Capítulo 31

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Mel.

Eu senti tanta a falta dele. No fundo eu sabia que ele não iria me enganar, entretanto eu fiquei tão cega com o ciúme e com a raiva. Eu estou me sentindo estranha nos últimos dias. Os sentidos a flor da pele.

Eu me senti com raiva por estar sozinha, por ele estar longe, e ainda mais com o ciúme que senti, apenas de imagina-lo com outra mulher. Mesmo sabendo que eu vou ter que conviver com isso, talvez para sempre.

Talvez ele me entenda.

De um certo modo, eu vi aquele telefonema como um jeito de fazer esta conversa ser menos dolorosa. Eu estava enganada. Eu nunca estive tão assustada antes. Eu queria poder adiar isso.

Era muito mais fácil acreditar, do que ter certeza de tudo o que eu iria perder. Eu não quero perdê-lo, mas isso quem irá decidir vai ser ele.

Quando eu era criança eu morria de vontade de ter um bichinho. Qualquer que fosse, porém minha mãe me achava muito nova para ser responsável por um bichinho de estimação. Então ela me levou em uma loja de brinquedos e disse que eu poderia escolher qualquer coisa que eu quisesse. Eu fiquei em dúvida entre uma boneca do meu tamanho, e outra que parecia um bebê de verdade. Eu fiquei um bom tempo tentando me decidir, até que finalmente minha mãe teve pena de mim e me deixou ficar com as duas. Eu me lembro de ter achado que tomar aquela decisão seria tão difícil, ter que escolher entre duas coisas que eu queria muito. Claro que minha escolha agora vai ter uma dimensão maior. Agora eu tenho algo a perder, dos dois lados. E minha mãe não está mais aqui para tornar as coisas mais fáceis.

Eu preciso decidir sozinha. E desta vez, eu não vou poder ter os dois.

– Então você sentiu minha falta. – Diz John com a voz rouca de contentamento.

Ele acaricia meu cabelo. Eu estou deitada em seu peito, no lugar onde eu me sinto mais segura, mais amada.

O quarto está escuro a não ser por uma fraca luz que ultrapassa as grossas cortinas. Parece tudo tão calmo. E eu gosto disso. Gosto de um pouco de calmaria no meio do furacão.

– Por que você está tão quieta? – John pergunta.

Em resposta eu apenas agarro sua cintura com mais força o abraçando com tudo o que eu tenho. Tenho medo de abrir a boca e acabar com tudo isso. Eu só preciso de mais alguns minutos de calma, de sossego. Estou tão cansada de estar sempre em movimento, de estar sempre com a cabeça a mil. Eu só quero que tudo pare, para eu poder respirar. Seu peito sobe e desce com sua respiração suave. Sua respiração é como música para os meus ouvidos. Ele está aqui. Ele está perto. Ele está comigo.

– Você não me respondeu. – Ele diz suavemente.

– Nada. – Respondo suspirando. – Eu só estou meio cansada eu acho. - Digo não querendo me aprofundar no assunto. Minha menstruação deve estar perto. Eu sempre me sinto estranha naqueles dias.

– Você devia descansar mais. Você trabalha demais. – Ele beija o topo da minha cabeça com docuça. - Às vezes eu tenho a impressão de que os únicos momentos em que você para é quando está comigo.

Não é uma impressão.

Levanto-me e viro-me para vê-lo e ele sorri para mim. O sorriso que faz meu coração disparar, o sorriso que faz todos esses dias em que estivemos juntos valerem a pena. Cada segundo.

– Eu te machuquei? - Pergunto me sentindo culpada. Ele parece estar confuso com a minha pergunta. – O prato que eu joguei em você. – Digo sem jeito me sentindo uma louca completa.

O problema é que eu sou muito impulsiva. Eu não consigo me segurar. Eu quero sempre resolver tudo na base da pancada. E eu estava com tanta raiva dele, eu realmente queria machucá-lo, assim como eu estava me sentindo machucada.

Sob Minha PeleWhere stories live. Discover now