. Esquecemos disso.
— Acha que Rodthal já tem?— Olhei para frente
— Acho que se Rodthal tivesse, já teria pego o copo
— Como assim?— sussurrei
— Rahel...— ele atraiu meu olhar, mesmo que ele não olhasse para mim— Acho que Rodthal está esperando por nós no templo.

    Já estávamos a mais tempo na trilha; Ravena e Hylla iam na frente. Shisar ficava perto das duas e eu estava mais para trás. Sam estava quase chegando perto de mim, e cada vez que ela fazia isso me deixava tenso; ainda estava esperando que ela falasse algo horrível que nos fizesse entrar em uma luta. Claro que eu morreria. Ela começou a andar no meu lado, lentamente e sem olhar para mim. Eu não puxei assunto, apenas esperei que ela falasse o que queria falar.
— Então..— ela começou— Não falta muito para chegarmos na cidade
— É..— sussurrei
— Qual o plano?
— Hã?— Olhei para Sam
— Acho que já ficou óbvio que Rodthal tá nos esperando— Sam bufou— O que vai fazer?
— Fala como se não fosse nos ajudar— notei
— Achei que eu era só a guia— ela lembrou
— Sam...— estava pronto para implorar— você pode matar Rodthal hoje mesmo.
— Eeeeu?— ela riu— Quer que eu banque a assassina?
— Quero...
— Achei que não fosse pedir— ela piscou
— Vai ajudar?— perguntei
— Vou...— ela sorriu— Tô afim de matar alguém que está planejando coisas.
— Legal...— eu ri
— Por que vai casar com a Ravena tão jovem?— Sam mudou o assunto bruscamente
— Sou o guardião das pedras— comecei— Fui intimado a seguir a tradição.
— Tá. Agora a verdade— ela cruzou os braços

Eu olhei para o chão dando um sorriso tímido.
Eu não vou mentir, usei essa história de tradição para fazer o pedido, até porque não me considero um ser romântico, mesmo que Ravena me diga que sou. Eu não ia pedir por minha conta pelo fato de achar que casamento mudaria minha imagem perante os outros; e dizer que tudo foi por causa da tradição, quebrava essa imagem de Rahel sentimental. Mas lá no fundo, desde que recuperei Ravena, eu sempre quis fazer isso. E Summer notou.
— Ravena morreu— contei— e voltou
— Ela é a escolhida de Hécate?— Sam me fez olhá-la
— Como você...?
— Nós damos um jeito de saber das coisas
— Ah..— pisquei — Tá. Hum... então...Ela morreu, e me salvou mais vezes que eu a salvei. Quando ela voltou, pensei logo em fazer isso..mas..
— Pensou no que os outros iam pensar— Sam entendeu— Sabe, você parece comigo. Mas sabe qual é diferença?
— Qual?
— Que eu não me importo mais— ela não hesitou— meu namorado é um idiota. Um bobo e meio estúpido. Às vezes ele tem um momento inteligente, e o fato de eu estar com ele é porque ele não sente medo de mim. Assim como meu grupo. Mas Derick foi o único que sentiu vontade de namorar comigo sabendo que eu podia matá-lo com um só toque. Ele não ligou. Neguei por muito tempo que gostava dele, até que parei de me importar. Namorar não mudaria o fato de eu ser cruel e furiosa, corajosa e destemida. Parei simplesmente de me importar.
— Acha que devo fazer o mesmo?
— Sei lá— ela revirou os olhos— não dou conselhos, só tô contando.
— Ah, claro— eu ri
— Você parece comigo, mas não tenho orelha pontuda— ela zoou
— Pareço com você?
— Sou mais forte, é verdade, mas digo que você parece nos aspectos de se importar não se importando.
— Ah...— compreendi
— Gente!— Ravena chamou

Olhamos para frente vendo-a parada ao lado de Hylla, sem virar para nos olhar. Sam, Shisar e eu corremos até elas, vendo a longa cidade negra a alguns metros. Havia um portão sombrio com árvores mortas por perto, e muitos monstros rodeando a mesma. Daqui, do alto, podia ver a alta torre inativa, a última que tínhamos que entrar, e mais adiante, um sinistro templo cinza, que nos indicava ainda mais que havíamos chego.