Babi colocou as três cartas, uma ao lado da outra, enquanto Sylvanus a observava. Ele virou a primeira carta com o desenho de uma Lua.

– Bárbara – disse Sylvanus com um tom sério. – O seu passado foi marcado por discussões e negatividades, mas se não fossem por esses desafios você não seria quem é hoje.

Os olhos de Babi ficaram molhados. Ela se lembrou dos problemas com a mãe, dos olhares de reprovação de todos ao seu redor quando mudou o seu visual e pintou os cabelos de vermelho. Demorou para as pessoas se acostumarem com o seu novo estilo e para Babi se sentir bem novamente, ignorando os comentários negativos de Belinda.

O bruxo virou a carta que estava no meio e antes mesmo de saber o seu significado, Babi sentiu um arrepio percorrer o seu corpo e o medo inundar o seu coração.

– Não se assuste, criança – Sylvanus tentou tranquilizá-la, mas a expressão tensa no rosto de Babi entregava o que ela estava sentindo. – A carta do Diabo – o bruxo mostrou a carta com a imagem do diabo e dois demônios acorrentados ao seu lado – Você precisa tomar cuidado. Pela sua reação, percebi que algo errado está acontecendo em sua vida. A carta tanto pode estar ligada à sexualidade e emoção, quando a pessoa está bem, o que não parece o seu caso, como pode estar ligada à infelicidade, brigas e magia negra. Considere como um aviso sobre o seu presente.

A respiração de Babi ficou pesada. Ela queria sair de lá, não só porque estava com medo, mas por que temia saber o que a última carta revelaria sobre sua vida. Babi se lembrou de Léo e pensar nele fez o seu coração doer, da noite para o dia os dois não estavam mais juntos. Ninguém podia julgá-la ou saber o inferno que ela estava passando naquele momento. Não era por que Babi tinha terminado o namoro que ela não gostava mais de Léo, pelo contrário, ela o amava como nunca tinha gostado de ninguém antes, mas não podia deixá-lo machucá-la novamente. O que Léo e Anna fizeram foi errado e por mais que Babi tentasse perdoá-los, ela jamais esqueceria.

– Você pode virar logo a última carta? Estou morrendo de ansiedade aqui.

– Paciência, minha jovem. Mas se é o que deseja... – Sylvanus virou a última carta da direita e revelou a imagem de um esqueleto revestido com uma pele e foice nas mãos, como se a criatura estivesse ceifando o chão repleto de plantas, cabeças, mãos, pés e outros restos humanos.

Babi ficou tão desesperada que o seu inconsciente invocou o elemento Ar dentro da sala e o vento fez a porta bater com tanta força que ela gritou.

– Isto significa que eu vou morrer? – Se aquilo fosse uma brincadeira, Babi não estava gostando nem um pouco. – Pensei que as pessoas consultassem o tarot para se animarem, não para saírem arrasadas daqui. Obrigada... – Babi se levantou prestes a ir embora.

– Não terminamos ainda. Sente-se e vou revelar a última carta.

– Que carta? Você está mentindo para mim, eu já tirei as três cartas.

– As cartas não mentem, Bárbara – Sylvanus a encarou nos olhos. – Vejamos...

Sylvanus segurou o baralho, tirou uma carta e a colocou virada sobre a mesa.

– Está pronta?

Ele abriu um sorrisinho no rosto. Sylvanus se divertia surpreendendo as pessoas com seu tarot, até mesmo os mais céticos se rendiam quando as cartas adivinhavam o que estava acontecendo em suas vidas.

– Olha, depois de ver uma Lua, o Diabo e a Morte. Não sei o que poderia aparecer de pior. Pelo visto, eu posso morrer a qualquer minuto.

– A carta da Morte não significa necessariamente que você vai morrer, mas pode, sim, significar morte biológica. A carta também simboliza purificação, transformação, renascimento.

Babi parecia estar um pouco mais calma. Esqueceu-se de que a morte poderia ser simbólica, como morrer para alguém que você tanto gostou e de uma hora para a outra já não se importar mais. "Só pode ser Léo. Vou esquecê-lo, seguir em frente e logo ele estará com uma nova namorada", pensou. Babi viu o medo se transformar em raiva.

Sylvanus virou a última carta e a imagem do Sol e de duas crianças sob o astro brilhou sobre a mesa.

O sol nasce para todos, o pensamento passou pela cabeça de Babi.

– A carta do Sol simboliza que sua vida será iluminada, cheia de felicidade e amor. Todas suas inseguranças e angústias darão lugar à clareza e sinceridade.

Babi abriu um sorriso, sentindo-se esperançosa novamente.

– Está vendo a importância de ter paciência, minha criança? Imagine se você tivesse ido embora sem esta última carta, o que você estaria sentindo.

– Você tem razão, Sylvanus. Me desculpe! Às vezes, sou muito impulsiva. Obrigada.

– Agradeça às cartas.

– Será que algum dia você pode me ensinar a usá-las?

– Quem sabe um dia... – Sylvanus deixou um clima de mistério, feliz por mais uma cliente satisfeita com seu serviço.

A menina estava tão alterada quando entrou na loja que nem percebeu que já estava mais calma. No entanto, Babi sabia que precisava encontrar o equilíbrio. Não podia mais causar estragos com o vento sempre que algo desagradável acontecesse e ela guardasse toda a raiva e o sofrimento dentro dela.

– Acenda esses incensos todas as noites durante esta semana. Aliás, você e seus amigos precisam criar o hábito de meditar e purificar suas mentes diariamente, se quiserem se conectar melhor com seus elementos e com a magia.

– Só isso? Não tem algo mais forte? Não suporto pensar naquela garota dando em cima do meu namorado, quer dizer, meu ex-namorado, quando ela namora o meu amigo.

– Não entendi o que você disse, mas me parece que você está com alguns problemas e precisa resolvê-los logo – disse Sylvanus tão tranquilo e feliz, que Babi riu dele. – Leve esta ametista. Carregue-a sempre com você e ela vai te proteger e ajudar a se equilibrar – ele a entregou uma pedra pequena de cor violeta.

– Obrigado, Sylvanus!

Babi pagou a conta com o cartão de crédito de Belinda que a jovem pegou sem avisá-la. Ela estava sem dinheiro. O pai estava viajando para um congresso de cirurgiões plásticos e Babi jamais teria coragem de pedir para a mãe o dinheiro. A mulher faria mil perguntas e colocaria a filha mais para baixo ainda.

Quando chegou a sua casa, Babi colocou o cartão de crédito discretamente na bolsa de Belinda e correu para o quarto com seus incensos e a ametista. Precisava de um pouco de equilíbrio. Não sabia dizer exatamente o que as cartas disseram para ela, mas Babi considerou-se avisada.

Acendeu o incenso, cruzou as pernas e com as duas mãos Babi segurou a ametista, como se ao mesmo tempo em que passasse suas energias para a pedra, ela a energizava de volta. Babi fechou os olhos e se permitiu a parar de pensar no beijo de Léo e Anna, no fim do seu namoro, na mãe, em como sua amizade com Jess parecia ter regredido, em tudo o que a incomodava ultimamente.

Uma hora de meditação. Depois do jantar, Babi estava tão relaxada que logo foi para cama. Não sentiu vontade de olhar notícias sobre os famosos, de assistir televisão ou se preocupar com a roupa que usaria no outro dia. Nada daquilo importava. Babi queria ficar bem consigo mesma e equilibrada, mesmo que o mundo estivesse desabando. Precisava encontrar paz em seu coração, antes que destruísse tudo ao seu redor e afastasse as pessoas importantes de sua vida.

O Círculo - Os Bruxos de São Cipriano Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora