Capítulo 21

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Pareciam horas. Cada segundo que passava parecia uma eternidade, e ver Caleb em uma situação que eu não tinha controle era extremamente desesperador.

Atargatis movia-se rápido, não como se tivesse procurando um local específico, mas sim afastando-se o mais rápido possível da costa. O corpo desacordado de Caleb era puxado pela água, assim como eu. A diferença é que eu tinha controle dos meus movimentos, mesmo que não pudesse mudar para onde estava indo. Era quase como se a Deusa tivesse me entregado um mapa, e eu não tinha outra escolha que não fosse segui-lo.

A entrada no oceano foi exaustiva, e quando finalmente paramos não se via nada na linha de visão. Parecia que a deusa havia limpado o mar de quaisquer animais, tudo que havia era água. O silêncio imperava nos meus ouvidos e nos meus sentidos, até ser quebrado por ela. Sua voz calma e profunda seria tranquilizante se não me deixasse aterrorizada.

"Isso vai doer mais em mim no que nele, Siena."

Tentei gritar ao notar que ela começaria o ritual, fazê-la parar de alguma maneira, mas não consegui. Minha voz não saía, e a culpa não era minha.

Era dela.

O poema de milhares de anos começou a ser recitado, algumas vezes com partes que nem eu entendia, e o corpo de Caleb começou a mover-se até ficar completamente na horizontal, como se flutuasse na água com uma calma que não teria se soubesse o que estava prestes a acontecer. Parecia um truque de mágica bizarro. Meus braços estavam presos aos lados do meu corpo, e por mais que eu quisesse, não conseguia movê-los.

Quem você é, retorne

Caleb moveu-se como se uma flecha houvesse passado por seu corpo, seu peitoral arqueando-se com violência.

Seja minha dor,

Minha paz,

Meu poder

Seu peito subia e descia conforme as palavras da deusa saíam, como se o corpo fosse apenas a jaula de um animal selvagem que tentava achar sua fuga. Era doloroso assistir, mas eu não conseguia parar.

Veja o que eu vejo

Sinta o que eu sinto

Os olhos de Caleb apertaram, e naquele momento eu soube que ele doía sim, mais nele do que em Atargatis. Tentei me libertar das armadilhas que não via, precisava tirá-lo de sua posse, precisava salvá-lo.

Desprenda-se do presente,

Volte pra mim

Naquele momento, um corte vermelho atravessou o peito nu de Caleb, como se algo houvesse o arranhado. Arfei, desesperada. Ela estava matando-o.

Meu coração é teu.

Meu desespero havia se transformado em cólera. Eu estava tomada pela raiva e desgosto. Os sentimentos fluíam por minhas veias como uma chama em uma trilha de gasolina. Gritei, com lágrimas despercebidas em meus olhos, por ajuda.

E de repente, tudo parou.

Não se ouvia a voz da deusa, ela não se mexia, assim como Caleb, que naquele momento parecia em extrema dor, não movia-se um centímetro sequer. Confusa, fechei os olhos esperando que tudo isso fosse um pesadelo.

Eu achei que estava morrendo, mas o que aconteceu foi bem mais complicado.

Ouvi ondas. Não ondas normais, ondas gigantescas. Notei então que conseguia mover os braços, mas não saía de onde estava. Estranhamente, orei. Não para um Deus, muito menos para Atargatis. Orei para qualquer força que pudesse ouvir meu desespero, que pudesse sentir a dor em meu coração e o medo em meus movimentos. Senti a água ao meu redor mover-se com violência, mas isso não me afetava. Continuei com os olhos apertados, cerrados, pedindo não por mim, mas pela vida do meu amor.

SirenaWhere stories live. Discover now