Dia 15

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Sidney – 02:30 pm

Agência de Monitoramento de Atividade Extraterrestre – Sala de Exames 1

Katherine Hobbes, diretora da AMAE, divisão Austrália, pegou a cadeira de ferro no canto da sala de exames e a posicionou diante de Eithan Johnson, o Indivíduo A, o primeiro exemplar capturado do que parecia ser uma invasão alienígena de alcance global. Sentou-se e permaneceu em silêncio por alguns momentos, observando-o enquanto ele a observava. Ele tinha uma expressão neutra no rosto, beirando ao tédio, e estava sentado ereto, quase militarmente. Desde que Katherine entrara a olhava nos olhos, perscrutando-a. Ela percebeu que ele não piscava.

— Então, Eithan, quer me contar o que aconteceu na enseada?

— Não.

— Por que não?

— Você é irrelevante.

— Irrelevante para o quê?

— Para nós.

— Vocês, quem?

— Você sabe. Embora o seu saber seja nada diante do universo.

— Suponho então que o seu saber seja significante, perante o universo.

— O nosso saber nos leva a algum lugar. O seu lhes faz rodar em círculos neste planetinha e brigar uns com os outros, como cães por um pedaço velho de osso.

— Quem são vocês?

Eithan permaneceu com um sorriso no rosto, parecia um adulto diante das indagações de uma criança.

— De onde vocês vieram?

O rapaz permaneceu imóvel. Voltou a parecer entediado, embora o sorriso se conservasse no canto da boca.

— O que vocês pretendem, aqui? — Katherine mantinha-se impassível diante dele, estudando suas reações. — Pretende responder alguma das minhas perguntas?

— Posso lhe responder a última. — Ele se inclinou na cadeira, parecendo levemente excitado. — Nós estamos aqui para escravizar o seu povo.

— Escravizar-nos?

— Sim. Somos senhores de muitas galáxias e precisamos de escravos para dar andamento aos nossos projetos e obras. E o seu povo terá a honra de fazer parte de nossa história. Sinta-se sim, honrada com isso. Se os considerássemos um monte de pragas inúteis, vocês seriam simplesmente exterminados e tomaríamos o seu planeta. Mas achamos que seus braços e pernas nos serão úteis.

— Vocês são então, uma sociedade escravocrata. Aqui no nosso planeta consideramos isso uma coisa atrasada.

— Claro que pensam assim, vocês são fracos, nasceram para servir. Se possuíssem uma posição de força no universo, agiriam como nós. Os senhores não devem gastar suas mãos com o trabalho, enquanto ainda existe tanto a conquistar, tantas coisas mais importantes do que o suor.

— Mas vocês estão enganados se pensam que vamos nos entregar sem lutar.

— Oh, mas nós esperamos que vocês lutem. Lutem muito, fortes, resistam bravamente. — Seu sorriso se ampliou. — Quando os subjugarmos sua vergonha será tão grande e sua decepção tão arrebatadora que o espírito de vocês não passará de migalhas. E aí, estarão prontos para nos servir pela eternidade.

Katherine permaneceu calada por um momento, absorvendo o que ele dissera. Sentiu uma pontada de medo, ainda distante, um instinto natural de quem se vê diante de um predador, mas procurou manter-se impassível.

— E qual o seu objetivo matando um grupo de adolescentes e assumindo o lugar de um deles? Aonde isso te leva?

— Medo.

— Vocês estão espalhando o medo?

— Exato. Quando você não sabe de onde o perigo vem, ou quem ele pode atingir, o pânico é maior. E o pânico é um veneno muito eficaz em fazer sociedades se autodestruírem. Quando o medo se instala no coração de um ser nada mais resta, nem mesmo aquilo que ele preza.

— Eu discordo de você. O medo pode nos fazer lutar com ainda mais força, pode ser a chama que vai acender a coragem.

— Você acha?

— Eu tenho certeza.

— Vejamos então como essa chama se comporta em você. — Eithan saltou da cadeira sobre Katherine e suas mãos se enrolaram ao redor do pescoço dela, em forma de tentáculos. A diretora sentiu o osso de seu pescoço estalar e não conseguia respirar. Ouviu o alarme disparando e gritos distantes, enquanto perdia a consciência.



A InvasãoWhere stories live. Discover now