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"Como vocês conseguem ter toda essa maldita energia ás 7:00 da manhã?" Jade resmungou enquanto puxava uma cadeira e se sentava ao lado de seu padrasto logo em seguida.

"E como você consegue ter esse maldito mau-humor sendo que não faz nada o dia inteiro?" Retrucou William, tentando defender os filhos que nem ao menos se importavam com o que se passava naquela mesa.

"Oh, William..." Jade riu debochada, não acreditando no que acabou que ouvir. "Você nem ao menos trabalha. É um encostado no governo que é sustentado pela minha mãe." William soltou a faca em que passava manteiga de amendoim em sua torrada, encarando Jade. "Acho que não há uma diferença muito grande entre eu e você." A adolescente sorriu satisfeita com sua resposta, ganhando um olhar totalmente repreendedor de sua mãe.

"Jade, sobe. Agora." Norma rosnou, fazendo a garota revirar os olhos, mas atender à ordem da mulher logo em seguida.

Ele havia acabado de descer.

Jade sabia que sua mãe gostava de William, ela repetia isso todos os dias quando a garota dava alguma resposta sarcástica ao homem ou fazia alguma piada idiota sobre seus meio-irmãos. O que a deixava confusa - e brava - era saber que William não gostava tanto assim de sua mãe... Mas ela era médica, e sabemos os benefícios que se ganha ao casar com uma doutora de nome conhecido.

"Jade..." Norma entrou no quarto, recebendo um olhar desinteressado de sua filha.

"Presente." Murmurou, vendo a mulher suspirar.

"Vou ser direta, tudo bem?" Jade deu de ombros, fazendo sua mãe cruzar os braços, irritada. "Estamos cansados do seu jeito de agir nessa casa. Você já tem 17 anos e age como se tivesse 12." Norma cuspiu aquelas palavras achando que causaria algum efeito em sua filha, que apenas a olhava com o mesmo desinteresse que olhava para o quadro negro na aula de Biologia. "Tudo para você é motivo de discussão e piada sobre meus filhos." Jade a olhou incrédulo. Ela era sua filha primeiro. "Fora que está sendo um péssimo exemplo para eles, além di-"

"Certo, tudo bem. Onde você quer chegar?" Jade a interrompeu arqueando a sobrancelha de modo desafiador.

"Como é seu último ano no colégio, graças a sua repetência..." Norma suspirou. "Você vai para uma escola, bem... um pouco longe daqui... Não é como aqueles colégios internos que você vê em filmes mas..." Jade não ouviu mais nada a partir dali. Simplesmente deixou seus pensamentos irem até sua amiga de infância, Annie. Jade perdeu o contato com a garotinha de repente, após trocar de escola, mas nunca entendeu o real motivo sendo que sempre acreditou que Annie era sua vizinha.

"Entendeu, Jade? Amanhã. Mochilas, malas, caixas, sei lá. Tudo no carro." Jade suspirou, assentindo.

Seria um longo dia.

~*~

Assim que sua mãe saiu de seu quarto, Jade fez questão de tentar ser uma filha obediente e arrumar suas coisas depressa.

A realidade era: Jade estava em completa confusão, se sentia toda bagunçada mentalmente, não conseguindo ter um pensamento concreto sequer. Ela não sabia se estava feliz por não precisar mais aturar seus meio-irmãos, ou infeliz por precisar encarar gente nova, por precisar aprender a lidar com gente nova.

Os babacas da antiga escola, eu, pelo menos, sabia como domar. Pensou, se jogando de bruços na cama com uma expressão de cansaço estampada em seu rosto, juntamente com olheiras, como se tivesse feito trabalho de parto há minutos atrás.

Jade nunca foi a garota cheia de amigos por simplesmente não ter o Dom da Amizade, como diz sua mãe. Também nunca fora uma conquistadora, do tipo que tem vários garotos em volta de si, mas isso não a incomodava. Jade nem gostava de garotos.

Os poucos amigos que Jade tinha sempre acabavam sumindo, desaparecendo como se fosse um truque de magia e nunca mais voltavam. A garota sempre se cobrava, deixando claro para si mesma que todos cansavam dela, que ela não era suficiente para ter amizades.

Pobre adolescente confusa, sempre que perguntava de seus amigos à sua mãe recebia a mesma resposta.

"A vida é um vagão de trem, Jade. Muitos vão entrar na sua vida e muitos vão sair, mas você não pode parar de circular por isso."

Sua vontade sempre foi responder que não importava o que caralhos era a maldita vida, ela apenas queria amigos que ficassem, queria Annie de volta, queria ser uma garota legal e normal, queria ter com quem dividir seus medos e sonhos, mas isso parecia estar fora de cogitação no vagão de trem de Jade.

O silêncio que sua mãe fazia sobre sua confusão mental a deixava insana.

Chegou a pensar que o desaparecimento de seus amigos era culpa de Norma, já que toda vez que começava a falar sobre uma nova amizade, a doutora a calava com remédios, com a mera desculpa que aquilo a faria se sentir melhor. Mas logo descartou essa ideia.

Minha mãe não tem culpa por eu não ser boa o bastante.

×××

Hey everybody
Minha segunda adaptação de Muke pra Jerrie, a obra original é da mukeypunk, e obrigada por me deixar adaptar ♡
Eu espero que gostem tanto como eu gostei!
XO -M

existência [♡] jerrieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora