Capítulo trinta e dois

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"- Então eu serei rei? - pergunta o garotinho de olhos acinzentados.

- Sim, filho, você sentará neste trono um dia.

- E o Elliot e o Aron? Eles também vão ser rei como eu?

- Não, filho. Só você será rei porque é meu primogênito".

...

"- As reponsabilidades do reino são tuas, meu filho. Em breve será rei e precisa estar familiarizado com tudo".

...

"- Pai, por favor, não quero mais falar sobre isso!

- Como não? Já passou da hora de tu se casar, Christian! Chega de desobedecer as regras. É teu dever com um povo ter uma noiva, para que se torne tua rainha quando assumir o meu trono!

- Não quero me casar, pai! Quero curtir minha vida! Aproveitar minha juventude!

- Chega de dizer asneiras! Você precisar cumprir com seu dever!"

...

"- Você é meu primogênito, Christian".

...

"- Você não é o meu primogênito, Christian".

...

Mentiras.

Tudo o que ouviu quando criança, todas as cobranças e todas as discussões. Tudo isso se resumia a mentiras contadas. Seu cérebro demorou um tempo para processar a informação que mudaria sua vida por completo. Ele não é o primogênito, o trono não o pertencia. As palavras reverberavam em sua cabeça como tambores estrondosos. Sentiu tudo ao seu redor girar, e o tão precioso ar fugir de seus pulmões. Será que ele havia ouvido direito? Ou estava começando a ter problemas de audição? Isso era sério, ou alguma brincadeira? Se fosse, não tinha graça alguma. Quem em sã consciência brincaria com uma coisa daquelas? Mas a julgar pelos olhares em sua direção, pelo clima tenso que poderia ser cortado a faca, aquilo com toda a certeza não era uma brincadeira. Era a mais dura e cruel realidade.

Você não é meu primogênito, Christian.

As palavras de seu pai ainda ecoavam em sua cabeça como se fossem marteladas, as marteladas mais dolorosas que um dia já levou. O golpe que veio em sua direção tornou a pancada mais forte porque ele sabia de onde e o porquê vinha. Seu pai e os motivos que o levou a mentir durante todos esses anos em que Christian se viu obrigado a cumprir regras que ele nunca quis seguir - a maior parte delas. E na maior parte delas fez coisas com as quais se culpa até hoje.

A cabeça do príncipe Christian tinha virado um caos àquela altura, não sabia quanto tempo tinha se passado ou o que tinha acontecido após a declaração de seu pai. Tudo o que o príncipe conseguia fazer naquele momento era... nada. Congelado no lugar, pálido e os olhos cinza desfocados, sua postura era como se tivesse se aprisionado em sua mente parando seu corpo de reagir. Foi aí que percebeu que prendia sua respiração, foi aí que percebeu que a dor intensa no seu peito era a causa da falta de ar nos pulmões, e mesmo quando respirou fundo buscando ar para amenizar a queimação em seu peito, a dor não passou nenhum pouquinho. Não era de ar que ele precisava para curar a dor. Sabia perfeitamente. Sabia perfeitamente que o golpe que recebeu trazia consigo outros a mais que Christian não suportaria receber sem surtar.

Mas as surpresas não tinham parado, e para a surpresa de todos os presentes naquela biblioteca que já estavam preocupados com o silêncio ensurdecedor do príncipe Christian, não acreditaram quando um riso nasalado saiu dele, de repente. Foi um riso baixo que se transformou logo em seguida numa gargalhada histérica. Era possível ver as lágrimas caindo das laterais de seus olhos. Suas gargalhadas eram tão altas que provocavam ecos pelo cômodo. Nem ele mesmo sabia o porquê de reagir daquela forma. Talvez porque, de certa forma, havia graça. Por exemplo, a maldita profecia de anel encantado. Como ele podia pensar que teria tranquilidade em sua vida só por causa de uma lenda idiota, de um anel idiota? Aquela maldita profecia era uma farsa! A única coisa verdadeira que o anel trouxe foi sua Anastásia, mas a promessa de que quando se casassem e teriam uma vida próspera, não era verdade quando tantas desgraças caiam por sua cabeça. Ela havia até questionado a sua amada sobre isso a minutos atrás, e veja só!

Um Príncipe em Cinquenta Tons (REPOSTANDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora