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_Não...Não! Me solta, por favor, não me coloca lá de novo! - gritava se debatendo na cama - Eu sinto muito...não...de novo não...
_Any, meu amor...acorda fadinha. - Alfonso correu para quarto deixando o advogado falar sozinho - Minha linda acorda.
_Eu...eu não posso...não me deixa aqui... - chorava desesperada.
_Any, por favor meu bem, acorda. Você tá me assustando. - e realmente Alfonso estava muito assustado.
_Eu quero voltar pro orfanato... - Anahi disse desesperada - Eu quero o Poncho.
Só então Alfonso percebeu que não era apenas um pesadelo, eram lembranças. Lembranças horriveis.
_Any, fadinha, abra os olhos meu amor. Eu to aqui. - segurando-a em seus braços começou a distribuir beijos por todo o rosto de Any até que finalmente, entre lágrimas e soluços ela acordou.
_Você...você me deixou sozinha. - reclamou assim que conseguiu se controlar.
_Meu amor eu só precisei atender um telefonema. - acariciou os cabelos dela, ninando em seu colo.
_Eu não gosto que você fique longe...quando estou com você, eles não aparecem. - resmungou contra o peito dele.
_Esses pesadelos Any, são lembranças, não são? - perguntou num tom suave e carinhoso.
_Sim. - respondeu tão baixo que ele quase não ouviu.
_Você confia em mim o suficiente pra me contar sobre isso? - segurou o queixo dela para que o olhasse - Se não quiser contar meu amor, eu vou entender.
_Eu confio em você Poncho, mas é tão ruim lembrar. - Anahi estremeceu nos braços dele.
_Mas você lembra disso todas as noites meu amor.
_Não nas noites em que estou com você. - respondeu tímida - Me sinto tão segura com você. - o abraçou mais forte e suspirou - Eu preciso te contar.
Vários minutos se passaram até Anahi começar a falar.
_O casal que me adotou, eles já tinham um filho de sangue, ele tinha 16 quando fui adotada. Ele vivia implicando comigo e aprontando, quebrava algumas coisas, rasgava outras e sempre colocava a culpa em mim. - engoliu em seco e respirou fundo - Todas as vezes eu era castigada, eles...eles... - seu corpo começou a tremer.
_Eu estou aqui meu amor, eu estou aqui. - acariciou os cabelos dela.
_Eles me jogavam no porão, trancavam a porta, apagavam as luzes e me deixavam lá por dois dias, sem comida. Só um pouco de água, as vezes.
Alfonso praguejou baixo contra o cabelo dela, os músculos tensos. Sua vontade era ir atrás daquelas pessoas e mata-las.
_Quando fiz quatorze anos, ele começou a me...me procurar. Sempre tentava me tocar. - fechou os olhos com força e voltou a chorar - Eu...eu sempre conseguia fugir ou...ou me manter distante, mas naquele dia...os velhos saíram, eu estava sozinha e ele chegou... e me agarrou. Eu não conseguia fugir...
_Any... - Alfonso se assustou com a tensão dela, que tremia sem parar.
_Os velhos voltaram pouco antes de...de...
_Eu entendi meu amor. - tentou ajudá-la e Any assentiu grata por não precisar usar as palavras.
_Disseram que eu era a culpada...que eu provocava demais...o velho usou um dos chicotes dos cavalos pra me bater a me jogaram de novo no porão. Estava tão escuro e tão úmido, eu lembro que chovia muito naqueles dias, eu tentei me erguer pelas mãos, mas o chão estava cheio de cacos de vidro. Então eu não me mexi. - secou o rosto e respirou fundo - Eu lembro que gritei, pedindo pra me tirarem de lá, mas não sei se realmente gritei ou se foi só ilusão. As minhas costas ardiam a estavam molhadas, o sangue das feridas...
Alfonso gemeu alto a sua mão congelou sobre as costas dela, sua fadinha tinha sofrido tanto e ele não estava lá pra salvá-la.
_Eu desmaiei e quando acordei estava no hospital. Uma amiga minha percebeu que eu estava faltando há dois dias já e eu nunca faltava Poncho...nunca. Então a professora foi até em casa e como se recusaram a recebe-la voltou com a polícia e me encontraram.
_Quantos dias Any? Quantos dias você passou lá sozinha?

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