Capítulo 3 - Voltando a rotina

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- Amor, já são 9h. Você não iria até o consultório hoje?- Dizia Frence ao abrir bruscamente as cortinas. A forte luz solar que adentrou no quarto fez com que meus olhos ardessem, então coloquei uma das mãos no rosto para impedir que a luz não atrapalhasse mais a minha visão.

- A primeira consulta são às 10:30 - eu disse em meio a um bocejo - não se preocupe chegarei a tempo.

- Querido, o trânsito pode estar engarrafado. Não pode deixar os pacientes esperando - ela dizia sem olhar para mim. Pegando o cesto de roupas sujas que estava no banheiro e colocando mais algumas peças que estavam no armário, ela caminhou apressadamente em direção à porta. Então parou subitamente e me encarou antes de sair.

- Não vai se levantar?- ela ergueu uma das sobrancelhas, seu tom de voz era de impaciência.

- Já vou descer meu bem. Vou tomar um banho, quer se juntar a mim? Dei um breve sorriso. Ela levantou o cesto como demonstração de que tinha outra coisa a fazer, mas torceu um pouco a boca, típico de quando estava indecisa. Acredito que estava pensando em como resistir a minha oferta.

- Bem... Parece-me tentador, mas não sou eu quem precisa abrir um consultório em menos de 2h. Ande rápido meu bem, senão vai se atrasar. - e saiu já gritando alguma coisa para Margô.

Eu deitei novamente a cabeça no travesseiro e fiquei olhando para o teto. A luz artificial do quarto era expandida por um lustre candelabro, estilo treviso redondo, revestido por um cristal genuinamente transparente, que quando se encontravam com a luz do sol, iluminava ainda mais o quarto. Ouvir aquele cintilar dos cristais após serem movimentados pelo vento me acalmava. Na verdade, eu não queria levantar, porém tinha responsabilidades. Uma hipoteca, três filhos e esposa, despesas adjacentes, dentre outras coisas que não me deixariam permanecer deitado.

Depois de tomar um banho rápido, desci as escadas tentando dar um nó na gravata. Margô passou tão rápido na minha frente que quase não consigo parar para não me chocar com ela. Assim que virei em direção à sala de estar, Anne passa tão rápido quanto Margô e aos berros chama pela irmã.

- MARGÔ! ME DEVOLVE O TEO!- Teo era o ursinho de pelúcia de Anne.

- Hoje vocês duas acordaram pilhadas hein! - Eu disse, mas elas já tinham sumido de minha vista.

- Sai da frente, está atrapalhando a passagem - disse Tobias ao passar por mim seguindo em direção à cozinha.

- Bom dia para você também. E olha o modo como fala comigo - eu e Eric não nos dávamos muito bem. Eu o peguei fumando maconha na porta do colégio no final do ano passado. Briguei feio com ele. Desde então não conversamos mais direito.

- Você não aprende mesmo não é? Deixa-me arrumar essa gravata para você. Frence apareceu de repente e me assustei um pouco. Ela sorria enquanto dava o um nó Windsor na gravata listrada que ela mesma deu de presente.

- Pronto, agora está apresentável. Ela observou feliz o trabalho que tinha feito. Dei um beijo em sua testa e abri um sorriso amarelo. Frence suspirou.

- Desculpe meu bem, eu sei que você não tem dormido bem ultimamente. - ela passou delicadamente a mão em meu rosto e observava, com olhos fixos, as minhas olheiras. Eu tentei desfaçar o desânimo dizendo que está tudo bem, que um pouco de trabalho me faria bem. Ela sorriu com carinho, mas sabia que estava mentindo para não deixá-la mais preocupada.

- Eu te amo - ela disse

- Eu também te amo, já vou indo. Comprarei café no caminho.

- Tudo bem, bom trabalho meu amor, até mais tarde. Ela me abraçou e entregou-me a minha maleta que havia pegado em cima da mesa da sala.

O MISTÉRIO DE HELENA - (EM HIATO)Where stories live. Discover now