Eu me permitia sonhar, eu merecia sonhar. Nenhuma criança deveria sentir aquela dor que eu senti. Quem permitia uma simples criancinha sofrer tanto? A vida era tão injusta!

Olhei de relance para o lado vendo Jason com os olhos atento a frente. Ele com certeza não tinha a menor ideia do que era o sofrimento. Virei o rosto inconscientemente e o fitei. Eu queria entender porque ele não gostava de mim. Será que ele não percebeu a minha tentativa de agradá-lo por todos aqueles anos?

Eu queria tanto o afeto dele. Eu precisava preencher o buraco que tinha no meu peito. Porque ele não me queria por perto?

Por favor, Jason, seja o meu irmão!

Piscando meus olhos percebi o desconforto dele. Eu estava encarando, de novo. Desviei os olhos, ainda mergulhada nos meus pensamentos melancólicos.

Pouco tempo depois chegamos.

Não trocamos nenhuma palavra até entrarmos no seu apartamento.

Olhei ao redor, analisando o espaço. Deveria ser muito legal morar sozinho num lugar como aquele. Eu estava maravilhada com aquele apartamento. Ao contrário do que eu imaginava tudo estava bem organizado.

Sem me dar conta eu já estava com um sorriso nos lábios imaginando como seriam aqueles dois meses morando com meu irmão. Meu irmão!

Era tão reconfortante pensar em Jason como um irmão. Pensar que eu não estava mais sozinha...

Fui despertada dos meus devaneios ao ouvir a voz de Jason.

— Vem, vou te mostrar o quarto em que você vai ficar.

Ele me guiou por um pequeno corredor parando perto de duas portas, um ao lado da outra. Abrindo uma das portas entramos num quarto. Eu poderia ver variações de bege e salmão nas paredes. Havia uma cama de casal ao lado de uma cômoda com um abajur em cima. Um pouco mais ao lado, uma janela de vidro se escondia atrás de uma cortina cinza. Tinha também outra porta, que provavelmente era um banheiro. Era lindo.

— Obrigada — agradeci ainda impressionada.

Jason colocou as malas no pé da cama.

— Fique à vontade — eu virei pra ele enquanto ele passava pela porta e não consegui me conter. Eu precisava saber se estava tudo bem pra ele eu estar na sua casa.

— Qualquer coisa posso lhe chamar?

Ele virou e eu vi quando sua expressão se fechou completamente.

— Olha só garota. Você esta aqui só de passagem. Se eu tivesse opção você estaria bem longe. — dito isso ele saiu me deixando atônita. Aquela dor familiar ameaçou voltar mais uma vez. Uma dor no peito, no lugar onde deveria está meu coração. O coração que há muito tempo fora despedaçado incontáveis vezes.

Porque Jason gostava de me machucar daquele jeito?

Quando era que Deus iria perceber que eu já estava no meu limite?

Eu já estava cansada. Cansada de sofrer calada. Cansada de sonhar um sonho impossível. Cansada de ser patética. Cansada de tudo! Jason não tinha direito de pisar em mim como ele fazia. Eu merecia respeito. Eu tinha que merecer algo melhor do que eu estava recebendo. Uma recompensa por toda a dor que eu sofri.

Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia ficar parada e aceitar as coisas como estavam.

Saí do quarto minutos mais tarde e encontrei Jason na sala. Ele estava deitado no sofá assistindo TV.

— Jason. — chamei quando parei do seu lado. Ele não respondeu.

— Jason... — chamei novamente, mas ele continuou fingindo que não me ouvia. Então, num ataque impulsivo, fui até a TV e puxei a tomada com força.

Mistérios do Acaso (Em Pausa)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora