Capítulo 33 - Em Scaban as coisas são ácidas. Parte I.

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Amélia.

Uma semana antes.

- Eu realmente não... - comecei a dizer, firme, negando com a cabeça a xícara que me era estendida.

- Apenas fique quieta e tome esse chá. - Salen ordenou, sem paciência, segurando a sua própria xícara com a sua única mão.

- Tem veneno aqui, não tem? - perguntei, cruzando os braços e continuando a ignorar o braço estendido do bruxo.

- Veneno? - Salen pareceu ofendido. - Eu não sou o tipo de homem que usa desse tipo de covardia. Prefiro que o inimigo perceba que eu estou o matando. Veneno tira a graça das coisas. - completou, sorrindo torto logo em seguida. Encarei-o, sem achar graça alguma. Ele bufou. - Apenas tome, Amélia.

- Eu não gosto de chá.

- Então beba água. - disse, fazendo um sinal para que o bruxo capacho se retirasse, com a xícara.

- Não quero beber nada. - retruquei, limpando minha mão suada em meu vestido.

- Eu quero que você beba algo.

- Eu não ligo pro que você quer. - Salen respirou fundo.

- Depois de ter me matado acho que o mínimo que você poderia fazer seria aceitar um gole d'Água.

Continuei a encara-lo, sem reação.

- Acho que estamos invertendo os papéis. - comecei, cruzando os braços. - Você me matou primeiro.

- Eu parti seu pobre coração? - debochou, imitando a minha voz.

- Você espetou uma lança no meu peito. - retruquei, séria, o que o fez sorrir.

- Puxa...é verdade! - cruzou as pernas, orgulhoso. - Foi antes de você enfiar uma em mim, não foi? - ainda sorria, se divertindo. - Minha memória não anda das melhores, me perdoe.

- Compartilhamos da mesma morte. Sim.

- Morte? - bebeu um gole de seu chá. - Você parece bem viva para mim.

- Posso dizer o mesmo de você.

- Pois é. Irônico, não? - agora ele não sorria mais.

- O que é irônico? - perguntei, confusa.

- Estarmos aqui, mais uma vez. Depois da morte. - fez uma pausa antes de finalmente completar. - Juntos.

- Eu não tive muita escolha, na verdade. - disse, me lembrando de como havia sido sequestrada junto com Hayley naquela noite em Matri. Desde então, não sabia o que tinha acontecido com minha neta.

- Como foi então? - Salen perguntou, sério, me tirando de meus pensamentos.

- Como foi o que?

- Que você renasceu. - bebeu mais um gole de seu chá. - Você realmente chegou a morrer?

- Eu não lhe devo satisfações. - fui firme, o que o fez dar de ombros.

- Quer que eu comece, é isso?

- Eu não quero nada.

- Você fica linda quando esta brava. - disse, sério. O que me causou arrepios. Lembrava muito bem das últimas vezes que ele havia me chamado de linda. E  sempre havia acabado mal. - Aliás, você fica linda sempre. Aposto que nossa filha é tão linda quanto.

Engoli a seco. Aquilo não devia me afetar mais. Fazia tanto tempo...

- Nossa filha está morta. - disse, de uma vez, o mais firme possível.

Scaban [Completo]Where stories live. Discover now