Capítulo 1 - O convite

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Há muito tempo me disseram que para um homem se sentir realizado e satisfeito com a vida, ele deveria ter sucesso profissional, uma boa casa, uma família constituída. Porém, eu não me sentia realizado, muito menos satisfeito. Ao auge de meus 46 anos, eu tinha tudo o que um homem pode ter para se orgulhar, contudo não me sentia bem, sentia um vazio dentro de mim.

Quando era jovem decidi que cursaria psicologia, devo dizer que sofri certa influência por parte de meus pais que trabalhavam na área, minha mãe era recepcionista de um consultório de psicologia e meu pai era formado em psiquiatria.

Passei em Princeton com bolsa integral quando tinha 18 anos e após me formar especializei em Neuropsicologia na mesma instituição. Ganhei vários prêmios acadêmicos, sendo que um deles era de melhor aluno do curso. Contudo, o real reconhecimento veio três anos mais tarde quando comecei a trabalhar no Hospital Universitário de Newark como psicoterapeuta, onde ajudei em vários casos achando o diagnóstico e estabelecendo possíveis tipos de intervenção e reabilitação para os pacientes. Neste período vi que um item da lista já estava completo, o sucesso profissional.

Com o dinheiro que ganhei comprei um apartamento em Nova York, e foi lá que conhecia Frence, minha esposa. Ela cursava o último ano de direito quando começamos a namorar, três anos mais tarde nos casamos, eu tinha 26 anos.

Frence ganhou muito dinheiro como advogada da vara de família. Ela almejava ser juíza, porém largou os tribunais após engravidar de nosso primeiro filho. Ao todo tenho três filhos Erick de dezesseis anos, Anne de doze anos e a pequena Margareth, mas a chamávamos de Margô, de seis anos. Chegamos a ter outro bebê, mas morreu ao nascer. Como a família é grande, vendi o apartamento em Nova York e compramos uma casa no interior da cidade onde minhas lembranças das conquistas profissionais faziam morada Newark, Nova Jérsy. Abri um consultório na Hunterdon Street. Newark não era uma cidade pacata, mas não era tão frenética quanto Nova York, gostava de morar lá, porém com o passar dos anos o brilho se perdeu.

Eu havia completado todos os itens da "lista da felicidade", mas não me sentia realmente feliz. As conquistas e os desafios profissionais já eram escassos, achei que montar o próprio consultório me traria novos desafios, me enganei. O meu retrato já não se encontrava na ala de psicologia e psiquiatria do hospital universitário, meus certificados e medalhas já estavam empoeirados no sótão da casa onde morava. Via minha juventude ir junto com os últimos fios pretos do meu cabelo, meus filhos já quase todos crescidos. O jovem que outrora era forte, rápido, galante e que adorava ser desafiado foi embora e deu o seu lugar para o meu novo eu, esse senhor de meia idade com cabelos quase todos grisalhos e um pouco corcunda, pele cheia de rugas e olhar quase totalmente castanho. Queria sentir  novamente a adrenalina no sangue, ir em busca  de algo novo, algo intrigante que me fizesse orgulhar novamente dos prêmios que conquistei.

Foi então que minha vida sofreu uma reviravolta. Tudo mudou naquele final de verão de 2014. Estávamos voltando da viajem que fizemos para o Canadá e ao chegar em casa fui conferir a caixa de correios, entre as revistas e contas achei um envelope de cor avermelhada endereçada a mim, peguei o envelope e outras correspondências e entrei em casa. Passei pela sala de estar e fui em direção à cozinha, deixei as correspondências na mesa de jantar e segurando apenas o envelope, me encostei perto da pia de costas para a grande janela que dava para o jardim.

Analisei o envelope revirando-o nas mãos. A caligrafia não me era familiar, mas tinha uma classe que só se vê em convites de casamento. No envelope estava escrito:

A Sr. Gregory

Abri, e vi que dentro havia uma carta e nela estava escrito

Prezado Sr.Gregory

É com muita satisfação que por meio deste documento nós do Trenton Psychiatric Hospital, viemos lhe fazer um convite. Devido ao seu currículo e sua bela trajetória como psicólogo, gostaríamos de convidá-lo a unir-se a nossa equipe. Se for de seu interesse venha nos fazer uma visita para tratamos pessoalmente dos detalhes.

Agradecemos sua atenção

Daniel Theodro

Diretor-Geral

Trenton Psychiatric Hospital

Minha primeira reação foi expressa com leve levantar de sobrancelhas. Eu não sabia o que pensar e depois de se passarem dois minutos, Frence apareceu na porta da cozinha carregando uma caixa com mantimentos. Seu rosto estava corado, gotas de suor percorriam as linhas perto de seus olhos. Seus olhos azuis me olharam com ternura, esse olhar que me fazia lembrar porque eu a amava. Com os cabelos presos em um coque malfeito, ela largou a caixa e tentou prender o cabelo novamente, mas sem sucesso. Ela mordia a boca quando tentava olhar o que fazia acima da cabeça.

_ Você fica tão sexy quando morde seus lábios. – disse. Ela sorriu e desistiu de arrumar o cabelo.

_ Se esse elogio foi uma forma de se esquivar da bronca que vou te dar por me deixar sozinha carregando a bagagem, você está enganado!- Ela sorriu novamente, caminhou em minha direção e me deu um beijo.

_ Desculpe meu bem, eu estava pegando a correspondência.

_ O que é isso que está segurando?

_ Eu recebi isto - entreguei o envelope com a carta para ela. Desconfiada ela leu o conteúdo da carta. Em vez de  fazer cara de espanto ela fez um bico.

_ O que você me diz?

_ Não sei isso aqui é algo novo. Você não iria fazer o estágio nesse hospital quando era mais novo?

_ Acho que sim, não me recordo muito bem isso foi há muito tempo. Porém, estou surpreso.

Na verdade eu estava era intrigado. Por que desse convite? Por que agora? Tantas informações vagas.

_ Não pense nisso agora meu amor e vem me ajudar.

_ Tudo bem. - Ela me deu outro beijo e saímos para o jardim.

Já estava quase anoitecendo quando de repente uma rajada de vento nos atingiu. O vento fez com que eu me arrepia-se e tive uma sensação estranha, como se algo ruim fosse acontecer. Ao olhar para o jardim, que dava de frente para uma mata tive a impressão de ver alguém entre as árvores.

_ Marcos? Viu alguma coisa?- disse Frence.

_ Acho que foi um bicho, vamos entrar? Vou pegar lenha para a lareira.

_ Tudo bem, vou ver o que as crianças estão fazendo, estão quietas demais. Ela me beijou na bochecha e entrou na casa. E eu fiquei a olhar a mata, tentando ver novamente aquela figura. Eu poderia jurar que era alguém, uma mulher.

O vento agora veio mais forte e ao bater nas árvores fez um som de uivo. Estremeci-me e novamente senti a sensação de que algo iria acontecer.









O MISTÉRIO DE HELENA - (EM HIATO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora