Capítulo 2

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No momento que o Nikki saiu porta fora do meu quarto, soube que tudo, a partir dali mudaria nossa situação. Nikki passaria ser meu amigo e eu passaria a ser sua melhor amiga. Ter que reagir como se nada tivesse acontecido entre nós.

Ele foi meu primeiro em tudo. Em tudo que sei até hoje. Meu primeiro amigo, meu primeiro beijo, meu primeiro homem... Viver como se nada disso tivesse acontecido não vai ser fácil. O clima entre a gente está como se estivéssemos terminados um relacionamento de longa data. É de cortar o coração, o fígado os órgãos todos. Tudo o que existe dentro de um corpo humano.

Não vou dizer que não chorei. Claro que chorei, por uma longa e dura semana. Não queria mostrar para o Nikki o quão acabada e distruida estava por dentro. Mas ele me conhece muito bem, só que não quis tocar no assunto.

Sabe quando você está com uma pessoa e bate um negocio no coração te dizendo "isso não vai durar por muito tempo?", carreguei esse sentimento comigo todos esses anos que descobri que estava apaixonada por ele. Pelo meu melhor amigo.

- Tem um restaurante que abriu ontem aqui perto, está afim de ir lá almoçar comigo?- me convidou.

Estávamos andando abraçados, como sempre, pelas ruas de Nova Iorque, entre as multidões apressadas e atrasadas para seus rápidos almoço. Aposto que não dá nem tempo de digerir a comida.

- Não dá, meus pais me querem em casa...- olhei no relógio do meu pulso direito- e... Estou atrasaderrima.

Me soltei de seus braços e sai correndo... Mas antes, virei, ainda correndo e fiz um sinal para que ele me ligasse mais tarde. Nikki esbanjou um sorriso lindo que me fez tropeçar e cair de bunda no chão. Mico do ano!

Levantei como se não fosse nada e acenei um "tchau", para Nikki, que ria descontroladamente do meu terrível tombo. Só comigo mesmo para acontecer esses tipos de coisas constrangedoras.

...

Cheguei em casa ofegante, quase morrendo por falta de ar. Cai de propósito no Hall da entrada e me rastejei até a sala, onde provavelmente, meus pais estariam me esperando com uma sinta na mão.

Para o meu constrangimento total do dia, havia visita em casa e eu nem sabia. Um homem de cabelo grisalho, quase com seus cinquenta anos de idade, todo formal com um terno preto... Morreu alguém? Pensei comigo.

Olhei para o outro sofá, onde se encontrava meus pais, me olhando com decepção e me repreendendo. Ouvi uma risada baixa vindo na direção do velho grisalho. Me levantei toda envergonhada com o meu papel de "uma idiota morrendo por falta de ar".

- Oyasumi nasai!- curvei-me para comprimentar o senhor, dizendo boa tarde em japonês.

Na verdade, queria passar para ele que eu não era daqui. Apenas uma moradora que entrou na casa errada. Então, de fininho, em grandes passos, sai da sala... Mas minha mãe deu um grito para que eu voltasse. Não hesitei, fiz o que pediu rápidinho.

- Não precisava gritar.- falei cossando meu ouvido, fingindo estar surda.

Sentei de mansinho no sofá, como uma boa filha educada que eles criaram com sucesso e fiquei lá, esperando em silêncio para levar uma bronca na frente do convidado.

O silêncio reinou grandemente sobre a sala. Então comecei à observar as pessoas ao meu arredor. Minha mãe. Inquieta, cossando com suas grandes unhas a palma de sua outra mão. Trocava de posição com as pernas de um em um minuto.

Meu pai, sempre desviando seus olhos dos meus quando o pegava me olhando. Dava para se ver um suor surgindo em sua testa brilhante.

Já o senhor grisalho, estava todo calmo, até mesmo com um sorriso no rosto. Como se sua presença fosse agradável aqui!

Nada Além de um ContratoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora