Capítulo 18

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Senti a mão de Caleb apertar meu ombro ao acordarmos, o sol nascendo e levemente iluminando o quarto. Me aconchego contra o peito de Caleb novamente e sinto sua respiração variar com uma risada quase silenciosa. "Si... Precisamos ir."

"Não..." Grunhi, ignorando toda a parte pensante do meu cérebro que sabia que hoje era o dia decisivo, era o dia que voltaríamos para a ilha. Caleb beija o topo de minha cabeça e levemente se levanta, me levando consigo.

"Sim senhora. É importante." Ele levemente levanta minha cabeça, segurando-a e depositando um beijo em meus lábios. Sorrio instintivamente, com os olhos fechados, absorvendo a sensação. No mesmo momento ouço batidas leves na porta.

"Pombinhos! Temos que ir em uma hora!" A voz de Attina é pesada, mesmo abafada pela madeira e por uma pequena piada.

"Já vamos!" Gritou Caleb, antes de jogar os lençóis para a ponta da cama, levantando e me obrigando a fazer o mesmo. Ele jogou meu jeans que estava no chão do seu lado da cama, e joguei sua camiseta que estava próxima à porta. Isso rendeu alguns sorrisos cúmplices, que queria fotografar na memória para sempre. "Nervosa?"

"Seria impossível não estar. Tudo parece estar acontecendo muito rápido... Tenho medo."

"Eu também. Todos nós, Si." Caleb fica de joelhos na cama de casal e se aproxima meio desengonçado, e não consigo evitar um sorriso que nem eu sei o motivo. "Vai ficar tudo bem, eu sinto."

"Sente?"

"Aham." Ele diz, ao segurar meu rosto com as duas mãos, seus polegares afagando minhas bochechas. "Você não é a única sobrenatural por aqui."

"Nem brinca com isso!" Respondo, apoiando minha testa na dele. "Você, de certa forma, me tranquiliza muito por ser uma das poucas pessoas normais na minha vida."

"Existe a possibilidade de eu ser a reencarnação de um guerreiro babilônico e o amor eterno da deusa maluca do mar, mas se você acha isso normal..." Ele diz, irônico, e me puxa para seus braços ao sair de cima da cama. "Eu repito, vai dar tudo certo. Attina é esperta."

"A deusa também." Comento, retribuindo o abraço antes de me desvencilhar para acabar de me vestir. "Vamos ter que confiar, eu acho."

Um pouco mais de uma hora depois, saímos no Jeep de Gilgamesh seguidos pela van com três de seus homens e os equipamentos que, segundo o imortal, eram "essenciais para a segurança de todos". A viagem não durou mais que duas horas, e foi muito silenciosa, quase como se qualquer palavra fosse tornar o que estávamos prestes a fazer... Real.

Ao chegarmos na balsa, a tensão era visível. Atravessamos sem problemas, mas quase todos com o coração na mão. Era evidente que a presença da água logo abaixo de nós, apesar de familiar, nesse momento era altamente desconfortável, até Logan, que normalmente estaria fazendo perguntas e contando histórias de quando passava por aquela balsa, estava quieto, batucando com os dedos na coxa por conta da música que fluía dos fones de ouvido e evitando qualquer contato visual que pudesse desencadear uma interação entre os presentes no jeep.

A situação se prolongou até chegarmos à nossa antiga casa, e começarmos a descarregar a van. Abrir a porta que era tão familiar para mim nos últimos meses pareceu uma experiência nova, como se mesmo sem um móvel ter saído do lugar, não estávamos na mesma casa.

Talvez quem tenha mudado fui eu, não o lugar.

Andei até o outro lado da sala de estar e respirei fundo antes de abrir as cortinas da sacada. Alguns momentos depois do choque causado nos meus olhos pela luz, me deparei com o mar. Azul, intimidador, calmo, mas que esconde uma tempestade em suas profundezas. Apertei o tecido grosso das cortinas em meus punhos com a mesma força que fechei meus olhos, me concentrando na deusa. Eu ouvia uma batida constante no fundo do meu cérebro, um sussurro que mesmo com palavras indistinguíveis, faziam sentido para mim. O mesmo era aliviado pela presença de Caleb, mas ainda lá. Tentei me concentrar em sua fonte, sentir sua criadora, mas não obtive sucesso. Abri os olhos e soltei a respiração e o tecido, deixando os braços caírem ao lado do meu corpo, o mar ainda à minha frnete, porém mais revolto.

SirenaWhere stories live. Discover now