Capítulo 19

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O sol ainda não tinha ido quando paramos em uma caverna perto da praia; Ravena observava o local de cenho franzido, como se achasse estranho algo. Eu gostei; não estávamos tão longe da trilha, e tinha uma praia linda onde eu poderia passear com Ravena, e, segundo Summer, o fenômeno da aurora boreal iria acontecer aqui.
— Ainda não escureceu— disse Ravena— podíamos andar até mais longe
— Aqui está perfeito— Sam discordou—ficamos matando monstro o dia todo, estou exausta. E perto da água é seguro por causa das sereias. Vamos passar a noite aqui, cenoura.
— Você que sabe—Ravena revirou os olhos e olhou para mim— Vou lavar meu rosto na praia.
—Tá bem— assenti— vou preparar um canto para dormirmos
— Tá...—Ravena foi até a água
— Vou buscar frutas aqui perto— Hylla avisou— Não vou me afastar
— Cuidado...— Disse Shisar arrumando o canto deles

Hylla saiu e eu aproveitei esse momento para pegar a concha com o anel de dentro de minha mochila e guardá-la no bolso. Summer não pareceu ter visto devido sua distração com sua faca; Shisar muito menos já que estava de costas vendo as coisas na mochila de Hylla. Eu sentia uma agitação desgovernada dentro do meu estômago, igual quando estava prestes a ganhar uma corrida.

Hylla voltou com umas maçãs e amoras; Ravena e eu comíamos lado a lado, assim como Shisar e Hylla. Sam olhava para o lado de fora, e eu esperava que ela me desse o sinal para sair com Ravena.
Eu havia pensado nesse pedido desde que soube que teria que fazê-lo. Claro que isso foi no fundo de minha mente. Eu não podia correr o risco de receber um não, mas também não poderia receber um sim por receber; então decidi fazer uma análise perfeita da situação e deixar Ravena escolher.
Só de pensar nisso fico arrepiado.
—Bom...— Sam nos chamou a atenção— Vou contar umas histórias. Que tal?
— Adoro histórias— Shisar sorriu
— Também....—Hylla bateu palmas
— Vou passear com Ravena pela praia— avisei, dando um olhar convidativo para ela
— Adoraria—ela corou
— Tá bom— Sam deu meio sorriso

Ravena e eu nos demos as mãos, saíndo da caverna sobre o clima crepuscular.
Fomos para a beira da praia, deixando que as ondas atingissem nossos pés; Ravena sorria para o vento, como se estivesse feliz de alguma forma.
Não entendi. Tínhamos passado o dia inteiro a mercê da morte; eu não via nenhum motivo para ela estar sorrindo assim.
—Que foi?— perguntei
—Estamos vivos—ela me olhou
—Por isso está sorrindo assim?
— Claro...—ela olhou para o chão—e estou rindo de mim mesma por minha atitude com as baratas
— Medrosa— bufei
—Eu não aguento —ela tremeu
— Todo mundo notou...—gargalhei
—Achei que ia querer ouvir as histórias da Sam.
— Já ouvi algumas— afirmei, me sentando na areia longe das ondas

Ravena veio para meu lado, olhando para o céu junto comigo. Fiquei olhando para seu rosto, esperando a expressão de surpresa pela qual me apaixonei, e que passei a lutar para ver. Ela começou.
Piscou três vezes e franziu o cenho; se sentou de forma ereta e olhou para mim. Eu sorri, deixando que ela voltasse a olhar para o céu. Seu olhar se iluminou, e então ela ficou boquiaberta, dando um sorriso descrente e feliz.
— Rahel...— ela Arfou
—Aurora boreal—falei
—É...lindo— ela riu sem crer
—Vem cá..—puxei ela, fazendo ela ficar de frente para mim

Seus olhos vieram para os meus, esquecendo totalmente do fenômeno acima de nós. Neste momento, eu achei que fosse vomitar meu próprio coração.
— Eu quero dizer uma coisa—comecei— mas antes preciso fazer uma análise completa da situação
— Estou ouvindo..— ela piscou confusa
— Quando te vi pela primeira vez, te achei patética— comecei— lembro até hoje; você estava numa lanchonete com seu amigos, tentando ser normal. Fiquei tão incomodado que joguei um bolinho na sua cabeça...
— Foi você?!— ela ficou surpresa
— Foi, deixa eu continuar?— pedi
—Continua..—ela riu
—Tudo que queria era te sacudir e perguntar qual era o seu problema— prossegui— aí você conheceu Verum e voltou, me fazendo levar um soco na cara. Até o momento estava pensando em como te jogar em um pântano. Até mesmo quando você vestiu aquelas roupas cheias de frescuras. Você ficou bonita, mas parecia tão...
—Patética?—Ravena riu
— Isso..—assenti—Aí você entrou no santuário, e fez aquela cara...a cara de surpresa e fascinação. Juro por todos os deuses, nunca tinha visto algo tão... empolgante. Tão lindo. Queria ver de novo. Estou dizendo tudo isso porque, quando te conheci não pensei que havia acabado de conhecer a garota que deixaria minha mente do avesso. Não imaginava que eu te amaria tanto. E ainda me deixa tenso pensar que um dia você pode acordar e querer conhecer outros elfos, e ver que existem outros que fazem melhor pra você. Você nunca foi cantada antes, mas hoje você é, e agora pode escolher.
—Rahel...— ela deu um passo na minha direção— eu podia escolher antes.
—O quê?— franzi o cenho
— Eu já fui pedida em namoro antes de você— ela revelou
— Mas...mas...— respirei fundo—por que você não aceitou?
—Porque eu não gostava de nenhum— ela riu— eles mentiam. Me enchiam de bajulações. E eles não me deixavam à vontade. Você foi o primeiro que me senti bem, que foi sincero comigo até quando eu estava feia, e que nunca mentiu sobre algo que sabia que eu não era boa. Eu amo você porque você é tudo que eu sempre quis.

Puxei Ravena para meus braços e a beijei, sentindo que meus lábios e os dela entravam em combustão. Ravena enterrou os dedos em meus cabelos, e eu apertei sua cintura, sentindo seu coração acelerado. Meu ar estava acabando, e eu ainda não tinha dito o que queria. Me afastei dela tomando ar; tentado recuperar minha voz neutra.
— Sou péssimo em declarações—falei
—Melhor que isso impossível— ela riu
— Ainda não disse o que queria
—Então diga..

Tirei a concha de praia do bolso, sorrindo com a combinação do local. Ravena me olhou confusa e eu abri a concha, revelando o anel de pérola rosa lá dentro.
— Casa comigo, Ravena?—pedi, mergulhando em seu olhar surpreso

O Destino de Ravena: O Outro Lado de VerumWhere stories live. Discover now