Capítulo 50

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Mel.

Juro que eu não estava esperando por isso. Mesmo quando fui ao mercado há dois dias e percebi que as grandes máquinas haviam voltado. Fiquei com um nó na garganta durante o dia todo. Não quis pensar no assunto mesmo quando meu coração gritava e batia tão forte no peito apenas com a ideia que se passava por minha cabeça. Apenas com a possibilidade. Eu lembrava muito bem o que viera junto com esses acontecimentos da outra vez, e nem em um milhão de anos eu imaginaria que aconteceria de novo. Na verdade, eu não queria pensar no assunto. Não queria analisar o que tudo aquilo significava. Mesmo já tendo uma certa ideia.

Não esperava também ficar tão agitada com a ideia de tudo aquilo ter tanto poder sobre mim. Eu e o Rafael estamos nos dando bem. Estamos indo devagar. Não temos nada formal ainda, mesmo que eu veja em seus olhos o quanto ele quer isso. O quanto ele quer que nós assumamos um relacionamento sério. Eu apenas decidi esperar, para ver se era aquilo mesmo que meu coração queria.

Mesmo sabendo desde sempre o que meu coração sempre quis.

E eu decidi ignorar!

Eu estou tentando ignorar agora mesmo a avalanche de emoções incontroláveis que estão me invadindo.

Eu não acredito que ele está aqui!

Meu coração bate tão forte que eu tenho medo de acabar passando mal. Minhas mãos estão suando, e eu estou lutando contra o impulso de correr até ele e abraçá-lo, e beijá-lo. Mas eu não vou fazer isso.

Eu o odeio!

Odeio!

Odeio por ele ter ido embora. Odeio por ele ser um cretino insensível. Eu não quero amá-lo. Não quero sentir nada disso que estou sentindo agora. Eu queria poder desligar tudo o que ainda resta em mim que está diretamente ligado a ele. Eu me sinto uma idiota por ainda amá-lo depois de tudo.

Odeio ainda sentir tudo isso...

Ele ainda está ali. Parado. Com as mãos nos bolsos. Seus olhos vagueiam por todos os lugares como se estivesse observando o lugar e param em mim de cinco em cinco segundos.

Vê-lo agora depois de tanto tempo me dá vontade de chorar. Ele continua tão lindo como na última vez em que eu o vi. Seus cabelos não são mais longos, estão agora em um corte bem feito. Sua barba está maior também, suas roupas são mais formais, sua postura também. Ele parece mais velho, mas mesmo assim sem perder seu ar jovial. Ele ainda é o homem por quem me apaixonei há três anos. Ele ainda é o dono do meu coração. Ele é o pai do meu filho. Ainda é ele, e depois de tanto tempo eu ainda sinto a mesma coisa, só que mil vezes mais forte e mil vezes mais dolorosa.

— Não sabia que tinha voltado. – Murmuro depois de vários minutos constrangedores em que não parávamos de nos encarar.

Ele suspira alto como se fosse um alivio ouvir algo saindo da minha boca.

— Eu cheguei hoje. - Diz com os olhos verdes injetados em mim, e assim, tirando o ar dos meus pulmões. – Não tem muito tempo.

Obrigo minhas pernas a ficarem firmes enquanto me levanto da cadeira, encontrando forças dentro de mim para não fraquejar agora. Não posso fraquejar. Dou alguns passos até ele para encará-lo de perto.

Não posso chorar agora.

Encaro seu rosto. O rosto que está em meus sonhos todas as noites. O rosto que me persegue há tanto tempo. Os mesmos traços que enxergo em meu filho todos os dias. Seus olhos ainda transmitem o mesmo amor, o mesmo carinho. E isso é demais para mim. Eu realmente não sei o que dizer. Eu não sei como agir. Eu deveria ser educada? Deveria ter uma conversa normal? Ou eu deveria seguir meus extintos e jogar toda essa raiva e frustração que eu alimentei e que cresceu, e muito, durante esses três anos?

Sob Minha PeleWhere stories live. Discover now