Capítulo 3

1K 102 51
                                    


Depois de um dia extremamente exaustivo, já deitada em minha cama eu só consigo pensar no quanto aquele novo sócio, Felipe, é arrogante e petulante. Não gosto dele! Absolutamente nada.

Bem, na verdade é até bom que nosso sentimento de desgosto seja mútuo. Assim não precisaremos ter que conversar horas a fio sobre amenidades só a título de cordialidade no trabalho.

Agora eu tenho outra coisa para me preocupar também.

Meu pai resolveu me ligar hoje e soltar a bomba de que estou envelhecendo e que ainda preciso dar netos para ele. Assim, no plural. Argh. Como se eu fosse prenha!

Ainda disse que mulher bem sucedida carrega uma aliança anelar na mão esquerda. Ele ficou louco? Desculpa, mas eu pensei que a gente já estivesse no século vinte e um. Então cadê a anágua do meu vestido? Preciso encontrar minha criada para preparar-me um banho. Ah, faça-me o favor! Mulher bem sucedida é aquela com uma carreira que sempre quis conquistar. E, bem... isso eu já tenho, não?

Papai está assim desde que minha irmã mais nova ficou noiva. Sorte a dela. Mas não é essa a vida que eu quero para mim. E gostaria muito que as pessoas - e papai - passassem a entender, ou ao menos, a aceitar isso. Sou feliz assim.

Agora... voltando ao início, que esse Felipe Fitz me intriga, ah ele me intriga.

Petulante!

Mas o Charles é um doce. Me achou bonita. E ele é um gato! Minhas mãos passando por aquele cabelo loiro quase ruivo, deslizando por seu tórax e...

OPS! Acho que me empolguei!


***


BIP!

- Uhm.

BIP!

Apenas me viro na cama. O edredom está tão confortavelmente disposto em cima do meu corpo. Cinco minutos a mais não tira pedaço.

...

...

BIP!

Dou um pulo da cama e olho o relógio digital que faz o trabalho de despertador do cão!

Droga! Droga! DROGA!

8-0-0

Esse é o MEU horário para bater o ponto na Revista. Quanto tempo eu dormi fingindo não ouvir meu despertador?

Caminho apressadamente, ou pelo menos a intenção é de que seja apressadamente, para o banheiro. Os olhos meio abertos, meio fechados. Tomo um banho de entra e sai. Pego uma bota marrom cano alto. O primeiro vestido que encontro e uma jaqueta de couro marrom, também. Faz chuva, mas não frio.

Meia hora depois eu já estou no prédio da Revista. O elevador está quase fechando. Por sorte ainda dá tempo de gritar para, seja lá quem for, segure para mim.

Ah não!

Ele me olha dos pés à cabeça, como se se atentasse a cada detalhe do meu corpo. Sim, eu esqueci meu guarda-chuva. Sim, eu estou ensopada. Sim, meu cabelo está pingando umas generosas gotas de água e fazendo um plinc plinc chato no piso. Sim, eu peguei uma rua em que tem um prédio em construção e só para completar meu sapato sujou de barro, porque claro, a lei de Murphy está sempre fazendo parte do nosso dia-a-dia.

E sim, estou com Felipe Fitz no elevador. A sós, socorro alguém me tira daqui???!

Ele não diz nada, mas não gosto do olhar que me insinua. Como se ele sempre estivesse certo, e eu errada.

- Bom dia. - Tento ser, no mínimo, gentil.

- Bom dia!

Pronto, ele não pronuncia mais uma única palavra sequer. Mas dá para perceber que ainda me interroga mentalmente com o canto dos olhos. No que será que ele está pensando? Pela sua expressão, duvido muito ser algo bom.

O elevador chega ao nosso andar. Graças aos céus eu posso sair de perto dele!

Vou correndo para o banheiro me ajeitar, mas como eu queria poder sujar um pouco aqueles lustrosos sapatos pretos com um pouco de barro da minha bota. Ele sempre tão alinhado. Deve transar se olhando na frente do espelho, de tão metido que é.

- Sabe... - Ele me seguiu? Estou na porta do banheiro quando sou freada por sua voz. - Eu não questionaria seus princípios ou suas ações, desde que isso não influenciem negativamente a imagem da Revista, e no momento você não aparenta ser a imagem a qual queremos mostrar.

Ele tá zoando com a minha cara, né? Que papo é esse? Por causa das minhas roupas? TÁ CHOVENDO!

- E suas suposições são baseadas em quais fundamentos, senhor Fitz?

Adorei meu sarcasmo no "senhor Fitz". Acho que vou começar a usar essa para a vida. Senhor Fitz.

- A senhorita chega atrasada e ainda vem...

- Não, peraí. Você se baseou em um único dia?

- Eu gostaria de não ser interrompido.

- E eu gostaria de pegar o Adam Levine!

Não acredito que eu falei isso! Pelo menos eu falei "pegar", mas foi o suficiente para ele me olhar com cara de assassino. Estou ferrada, não estou? Onde tem um buraco aqui próximo para eu poder enfiar minha cabeça e só sair de lá uns 30 anos depois?

- E seus modos também não são nada agradáveis. Já parou para refletir que está falando com o seu chefe?

O que eu tenho na cabeça? Lógico que ele é meu chefe. Minha mania de sempre dizer o que eu penso, preciso aprender a guardar certas coisas apenas para mim.

- Sinto muito, senhor Fitz.

- Você precisa entender que eu não gosto de ser contrariado. Não gostei dos seus modos ontem quando entrei na sala e você riu. Não gosto dos seus modos agora, do seu desprezo com relação ao horário ou com a aparência.

Ele pensa que eu estava rindo dele? Quanto egoísmo para uma única pessoa. Eu estava rindo da Clarice e seu blush, coitada. Para quê eu iria rir dele?

- Estava chovendo e eu...

- Desculpas, desculpas, desculpas. Não tolero muitas coisas, e quando alguém não passa no meu conceito, eu corto, senhorita Elizabeth.

- Então se algo que eu disser ou fazer não for condizente com seus princípios e preceitos eu estou ferrada?

- Pode-se dizer que sim! Sabe senhorita Elizabeth, você fala com um ar como se eu fosse profundamente orgulhoso e preconceituoso, mas está tão cega enraizada em seu próprio orgulho e julgamentos que não percebe que também exerce muito bem este papel que sua postura diz me pertencer. Você se acha inteligente e esperta demais a ponto de nem ao menos se importar com as palavras que saem da sua boca, e está baseada em sua medíocre vida de pessoas que a toleravam justamente por não possuírem um argumento condizente, ou simplesmente por não se sentirem com paciência para a reivindicar. Ou talvez para desafiá-la. E quando este alguém simplesmente não tolera esse seu charme barato de tentar passar pelo meio das coisas, e dos...

- Quer saber, você é tão pior quanto eu!

- Então talvez nos completemos.

- Eu duvido! – Nunca iria me comparar a alguém como ele.

Me viro de costas para ele e finalmente entro no banheiro, sem nem ao menos me importar sobre como minha imagem ficará ao deixar meu chefe falando sozinho. Acredito que não preciso disso!


❤❤❤


Um encontro com Sr. DarcyWhere stories live. Discover now