Capítulo 12

8.9K 1K 57
                                    


Attina parecia uma hacker, intercalando entre nossos dois notebooks, fazendo ligações e com um mapa ao lado de toda a parafernalha. Era praticamente tudo que havia feito desde que descobriu o que eu havia escrito para Caleb. Por outro lado, eu estava sentada na única poltrona do abafado quarto em Saint Joseph, abraçando meus joelhos e observando a guardiã analisar todos os dados e tentar encontrar o famoso "deus da imortalidade". Esse era o termo menos macabro para descrever Gilgamesh, mais uma imagem mitológica na minha vida.

Gilgamesh vivia em meio aos humanos desde a época dos Sumérios, onde foi um rei vitorioso e uma das imagens mais ilustres da história suméria. Eu não sabia muito sobre ele, nem nunca o havia visto, muitas vezes desconfiei até de sua existência  se não fosse Attina trazê-lo para a conversa, e ainda não havia entendido o porque contatar uma imagem tão anciã para algo mundano.

"Isso que está acontecendo é tudo, menos mundano, Si." Attina parou por alguns minutos e foi servir uma caneca generosa de café preto. "Gilgamesh pode ser a nossa única chance de prever e prevenir Caleb de fazer alguma besteira."

Assenti, ainda com medo e receosa de estarmos nos metendo numa enrascada sem chance de sairmos ilesas.

"Meu único medo é ele ser... Difícil de lidar." Attina comentou, ao voltar para sua pesquisa. "A última vez que o vi foi ao menos cento e cinquenta anos atrás, e ele foi muito arrogante."

"Ainda me admira a facilidade que você tem para falar de um deus, Ti." Comentei, sentando-me ao lado dela na cama e observando seu trabalho. "É quase como se ele fosse seu amigo."

"Ele está bem longe de ser um amigo, Siena." Ela me encarou, séria. "Mais para um contato... Acho que ainda tenho uma dívida para acertar com ele."

"Você não..." Fiz um sinal com a mão para Attina e ela assentiu, antes de sacudir a cabeça como se quisesse tirar uma imagem desagradável da cabeça. "NÃO ACREDITO!"

"Siena, quieta!" Attina disse, ríspida, e logo me calei. Ela sabia o quanto Caleb era importante para mim, e depois da história da morena com Rory, eu também sabia que ela entendia o motivo pelo qual esse plano não podia conter falhas.

"Eu acho que consegui localizá-lo... Ao menos diminuir o raio de busca para uma área menor."

"Menor... Quanto?"

"Atlanta."

"Sério isso?" Eu estava cansada de viajar. Havia percorrido mais estradas na última semana do que nos meus últimos trinta anos combinados. "E você sabe que Georgia é um estado costeiro né?"

"Eu sei Si, mas Gilgamesh não se importa com a água. Na verdade, chega a ter muito carinho por ela."

"Isso me cheira a uma história." Eu simplesmente amava quando Attina me ensinava sobre nossa própria história. A mitologia era uma mistura de mitos e histórias distorcidas por culturas através das eras. Attina tinha tido a sorte de ter acompanhado muitas se desenrolarem de perto, e isso me fascinava além da compreensão.

"Com certeza. Tudo começou quando Gilgamesh era um famoso rei do império sumério." Attina cruzou as pernas na cama ao virar-se dos computadores e me olhar nos olhos, sua voz tomando um tom mais profundo, quase revelando todos os séculos de conhecimento que possuía. "Ele foi um rei extraordinário, reconhecido e lembrado por gerações por suas construções e sua força. Um dia, o rei resolveu que se tornaria imortal, consultou todos os sacerdotes para que lhe ajudassem com sua escolha, mas nenhum lhe deu uma resposta de como conseguir tal feito até um deles, que era mais velho e muito sábio, lhe contar sobre uma flor que nascia milhares de quilômetros mar adentro, e que uma mordida na planta o traria a imortalidade."

SirenaWhere stories live. Discover now