Tá vendo como eu posso surpreender?

- Não se eu puder evitar. - É tudo o que ele diz.

E então um balde de água fria com muitas pedras de gelo escorrem pelo meu corpo.

- Então ok – Dou de ombros.

Me viro e saio de perto dele, sem me dar ao trabalho de olhar para trás e ver sua reação. Eu não me importo com o que ele vai pensar de mim. Só quero ficar longe dele o máximo que puder.

Tento digerir tal atitude, mas descubro que por mais que eu tente, é ele quem sempre me surpreenderá. Senhor Fitz é um verdadeiro enigma ao qual eu estou sem um pingo de saco para desvendar. No segundo depois viro as costas e sigo, sem me importar se deixei meu chefe sozinho. Se há uma frase que reina quando estou ao seu lado é esta: eu não ligo.


***


Eu não bebo. Eu juro que eu não bebo. Nunca. Jamais. Não é algo que eu goste porque se eu bebesse, seria aquela deprimida que chora e liga para o ex e vai correndo comprar 37 gatos e mostrar para a sociedade o quanto é solteira e ninguém a quer.

Mas hoje é um dia atípico para mim. Não sei o que tenho, só sei que aguentar a presença do Senhor Fitz está me fazendo querer coisas que não costumo querer. E a propósito, acho que estou bêbada. Assim, beeeeeeeeeeeeem pouquinho. Só um pouquinho. Ou seria um pocão? Pouquinho? Pocão? Pouquinho? Pocão? Pocão... Que palavra engraçada. Poooooooooooocão. Poc. Poc. Pocão. Ou seria poucão?

Odeio o Senhor Fitz. Isso é tudo culpa dele. Não danço se puder evitar blábláblá. Cara chato. Mala. Idiota. O que há com ele? É um ser intocável? Eu sou o rei do mundo, não toque em mim!

O garçom acabou de passar com mais uma bandeja de bebidas ao meu lado. Peguei dois copos e bebi tudo de uma vez. Sede. Sede. Sede. Muita sede. Acho que está bom por hoje. Chega Lizzie, você é melhor que isso. Hora de ir embora antes de pagar mico.

Vou caminhando em direção ao estacionamento. Ai que droga, cadê minhas chaves? Procuro na bolsa e não encontro de jeito algum. Eu vim de carro, não vim? Jogo todo o conteúdo da minha bolsa no chão.

- Batom Red da MAC, você é uma chave? - Pergunto para meu batonzinho de embalagem preta, mas ele não me responde. - Não, acho que você não é uma chave. Espelho bonitinho, você sabe onde está minha chave? - O espelho também não quer falar comigo.

- Você não deveria dirigir.

Eu conheço essa voz. Claro que eu conheço essa voz. Bem vindo, o inferno é aqui.

- De tanta coisa para se preocupar, você acha que eu não deveria dirigir? - Pergunto, sem fitá-lo, e ainda tirando as coisas da minha bolsa, tentando encontrar minha chave.

- Papel amassado de bala, você escondeu minha chave? – Por que ninguém me responde?

- Você não pode dirigir assim. Sabe que não pode.

- Jura? - Ouso olhá-lo, pela primeira vez desde que ele apareceu no estacionamento e resolveu falar comigo.

Droga, por que ele tem que ser tão gato?

Senhor Fitz está em pé ao meu lado. Eu agachada, ainda procurando a mi...

- AH.QUE.DROGA.EU.VIM.DE.TÁXI!

Como eu sou idiota.

- Eu te levo.

- Você o quê?

- Eu te levo. - E então estende a mão para que eu possa me levantar, como se para ele essa fosse a atitude mais normal do mundo.

Senhor Fitz fez uma gentileza para mim? Lizzie Sanchez? Eu estou alucinando, né?

- Acho que bebi demais.

Ele é real? Eu estou sonhando? Jesus, entrei em um universo paralelo em que todas as pessoas ogras são legais?

- Definitivamente.

Ele ainda continua com sua mão estendida, mas eu não me mexo, apenas o fito.

Senhor Fitz deve ter pensado que sou ainda mais retardada quando bêbada, porque se abaixou para pegar todos os itens que eu joguei no chão e recolocar na minha bolsa. Nem fez piada quando pegou meu absorvente diário. Apenas fiquei olhando tudo, sem qualquer reação.

Oh céus. Quanta vergonha! Por que comigo?

- Consegue levantar?

- O que você quer? - Ai minha boca. Grande. Muito grande.

- Te levar para casa?

- Não. O que você quer?

- Não estou entendendo.

- Por que está sendo tão legal comigo?

- Como assim?

- Você me odeia.

Senhor Fitz enruga o cenho. Acho que acertei no ponto da ferida.

- Odiar? Você? Por que pensa isso?

- Porque você vive me criticando. Vive dando respostas evasivas. Reclama da minha postura...

Senhor Fitz sorri. O que eu falei para ele estar sorrindo?

- Elizabeth... e você sempre se vira me deixando falando sozinho. Poderia pensar que me odeia também. A propósito, você me odeia?

Por que, do nada, ele aparenta estar tão relaxado ao meu lado? Como se estivesse até se deleitando com a conversa. Ele sempre tão tenso, como se procurasse pela saída mais próxima a cada instante. Ou será que sou eu quem faz isso?

- Odiar é uma palavra muito forte.

- Eu também acho. No máximo o que pode acontecer é eu me apaixonar por você.


❤❤❤


Um encontro com Sr. DarcyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora