Dia 15

10 0 0
                                    


Atenas - 10:35 am

O General Nikola Bakas jamais acreditara em qualquer história fantástica. Desde criança era muito cético; aprendera com o pai, que jamais o permitira crer nessas tolices, fossem monstros embaixo da cama ou fadas protetoras. Era por isso que estava parado há alguns minutos olhando para o que tinha diante de si - completamente em conflito com sua visão de realidade - sem prestar atenção no oficial que lhe perguntara as ordens.

O prédio estava completamente coberto com uma substância esverdeada e dura, que lembrava âmbar, exceto pela cor. Bakas ouviu um dos repórteres comparar aquilo com um casulo e sentiu um arrepio na espinha pensando no que poderia nascer dali, se isso fosse mesmo um tipo de casulo. O relatório dizia que uma médica havia enlouquecido e atacado os demais funcionários e parentes de pacientes internados. Algumas pessoas tentaram pará-la e acabaram sendo seriamente feridas ou mortas, segundo relatos dos sobreviventes. Ela terminara por conseguir expulsar dali todos os que conseguiam correr. Os demais, pacientes e pessoas que ela ferira durante o ataque, haviam ficado presos lá dentro.

Várias unidades militares cercavam o prédio e o isolavam, tentando manter os civis afastados. Não era uma tarefa difícil, mas as pessoas não iam embora. A multidão era composta por curiosos e repórteres, mas também, e principalmente, pelos parentes daqueles que ainda estavam lá dentro. E Bakas queria espaço para agir; sabia que precisava de espaço, pois não podia prever o que aconteceria quando invadissem o hospital e queria reduzir ao máximo as causalidades. Até porque já tinha muita coisa na cabeça com aqueles que estavam dentro do hospital. Se é que ainda estavam vivos.

Finalmente deu ordem ao oficial para que a tropa equipada com lança-chamas se aproximasse da estrutura. Havia optado por tentar derreter o material que cobria o prédio antes de partir para explosivos, unicamente pela remota chance de algum civil ainda estar vivo lá dentro. O relatório dizia que a área da Pediatria tinha sido o foco do problema e ele não iria correr o risco de ser crucificado pela mídia por não ter pensado nas crianças.

Os soldados se aproximaram a começaram a lançar os jatos de fogo sobre a substância, que deu sinais de que iria, de fato, ceder ao calor. À medida que derretia, o material pingava viscoso no chão e as pessoas começavam a divisar a entrada do hospital. Ninguém falava nada durante a operação, todos os olhos se voltavam em expectativa para o que aconteceria em seguida. Por isso, todos os olhos viram o horror que irrompeu por aquelas portas.

O soldado Hensler não viu direito o que o derrubou. A sensação que ele teve foi a mesma de quando levou uma bolada durante um jogo, tão forte que ele caiu no chão. Mas aqui a bola tinha mãos, pernas, mãos realmente muito pequenas...

Bakas ficou paralisado e com a ordem de fogo entalada na garganta. A equipe dos lança-chamas se afastava pé ante pé do soldado e da criatura que pairava sobre ele. A multidão ao redor ainda fazia barulho, mas em sua maioria eram murmúrios de confusão sobre o que estava acontecendo.

A criatura era como um inseto esverdeado, com asas e uma boca pinçada que agora parecia morder o soldado Hensler na garganta. Bakas só conseguiu sair do torpor de irrealidade que o invadira quando outro soldado correu em direção a Hensler e arrancou o pequeno monstro de cima dele,jogando-o no chão e descarregando a pistola. Bakas sacudiu a cabeça e olhou para a entrada do hospital, cujas portas estavam abertas. Na escuridão do lado de dentro ele pôde ver vários pares de olhos brilhantes e esverdeados. Antes que pudesse dar a ordem para que as tropas se preparassem para o ataque, o enxame irrompeu. E então era tarde demais.

A InvasãoWhere stories live. Discover now