Capítulo 1

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Trabalho em uma Revista chamada Acontece! – nome não muito criativo, mas acontece (e me perdoe o trocadilho desde já) - sobre cultura e entretenimento. Cubro as sessões de música e volta e meia entrevisto algum cantor ou banda famosa. Isso sim é demais! E eu amo o que faço. Amaria mais um pouco se o Maroon5 aparecesse aqui e eu pegasse uma coletiva exclusiva com o Adam Levine. Mas vai, nada é perfeito. Acontece.

Eu sempre quis fazer jornalismo. Ao menos seguiria algo da minha mãe. Ela foi repórter de um jornal pequeno por vinte anos. Algumas vezes, ainda criança, acompanhava seu trabalho cobrindo reportagens noturnas. Achava aquilo tudo uma grande aventura e desde cedo sentia que era o que queria para o resto dos meus dias. Pronto, mamãe, não vou desapontar. Não nessa parte.

Como sempre, já estou divagando sobre a vida de novo. É incrível como eu sempre faço isso e fico me atrasando para o trabalho. Agora de manhã temos uma reunião. Nossa Revista foi vendida para dois sócios que serão apresentados hoje. Ouvi dizer que um deles é o cão chupando manga.

Esse tipo de boato, por certa experiência, aprendi que é sempre verdade. Por isso, melhor não me atrasar. Não quero correr o risco de passar o próximo mês circulando opções no Classificados.

Abro a janela do meu quarto só para dar uma olhada em como está o tempo e poder decidir na roupa do dia. Um vento fresco e delicioso invade minha face. São Paulo tem feito um clima legal até. Parou aquele calor todo e deu uma amenizada na temperatura e umidade.

Ainda bem! Assim posso escolher minha blusa cor de gelo com botões que lembram pérolas. Meu blazer verde folha - eu acho, sou meio complicada com nomes de cores, - da Zara e que eu adoro, além de uma legging preta da Forever 21 que comprei semana passada porque a minha já estava meio velhinha. Uma bota Schutz cano baixo, porque eu amo o meu salário e minha bolsa preta que ganhei de presente de uma amiga do trabalho.

Estou digna de impressionar os tais novos sócios. Não que eu queira dar em cima deles, pelos céus. Mas no meu trabalho, aparência é tudo. Afinal, lido com gente famosa e importante o tempo todo.

Ou quase isso.

Peguei a chave do carro, que eu praticamente nunca tiro da garagem, mas como minhas botas não me permitirão andar muito, é isso mesmo. É um Palio ano 2010 que ganhei de presente do meu pai. Antigo mas em perfeito estado. E melhor, ele funciona!

Sorte de a Sede ser perto de casa. Eu mal pego trânsito.

Não conseguiria viver sem meu carro se vivesse em outro século.

Como eu disse, nada de trânsito. UFA! Em menos de meia hora estou batendo o meu ponto e abrindo a porta da sala de reunião. Algumas pessoas já estão sentadas, fofocando sobre assuntos realmente insignificantes, como, se os sócios são ricos e que, se sim, se são solteiros.

Argh!

Pego uma cadeira para me sentar e trato de tirar logo meu bloco de anotações da bolsa, mas não sem antes reparar que Clarice, uma das jornalistas que cobre os eventos culturais meio cult-alternativo e minha amiga, passou reboco demais na cara mega pálida dela. Sei lá, o blush à la chinelada, se é que me entende, com esse batom vermelho meio que fizeram pensar que maquiagem não é o forte dela. Tadinha, ao menos tentou.

Olho ao redor e percebo que muito mais gente tentou também. Até Gustavo comprou roupas novas. E eu sei que são novas porque ele tem um look único para cada dia da semana, e pólo roxa com blazer de couro marrom não é sua vestimenta de segunda-feira. Vai que os sócios são gays. Vale tudo, pelo que reparei.

Aqui na Acontece! não temos aquela política de empregados não poderem namorar uns com os outros. É tudo bem livre. De modo que já teve jornalista se amassando com redator. Editor tendo um rolo com sei lá quem da contabilidade. Nada muito sério. Agora sócio, se rolar, vai ser novidade. Eu voto na Clarice. Esse blush dela já está começando a me dar pena. E eu juro que estou me segurando para não gargalhar na cara dela. Juro que estou.

A gente perde a amiga, mas não perde a piada, não é assim o ditado popular?

Meus pensamentos são bloqueados porque, como urubu na carniça, todo mundo vira para a porta ao escutarmos ela abrindo. Mulheres, é hora de desabotoar a roupa, menos Lizzie – claro. - Estou mais concentrada em olhar para a reação das pessoas do que para quem acabou de entrar na sala.

A Clarice por sinal ficou parecendo um tomate. Toda vermelha. CARACA o blush dela tá uma coisa muito linda. Não aguento. Não aguento mesmo. Eu preciso rir. PRE-CI-SO.

Sem poder me segurar mais, solto um leve riso. Que droga! Agora todo mundo se virou para olhar para mim. Simplesmente todo mundo. Como se eu fosse malabarista de circo que não consegue acertar o número e deixa cair tudo, decepcionando o público que assiste. Eu juro que tentei segurar. Mas não aguentei. E quando me viro para a porta, desconcertada, o vejo.

❤❤❤

Um encontro com Sr. DarcyWhere stories live. Discover now