Sirena

Bônus 10K - Dívidas em Haver (Parte 1)

Nota da autora: O especial a seguir é escrito por um narrador onisciente. Tais acontecimentos são desconhecidos para a nossa protagonista e narradora usual, Siena. 

Inglaterra, século XVI  

Attina nunca foi o tipo de garota que se submete à um homem. Especialmente após sua transformação, a guardiã prometeu a si mesma que nunca entregaria seu coração à alguém, o que era muito difícil considerando sua missão. Entre todas as coisas, Attina era responsável; sempre fora fiel à deusa e aos seus pedidos, pois além de salvá-la da morte, Atargatis lhe concedeu uma vida onde não teria nunca mais que ver sua família e viver como a servente que era antes de tudo isso acontecer.

Antes de tudo, a morena era fria. Os homens se deixavam enganar facilmente por carícias e conversas vazias, e acreditavam que Attina estava completamente apaixonada quando tudo o que ela fazia era ser extremamente metódica, estudando suas "vítimas" e fazendo o combinado, pois ela prometeu a si mesma que jamais abriria seu coração á ninguém.

Isso funcionou bem, por mais de noventa anos, até conhecer Gilgamesh.

Os dois eram como dois ímãs, e suas personalidades se repeliam tão rápido quanto seus corpos se atraíam.

Tudo começou no final do século XVI, e Attina, como uma mulher desprovida de qualquer tipo de título na época, não tinha muitas oportunidades e acabou de juntando à um grupo de ciganos que a acolheu. A morena de pele bronzeada parecia ter nascido em meio àquelas pessoas: Aprendeu as danças, a costurar, bordar, e ajudava a família que havia lhe amparado apresentando-se em praças e centros das cidades que acampavam. Ela atraía olhares, e não fora diferente com o imortal.

Gilgamesh, que na época estava servindo em um exército real da cidade em que o bando de Attina havia montado acampamento, havia sido incumbido junto com outros soldados a retirar o bando da cidade, expulsar os mais velhos e escravizar os mais novos e saudáveis. O imortal nunca havia se importado em realizar tais serviços, já que não tinha quase nenhum escrúpulo, mas estranhamente, resolveu observá-los por alguns dias antes de completar seu trabalho.

Fora de seus trajes de combate, Gilgamesh observava Attina, acompanhada de outras duas ciganas, dançar em troca de algumas moedas na praça central da cidade. Ele estava hipnotizado, vendo o corpo curvilíneo da guardiã mover-se graciosamente com o ritmo da música que tocava, estampava um sorriso no rosto e várias joias em seus pulsos e pescoço, e seu longo cabelo moldava suas feições e chamava a atenção de todos que passavam, especialmente do gênero masculino.

O imortal então apoiou-se em um das estalagens ao redor da praça, esperando a apresentação terminar e a trupe de Attina começar a arrumar suas coisas, só então aproximou-se e tocou seu ombro, chamando sua atenção.

"Se eu fosse a senhorita, sairia da cidade o mais rápido possível." Ele disse, não conseguindo segurar um pequeno sorriso ao sentir os olhos castanhos da guardiã o encarando.

"Pois então sou uma mulher de sorte por não ser o senhor." Ela disse, voltando a guardar os instrumentos e os trocados que recebera.

"Tem muita audácia para alguém que não tem onde cair morta." Ele disse, estranhando a ousadia da resposta vinda da garota. Nenhuma mulher o havia tratado com tamanha indiferença, e era tão ofensivo quanto era instigante.

"Posso cair morta em qualquer lugar, é a vantagem de ser livre." Disse, acabando de colocar os cestos na carroça para poder voltar ao acampamento. "Agora, se o senhor não desejar comprar nenhum produto, vou indo."