Capítulo 10

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Eu preciso desse emprego. Eu preciso desse emprego. Eu preciso desse emprego. Eu preciso desse emprego. Eu realmente preciso desse emprego.

Meu novo mantra para conseguir me fazer levantar de manhã e ir trabalhar.

Fitz Comunicações. Ai que burra é você, Lizzie. Como não juntou as peças? Ela é apenas uma das maiores companhias de publicidade do Brasil e dona de várias revistas. Por sinal, a que eu trabalho é uma delas. É como se fosse uma Abril ou Globo da vida. Mega importante no setor.

Incrível como desde que esse homem apareceu na minha vida, o destino meio que faz de tudo para que ele permaneça. Qual é? Fui tão má pessoa quando criança para merecer essa punição na vida adulta?

Tá, estou reclamando demais, preciso dar um desconto. Vou parar com isso, prometo. Pelo menos pelos próximos dez minutos. Boca fechada. Nada de pensar em Senhor Fitz. Vamos lá, Lizzie, você consegue.

Me levanto da cama. O chão está frio e eu acabo saindo do lado contrário de onde deixei minhas pantufas de ursinho. Sou girlie, me deixe!

Vou até o outro lado e calço minhas pantufas. Abro o guarda-roupa e tento escolher qual roupa usar para o meu primeiro dia no novo emprego. Olho rapidamente o aplicativo de clima que tenho no celular. 16 graus no momento. Aparentemente segundo ele, não passará de vinte hoje.

Então pego um moletom cinza com bordado em pedras pratas formando flores, que comprei na Zara há um tempo. Legging preta da Marisa e uma jaqueta de couro preta da Luigi Bertolli. Aproveito para usar minha bota cano alto da Arezzo que quase nunca uso. Causar uma boa impressão pelo menos no primeiro dia. Aí depois avacalho.

Vou para o chuveiro. Ligo a minha ducha e entro na água. Como eu amo um banho quente logo cedo, pela manhã. Pena minha pele e meu cabelo não poderem concordar comigo.

Termino. Me seco. Visto minha roupa. Escovo meus dentes. Faço uma maquiagem e respiro fundo. Pego minha bolsa e minhas chaves.

Preciso ser forte. Que hoje não seja um dia tão cheio assim.


***


Meu primeiro dia de trabalho foi muito excitante, por assim dizer. Tive que ir cobrir um evento de street dance e hip hop de uma companhia que estava fazendo em Tatuapé. Um bairro da Zona Leste de São Paulo.

Era em um galpão enorme. Se estava frio, ficou quente em um segundo. O evento estava tão bom e os meninos foram tão receptivos que depois ainda arriscaram me ensinar uns passos.

Eu ri tanto.

A primeira parte eu mais ri do que dancei. Mas depois fui pegando o jeito. Quem diria. Lizzie dançando Bang Bang da Ariana Grande.

Gostei tanto que fiquei tentada a procurar alguma companhia de dança que tenha perto de casa e ensine hip hop.

Por que eu nunca fiz algo assim antes? Dançar é vida! Agora não quero mais viver sem ela. Se meu trabalho for assim todo dia, não quero ir embora dele nunca mais. E o melhor de tudo, não tive nem tempo para ficar pensando no Senhor Fitz.

Agora já estou me arrumando para cobrir uma premiação de música popular brasileira, que desta vez ocorre aqui na cidade.

Não. Não irei beber. Este feito já está fora da minha lista de atividades para todo o sempre.

Nossa, como eu estou animada. Amo o meu trabalho.


***


Mais um dia de rotina.

Acordar. Levantar. Tomar banho. Vestir a roupa. Trabalhar. Tudo tão mecânico. Tão máquina que nem percebemos.

Eu tinha alguns artigos para escrever. O evento de hip hop do dia anterior e mais a premiação da noite. Meu segundo dia já com um bilhão de matérias para redigir. Mas estou feliz. Tenho um emprego e que paga bem. Já chega de tanto reclamar da vida. Prometi a mim mesma que tentaria não fazer mais isso. Até que não estou indo tão mal.

Estão vendo? Eu consigo cumprir com minhas promessas.

- E aí? Curtindo o novo emprego? – Sorriu Guilherme, o meu entrevistador, passando pela minha mesa para me dar um "alô" antes de ir para a sua sala.

- Nada mal. Consegui descolar até uma aula grátis de hip hop. – Brinco, piscando para ele.

Guilherme é alto. Deve ter um metro e noventa assim, fácil, fácil. É moreno, da cor do Will Smith, se estão tão curiosas assim. Seu rosto é muito atraente, mas seus olhos são distantes. Sabe quando a boca sorri, mas, os olhos permanecem frios? É assim que Guilherme é para mim. Mas ainda assim tem sido muito gentil comigo desde que cheguei na revista. Ele tem o dom de nos deixar à vontade. E o timbre da voz dele é perfeito para um locutor de rádio.

- Fiquei sabendo disso. Soube também que você arrasou.

Até parece!

- Acho que essa parte mentiram pra você.

Ele ri. Boca sim, olhos não. Algo me diz que esse cara já sofreu muito na vida. Mas não vou entrar na questão. Não gosto de me manter intima com assuntos pessoais de pessoas com quem trabalho. Até porque, não faz parte do meu serviço e não sou paga para isso. Assuntos pessoais são assuntos pessoais.

- Olá Guilherme. Senhorita Elizabeth. – Senhor Fitz cumprimenta-nos ao passar pela minha mesa.

Oh, que belo dia. Olha quem apareceu!!!!!!

- Felipe, obrigado pela recomendação. Acertou em cheio com relação a Lizzie.

Tudo bem que fui eu quem pediu, no dia da entrevista, para que Guilherme me chamasse de Lizzie, mas ouvindo ele pronunciar agora o meu nome e na frente de Senhor Fitz, com a reação que ele teve ao ouvir, bem... não sei se foi uma boa ideia.

Mas acho que apenas eu percebi esse ligeiro lampejo de estresse por parte do Senhor Fitz.

- Eu sempre acerto, Guilherme.

Olha a petulância irradiando feito o sol dessa manhã.

Ele sorri, Guilherme, não Senhor Fitz. Senhor Fitz não sorri nem com a boca.

- Eu sei disso. Bem, vou para a minha sala. Tenham um bom dia. – E se foi.

Me deixando a sós com... você sabe quem. Volta Guilherme. Por favoooooor! Nunca te pedi nada.

- Sabe, senhorita Elizabeth, eu não tenho o talento de conversar com pessoas que pouco conheço.

Enrugo o cenho. De certa forma isso não é segredo para mim. Mas, por que a conversa? Onde ele quer chegar com isso? E por que não me deixa simplesmente sozinha e vai trabalhar?

- Talvez lhe fizesse bem se começasse a praticar. – É apenas o que eu posso dizer.

Senhor Fitz se aproxima um pouco mais de mim. Essa sua aproximação repentina me deixa um pouco desconfortável. Espero que ninguém repare em nossa conversa corporal. Mal cheguei, não quero boatos com meu nome. Principalmente atrelado ao Senhor Fitz. E o fato de que consegui o emprego por conta dele.

- A verdade, senhorita Elizabeth, é que me sinto à vontade apenas com você, de um jeito que não me senti antes com mais ninguém.

E se vai. Assim, sem mais, sem menos. Me deixando sozinha e com uma interrogação imensa em minha cabeça.

O que ele quis dizer com isso?

O que raios o Senhor Fitz quer com toda essa atitude? Esse homem vai me deixar profundamente louca. Isso se eu já não estiver.


❤❤❤

Um encontro com Sr. DarcyWhere stories live. Discover now