Capítulo 2

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Acordo com o sol no meu rosto e me levanto rapidamente ao notar que estou extremamente atrasada para o meu voluntariado na biblioteca. Abro meu baú e retiro um vestido azul de 1960 e não deixo de soltar um sorriso quando me lembro de quando o comprei, na época que morava na costa italiana. O combino com um rabo de cavalo perfeitamente penteado, uma leve maquiagem e sapatilhas e saio o mais rápido possível de casa.

Avalon é uma cidade cercada por um porto, ela fica na ilha de Catalina no sul da Califórnia e a cidade se forma entre uma montanha e o mar, sendo impossível andar por lá sem precisar subir algumas ruas íngremes... Não te falam sobre isso quando você está pesquisando "pequenas cidades na Califórnia" online.

Ando por algumas quadras e entro no café ao lado da biblioteca, esse dia seria difícil de lidar sem um copo extra grande de café. O estabelecimento cheira a grãos de café recém moídos, cupcakes e bagels, respiro fundo ao entrar na fila que tem apenas duas pessoas. Abro a bolsa e retiro meu celular para mandar uma mensagem para Olivia:

"Acordei atrasada. Na cafeteria, quer alguma coisa?"

Mal coloco o celular de volta na bolsa quando ele vibra com a resposta:

"Um café preto médio, por favor? Juro que te pago de volta!"

Rio comigo mesma e guardo o celular na bolsa ao notar que era minha vez de ser atendida. Um garoto alto e de cabelos castanhos me dá bom dia antes de perguntar meu pedido, mas estou distraída com seus olhos castanho claro até ele repetir a pergunta.

"Siena? O mesmo de sempre?"

"Como você sabe meu nome?" Perguntei de sobressalto, sem ao menos notar que estava atrasando a fila atrás de mim.

"Quando eu não estou no caixa, entrego os pedidos." Ele me encara quando pareço não entender sua resposta. "Eu escrevo seu nome no copo?"

"Ah... Claro! Desculpa" Coloco uma mecha de cabelo que teimava em sair do lugar atrás da orelha e peço dois cafés pretos, um grande e um médio, ele sorri para mim e prende a nota fiscal em um gancho para o barista. Fico observando-o por alguns segundos enquanto espero os cafés e desvio o olhar rapidamente quando noto que sorriu na minha direção.

Ah, não.

Não não não, de novo não.

Pego os cafés no balcão e saio a passos largos do lugar, repassando a cena na minha cabeça e me condenando por ser tão inconsequente. Guardiãs tem muita facilidade para atrair o sexo oposto, então evitamos qualquer contato desnecessário com homens, pois não é bem uma experiência com um final feliz. Entro na biblioteca e atravesso vários corredores de livros antigos e automaticamente me sinto mais calma, diminuindo a velocidade quando o cheiro das páginas antigas se mistura com o cheiro dos cafés quentes na minha mão, sinto uma sensação de conforto enorme.

Livros não se apaixonam, histórias não morrem, me sinto segura.

Encontro Olivia retirando livros novos de caixas de entrega, empilhando-os por gênero em cima de uma mesa de mogno. Faço menção do café, e ela pede para deixá-lo em cima da mesa.

"Adorei o vestido" ela comenta, antes de levantar e tomar um gole generoso de café.

"Obrigada, é uma relíquia da família", menti. Seria complicado explicar que tenho esse vestido a mais de quarenta anos.

Olivia sorri e começa a catalogar os livros que acabaram de chegar. Observo-a abri-los e anotar as identificações em pequenas fichas, que guarda em uma baixa na primeira gaveta de sua escrivaninha. Ela é precisa e rápida, mas isso era esperado considerando que fazia isso a anos. Assim como eu, Olivia voluntariava na biblioteca local por não precisar trabalhar, mas por motivos bem diferentes dos meus.

SirenaWhere stories live. Discover now