Capítulo 5

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Chegando no anfiteatro, estacionei o carro e segui com Camila para a entrada da obra. Era uma reforma na verdade, e ainda estava na primeira fase, só precisava ir lá pra mostrar que estava de olho, uma vez que primeiro iríamos destruir a antiga construção para depois refaze-la. 

- Bom dia, doutora Lauren. Bom dia senhorita - O porteiro nos recebeu simpático enquanto procurava os equipamentos de segurança. Me passou um capacete cinza e, segurando um branco, olhou rápido pra Camila e me lançou um olhar questionador.

- O dela também é cinza. Camila não tá só visitando, logo se forma em arquitetura e quero saber sua opinião técnica.

Falei me explicando mais do que deveria, mas não me arrependi ao ver o olhar orgulhoso da mais nova, minhas palavras surtindo o efeito que eu esperava inicialmente.

Entramos na obra e foi minha vez de falar, eu tentava explicar o projeto de uma maneira didática. Camila me escutava atenta, fazia perguntas pertinentes e esperou pacientemente enquanto eu conversava com o mestre de obras sobre o cronograma definido. Levei ela pro escritório improvisado onde mostrei o projeto da Vero, seu interesse me dando uma confiança ainda maior pra falar do assunto que dominava. 

Fizemos o caminho de volta, eu já estava triste por nosso tempo estar acabando. Queria que Camila voltasse a falar e sabia que precisava de só uma pergunta.

- Qual o tema do seu tcc?

- É uma ong. Idealizei um prédio com quadras esportivas, uma área verde, salas de aula, biblioteca, enfim, são vários ambientes distintos e funcionais. Assim consigo mostrar minha capacidade em diversas áreas da arquitetura: fachada, paisagismo, design de interiores, decoradora... 

- Uma arquiteta completa então.

- Basicamente isso. - Ela confirmou sorrindo. - Bom, na teoria. Idéias não me faltam, mas a maneira de apresenta-las ainda é um pouco difícil. Sou desatrada demais pra montar maquetes e AutoCad ainda é um mistério pra mim. 

Passamos pela entrada devolvendo os capacetes e entramos novamente no meu carro. Antes de girar a chave, falei me virando pra Camila.

- Me mande um e-mail com o desenho do seu projeto, verei o que posso fazer pra ajudar o seu AutoCad. Vai ficar no prédio de exatas?

Camila confirmou com um aceno de cabeça e me perguntou curiosa enquanto eu manobrava o carro.

- Você tá mesmo se oferecendo pra me ajudar com o tcc?

- Ei, eu disse que verei o que posso fazer, sem promessas. Nunca precisei fazer maquetes, sou boa em cálculo e por isso escolhi a engenharia. Mas acho que meu estagiario pode te ajudar com o AutoCad, o Matos é irritantemente inteligente com números e essas coisas de computador. 

Camila pareceu muito feliz com minha resposta e eu notei que estava ficando viciada em vê-la feliz. Saber que era por minha causa me dava um frio gostoso na barriga, o que me deixava disposta a fazer qualquer coisa por ela.

Parei o carro em frente o prédio de exatas da universidade e destravei as portas pra que ela saísse. 

- Você é sempre tão boa assim com pessoas desconhecidas? - perguntou soltando o cinto de segurança.

- Na verdade, não sou não. - respondi sinceramente. 

- Isso quer dizer que eu sou sortuda por ter entrado no seu caminho?

- Não. Você ter entrado no meu camnho faz com que eu seja a sortuda dessa história. - Vendo o sorriso dela, continuei falando sem lhe dar chance de resposta - Você tem meu número e meu e-mail no cartão que Vero lhe deu no sábado. Fique a vontade pra entrar em contato, estarei esperando notícias suas.

- Pode apostar que darei notícias, Lauren. Obrigada pela carona, e por tudo mais que tem feito por mim e por Dinah.

Camila se virou e me deu um meio abraço, uma vez que eu estava de frente pro volante do carro. Assim que senti o cheiro bom que tinha seus cabelos, ela me soltou e saiu do carro, me agredecendo mais uma vez. Balancei a cabeça em resposta e parti assim que ela fechou a porta. Aquelas horas com ela me deixaram de bom humor o dia inteiro. Verônica ficou no meu pé tentando descobrir o motivo do meu riso frouxo. Eu relutei em lhe dar detalhes, mas ela descobriu de qualquer forma, pois antes de encerrar o expediente, passei na sala dela pra me despedir e falei decidida:

- Contrate Dinah, a menina é ótima. 

 _

Cheguei em casa e fui recebida por um paçoca bastante empolgado, que pulava em minhas pernas e corria sem direção definida pela casa. Fui a cozinha e peguei na geladeira a lasanha que Maria deixou preparada, resolvi tomar um banho enquanto a deixava esquentando no forno. Vesti uma calça de flanela e uma camisa folgada do super homem, coloquei um pedaço da lasanha no prato e me acomodei no sofá, ligando a tv. Estava passando um documentário sobre os presídios de segurança máxima do mundo. Eu raramente via tv, so ligava pra não me sentir sozinha enquanto jantava, não sabia por onde andava o controle e por isso já fazia alguns meses que só assistia o que passava no National Geographic. 

A lasanha acabou e me detei no sofá com o paçoca na minha barriga, já tinha me rendido ao documentário quando meu celular vibrou na mesa de centro. Estiquei meu braço para pega-lo e vi que era um e-mail da Camila, com seu projeto de tcc. Olhei rapidamente o conteúdo, procurando por seu número de telefone nas considerações finais do e-mail, o salvei e logo enviei uma mensagem:

"Seu projeto é incrível. Definitivamente irei lhe ajudar a apresenta-lo da melhor maneira possível. Quer dizer, o Matos fará isso, mas sob minhas ordens, então acho que tenho algum mérito. Ass. Lauren"

Enviei a mensagem, relendo um pouco depois. Eu não tinha visto o projeto ainda, mas não tinha dúvidas que ele era incrível. Daí  lembrei que não tinha falado com meu estagiário também, mas ele tinha amor ao emprego, não iria recusar um pedido da chefe. Desbloquei meu celular ansiosa ao ver que Camila tinha respondido:

"Espero que o tal Matos tenha muita paciência. Minha quimica com o AutoCad não é boa, estamos tentando a anos e simplesmente não assimilo nem os comandos básico. Mas ainda me resta fé e esperança de que irei superar esse problema até o final do meu curso."

"Mais do que fé e esperança, tenho provas concretas da sua capacidade de aprender tais comando básicos. Pelo amor de Deus, homens já conseguiram ensinar macacos a tripular uma foguete espacial, pelo que aprendi hoje... Apenas não me decepcione, Camila."

"Ouch Lolo, você acabou de comparar minha inteligencia a de um primata?" Franzi a testa ao ler esse apelido estranho, mas ignorei e respondi imediatamente:

"Não, na verdade estou lhe desafiando e o AutoCad é sua primeira etapa. Quando provar que é boa o bastante, te ensino a mexer no painel do meu carro."

"Que a sorte esteja sempre a meu favor então."

"Esse é o espírito. Boa noite, Camz!"

"Ninguém me chama de Camz, acho que gostei! :)"

"E ninguém nunca me chamou de Lolo, mas não tenho certeza se gostei. Falarei com você em breve."

"Estarei esperando ansiosamente. Boa noite"

Deixei o celular de volta na mesa de  centro, desligue a tv e fui pro quarto quase saltitante, sendo seguida pelo paçoca. Algo me dizia que meu bom humor iria se manter por algum tempo.

AmareloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora