Capítulo 23

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Eu estava com meu irmão na varanda arrumando as bebidas enquanto Camila tomava banho. Paçoca estava em êxtase com a presença de Chris, corria sem parar pelo apartamento, voltava pra receber carinho e então corria novamente sem uma rota definida. 

- Eu sinto falta dessa cidade. Mais por causa do Paçoca e menos por sua causa, que fique claro. - ele falava enquanto observava o cachorro disparar em direção a sala. 

- Faltam menos de dois anos pra voltar, é só aguentar firme, mano. - abri uma cerveja e me sentei numa cadeira em sua frente.

- Você sente falta da nossa casa? - Perguntou entrando no assunto de maneira cautelosa. 

- Todos os dias, todas as horas. Desde criança você dizia que iria estudar fora e nossos pais estavam tão orgulhosos de lhe ver se virando sozinho, correndo atrás de seus sonhos. Taylor também, já estava com o intercambio acertado e tudo mais. E quanto a mim, bom, não era segredo que não iria sair de casa nunca se dependesse de mim. Morar sozinha é muito chato, passei a admirar muito mais vocês dois, imagina em outra cidade e tão novos...

- É mais fácil quando temos pra quem e pra onde voltar. - Ele falou firme, mas não conseguindo evitar o sentimentalismo. - E eu ainda tenho isso, Lauren. Aqui é minha casa e você, Taylor e Paçoca são minha família.

Dei um gole grande na cerveja, tentando desfazer o nó que surgiu em minha garganta. 

- Não vi o ukelele pela sala... - Chris voltou a falar após uns segundos de silêncio.

- Tá no seu quarto, não tirei de lá desde a última vez que veio, procure no closet. - Ele assentiu em resposta e seguiu a conversa.

- Gostei de Camila, ela é muito legal e você parece feliz.

- Eu estou. - Abri um sorriso ao pensar nela. 

- Isso de vocês parece sério. Vou precisar ter uma conversa com ela? - Ela falou sem rir, estava mesmo disposto aquilo e não pude deixar de achar engraçado, ele parecia tanto com nosso pai as vezes.

- Pelo amor de Deus, não. Parece ser sério e espero que seja, mas sem planos ainda, estou deixando ver no que vai dar.

- Você que sabe, qualquer coisa, basta uma ligação, mana. - Deu uma piscadela com um olho e bebeu sua cerveja.

Logo Camila apareceu e se juntou a nós, Paçoca a seguindo alegremente. Apesar de eu ter dito pra ele poupar minha namorada, Chris a estava enchendo de pergunta, mas não me meti. Continuei bebendo enquanto ouvia Camila responder de onde era, quem era sua família, como ia seus estudos...

- Você irá se formar logo, então. - Meu irmão seguia inabalável.

- Sim, faltam poucos meses, pretendo apresentar meu trabalho de conclusão de curso o mais breve possível. - Ela respondia confortavelmente, mas sua postura mudou um pouco quando ouviu a próxima pergunta.

- E quais os planos pra depois?

- Sempre foi fazer mestrado na Cornell University. - Ela falou com a voz um pouco mais baixa do que antes.

- Nova York? - Perguntei imediatamente e me ajeitando na cadeira, tinha sido pega de surpresa. Camila abriu a boca pra dizer algo, mas nada saiu. 

Antes que ela conseguisse esboçar uma resposta, Normani entrou fazendo barulho com Alexa, Vero e Lucy, foi um festival de abraços e 'como você está bonito', nós parecíamos umas tias solteironas. Logo atrás chegaram três amigos do meu irmão, ele só tinha chamado os mais próximos, que praticamente tinham crescido em nossa casa. Dinah apareceu em seguida, tratou imediatamente de selecionar umas músicas e encher seu copo. 

Ally e Troy chegaram com Austin depois. Notei uma agitação sutil em Camila, mas logo me juntei a ela dando um abraço e um selinho, assegurando sem palavras que estava tudo bem. Decidi ignorar essa novidade  (pelo menos pra mim era uma novidade) de mestrado em Nova York. A noite estava muito boa, eu sentia saudade de ter a casa cheia de gente, então quis apenas aproveitar.

Não sei que horas Chris e os amigos saíram pra uma boite qualquer, mas agradeci aos céus quando Austin os acompanhou. Troy teria plantão no outro dia pela manhã, então foi embora mais cedo, deixando uma Ally já quase bêbada no meu apartamento.  Eu tinha trocado a cerveja por vodka e estava bem firme a caminho do infinito. Normani e Dinah me convenceram a fazer com elas um remake do clipe de single ladies, e eu mais parecia um saco de batatas no meio daquelas duas aspirantes a Beyoncé. Vero filmava o momento para usar em chantagens futuras, enquanto as outras caiam no chão de rir.

Minha namorada era a que mais se divertia com a cena, parecia bem mais relaxada. Dinah propôs que brincassemos de verdade ou desafio, mas neguei veementemente. Minhas amigas sabiam todas minhas histórias ridiculamente constrangedoras e não hesitariam em me fazer conta-las na frente de Camila. Fora que eu também não queria saber nada do passado dela, o Austin era só um ex ficante que não foi nem mesmo sério, e já me dava dor de cabeça, imagina saber de mais coisas. Mas Dinah não desistiu do propósito de nos embebedar mais ainda e determinou que brincaríamos de 'fui na feira'. Alexa me acompanhou até a cozinha pra ajudar a trazer os copinhos de tequila.

Enquanto eu abria o armário, ouvi Camila entrando. Ela encostou o quadril na bancada com os braços cruzados, numa postura de quem tava vigiando alguma coisa. Notei Alexa constrangida e tentei me manter neutra enquanto tentava fazer as contas de quantos copinhos precisaríamos, Lucy e Alexa não estavam bebendo, seriam as motoristas da noite. Então coloquei 6 na bancada, minha amiga os empilhou e saiu rapidamente da cozinha. O olhar de Camila a acompanhou e assim que estávamos a sós, comecei a gargalhar com aquela cena. Estava tentando recuperar o folego quando ela me pressionou contra a geladeira.

- Isso é ciúmes? O que fiz dessa vez? - Perguntei tentando me equilibrar, tinha sido pega de surpresa.

- Também. Não tem nada que ficar sozinha com aquela lá. - Segurou meu queixo com o polegar e o indicador. - Mas você rebolando toda soltinha ajudou um pouco.

- Pelo amor de Deus, eu tava parecendo...  

Não consegui terminar porque Camila me beijou com urgência, pressionando seu corpo no meu e mantendo minha cabeça imóvel pra poder fazer o que bem quisesse. Ela sugava minha lingua com vontade e eu abracei pela cintura, aproveitando aquele ataque. Ela mal nos dava tempo pra recuperar o ar e logo me esmagava de novo, eu já respirava com muita dificuldade quando ela desceu pro meu pescoço e passou a chupar e morder sem dó aquela região, eu sabia que ficaria marcada, mas eu não podia (e nem queria) fazer nada em relação a isso. Ela me deu um último beijo desesperado e, sem dizer mais nada, me puxou pela mão de volta a varanda. Ela ia me pagar por aquilo.

Ouvimos as piadinhas das meninas, pelo nosso estado, era óbvio o que estávamos fazendo. A recente mancha roxa no meu pescoço também não tinha nenhuma outra explicação possível, então só me restou aguentar as provocações entre uma dose e outra de tequila. Camila pareceu não se importar e apenas mantia seu olhar safado em mim. A brincadeira começou a animada, mas depois de um tempo, todas nós já estávamos virando a bebida sem critério nenhum. 

Seguimos até que Lucy, que se manteve sóbria com a Alexa, decidiu que já tínhamos bebido o bastante. Demorou um tempo até que convencesse todas a ir embora e conseguir com que entrassem no elevador. Segui com Camila pro nosso quarto, Paçoca ja dormia tranquilamente em minha cama.

Providenciei água e um remédio pra enjoo pra nós, talvez isso iria amenizar a ressaca do dia seguinte. Quando terminei de escovar os dentes,  encontrei minha namorada totalmente apagada, nocauteada pelo álcool. A vingança pelo ataque na cozinha teria que ficar pra depois, pensei enquanto a agarrava por trás e me rendia ao sono.  

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