Capítulo 29

2K 243 73
                                    

Manu não queria acreditar no que tinha enxergado quando Léo o empurrou. Agora ele entendia por que o amigo estava tão perturbado. Léo havia beijado sua namorada. Tudo fazia sentido agora. O distanciamento de Babi e o fim do namoro. Manu se sentiu estúpido. Podia ter certeza de que até mesmo Jess sabia daquilo. Como sempre, ele era o único por fora da situação.

Quando viu na televisão uma notícia sobre um galpão que havia pegado fogo a algumas quadras do Colégio São Cipriano, na hora Manu percebeu que Léo estava envolvido. Era como se o amigo estivesse sempre fazendo algo errado, não importava quantas chances a vida lhe desse, ele sempre escolhia a pior alternativa. Manu sentiu-se machucado. Não era a primeira vez que os amigos o decepcionavam e certamente não seria a última. Anna. Anna o entenderia. Ela o explicaria o que aconteceu. Precisava visitá-la.

Manu colocou a calça jeans, uma camiseta preta e um cardigã cinza por cima. O clima estava esfriando em São Cipriano, uma massa de ar fria passava pela cidade alterando a temperatura.

– Aonde você está indo com pressa, Manuel? – gritou Jasmine.

– Na Anna. Você já a conhece ou precisa do CPF dela também? – respondeu Manu e fechou a porta com tanta força, sem se dar conta de como estava descontrolado.

A cada passo que Manu dava em direção à casa de Anna, as lembranças de Léo o atormentava. Léo havia beijado Anna e provavelmente tinha gostado do beijo. Por qual outro motivo ele não o contaria? Babi viu a cena e ficou irritada. Qualquer um faria o mesmo no lugar dela. Manu não tinha ideia de como reagiria se visse Léo com a língua dentro da boca de Anna na hora, só de ver em sua cabeça já havia ficado enjoado e bravo o suficiente por ter visualizado o que não queria – embora era melhor saber a verdade, não importava quão dolorosa fosse, a continuar sendo enganado por todos.

Manu não avisou Anna que estava indo até a casa dela. Por algum motivo qualquer, a namorada nunca o havia apresentado para a avó dela ou o convidado para entrar. Manu não se importava, desde que tudo entre os dois estivesse em paz. Não queria deixar Anna desconfortável. A avó provavelmente estava velha demais para aguentar um casal de adolescente se atracando no sofá de sua casa.

Estava tão concentrado na conversa que teria com Anna que Manu nem reparou em nada pelo caminho. Não se deu conta de como as folhas caíam da árvore graciosamente ou de como um gato preto chorava a morte de seu companheiro cinza que havia acabado de ser atropelado. Tudo o que Manu queria era escutar Anna lhe contando o que havia acontecido naquela noite e por que todo mundo havia escondido dele.

"Acho que é essa casa...", pensou Manu em voz alta, sem ter certeza de qual realmente era. Todas as casas do bairro de Annna eram parecidas, tinham a mesma estrutura, dois andares, uma porta de madeira, janelas amplas, e só se diferenciavam pela cor.

Manu ficou parado em frente a uma casa vermelha. Deveria ser aquela. Ele bateu na porta três vezes e esperou alguém responder, porém ninguém disse nada. Manu pegou o celular e ligou para Anna. Ele conseguia ouvir o aparelho tocando dentro da casa, mas ninguém atendia.

– Anna? – gritou Manu.

Preocupado com a namorada, ele girou a maçaneta lentamente e entrou. A sala não tinha nenhuma mobília, como se a pessoa tivesse acabado de se mudar ou algum ladrão tivesse feito a festa e roubado tudo. Que estranho!

– Anna, você está aí? – perguntou ele novamente, mas ninguém respondeu.

Manu andou pela casa. Não havia foto, sofá, televisão, nada. Só o vazio e a poeira, como se o lugar nunca tivesse visto uma vassoura e um pano antes na vida. Um arrepio percorreu o corpo de Manu ao ver as teias de aranhas nos cantos da casa. Que tipo de pessoa viveria numa casa como aquela? A namorada dele. Ele bem que poderia ajudá-la, se Anna pedisse ajuda.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora