- Complicado... - Murmuro passando a mão na nuca dolorida. - Foi uma noite e tanto, não?

-Digamos que foi um final de semana e tanto. Bom, não quero atrapalhar seu dia e da sua família. Só liguei mesmo pra saber como você estava... -Ela diz em tom de despedida, mas não quero que desligue.

- Você não atrapalha, moça. - Digo tão automático que não sei como recolhê-lo. Olivia pediu um tempo e preciso respeitar isso, embora algo lá no fundo diga o contrário. - É... Eles estão bem por aqui. Na verdade, preciso mesmo é me afastar um pouco sabe...

- Quer conversar?

- Quero...

- Pode vir aqui em casa se quiser... Ou irmos em algum lugar!

- Caminhar seria uma boa... No parque perto da sua casa, pode ser?

- Por mim tudo bem. Encontro você lá.

- Te vejo em meia hora então... - Não sei como terminar então ligo o modo casual outra vez. - Até mais, Liv!

Olivia desliga sem dar resposta. Fico segurando o telefone por alguns segundos. Com a mente vazia subo para um banho rápido. Pego as chaves do carro e apenas aviso a Leah que vou sair. Não digo onde e nem com quem. O trajeto de carro leva quinze minutos. Estaciono numa vaga da entrada do parque. O dia está sol e bem claro. Desço do carro vendo que Olivia está a minha espera sentada no banco a poucos metros dali. Ela não sorri largamente a me ver como sempre fazia. Seu rosto apresenta um pequeno vislumbre de sorriso. Ela levanta. Tiro os óculos de sol, penduro na camisa e dou-lhe um beijo na bochecha.

- Bom dia. Te fiz esperar muito?

- Não, acabei de chegar...

- Que bom. - É o que consigo dizer. Minha mão normalmente ia segurar a dela, hoje não. Olivia as tem próximas ao corpo. Sinal de reserva. Coloco as minhas nos bolsos do jeans. - Podemos ir então...

Nos dirigimos para a pista onde as pessoas costumam caminhar e correr. Encaramos o chão e temo que fiquemos nesse silêncio desconfortável por mais tempo, mas Olivia começa um diálogo.

- Já conversou com o seu pai? - Diz direta.

- Já. - Suspiro pesado. Relembrar dói ainda mais que o momento onde isso aconteceu. - Ele tentou de todas as maneiras dizer que não tinha sentido o que estava o acusando. Porém, como diante das provas não há argumentos, então... Fiz pressão nele. Foi muito cansativo e desgastante. E foi aí que tudo veio à tona. Meu pai estava disposto a "não ter um filho vagabundo que não dava a mínima para o legado da família." - Repetir machuca meu coração novamente. - Ele não entende que é minha vida, é minha e que deveria apoiá-la. Será que estou cometendo um crime tão grave assim por querer ser feliz? - A pergunta é retórica. Olivia respira fundo e não diz nada. Continuo. - Não sei o que ele espera de mim, sinceramente. Mas agora isso parece tão pequeno diante o mal que causou a você e que fiz parte também. Até agora busco respostas para o que aconteceu com a gente. Me perdoe por ter acreditado no Peter... Foi um erro grande mesmo, eu sei. Estou arrependido e faria qualquer coisa para repará-lo, se pudesse.

Ela desvia o olhar e observa os próprios passos ao caminhar.

- Eu disse à você que nada tinha acontecido... -Comenta sem muita vontade.

- Me arrependo disso, Olivia. Muito. - Ela está magoada e não a culpo.

- Foi difícil encarar seu olhar aquele dia. Tão... Julgador. Eu entendo que plantaram essa desconfiança entre nós, mas por que acreditar tão fácil?

- Faço a mesma pergunta. Todos os dias... - Confesso. -Pensei que queria me dar uma lição, sei lá... Fiquei cego a um ponto que saí da realidade.

- Pensei que me conhecesse melhor que isso... Eu estava do seu lado. Mesmo descontente, respeitei seu espaço e você interpretou tudo errado. Eu juro que tento me colocar no seu lugar, mas não é fácil. Não quando duvidam do meu caráter assim... - Cada palavra dita por ela me faz perceber o quanto mal a fiz. Não quero pensar assim, mas parece irreversível.

25 - LP.Jackson Where stories live. Discover now