CAPÍTULO 17- FINAL

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-Você acha mesmo que não sabemos do ataque nuclear?- Ouço alguém falar entre risadas.- Os conselheiros estão no abrigo. Junto com metade da população da Pangéia.

Sinto uma dor percorrer meu corpo, não a dor física dos tiros, uma dor diferente, eu falhei. Ouço mais um tiro, mas não sinto dor, depois mais tiros, mas não sinto nada. Olho para os guardas e os vejo caídos.

-Levante-se, ainda temos a chance de matar os conselheiros.

É a voz da minha mãe. É a minha mãe. Não consigo conter as lágrimas, vou até ela e a abraço com o máximo de força que consigo, ignorando a dor lacerante no meu braço.

-Como você veio parar aqui?

-Acordei um pouco antes de sairmos. Quando Noah me contou que você tinha sumido eu sabia que tinha vindo para cá, não podia abandonar o meu filho.

-O que nós vamos fazer?

Ela me puxa até o elevador e aperta o botão do térreo.

-Vamos matar os conselheiros, não era pra isso que estava aqui?

-Essa é uma missão suicida, mãe.

-Você é a única pessoa que ainda me resta, não havia sentido em continuar viva, sem ninguém.

-Christina me abandonou?

-Peter...- A porta do elevador se abre, há dois guardas nos esperando, mas minha mãe atira nos dois tão rápido que mal consigo ver.- Christina não sobreviveu, me desculpe.

Christina está morta. Ela se foi, sinto uma angústia dentro de mim, que logo substituo por um ódio avassalador.

Minha mãe entra num carro, então faço o mesmo. Ela dirige muito rápido pelas ruas, passando por cima de corpos de guardas.

-Eles estão num abrigo, fica do outro lado da Pangéia, não temos tempo para ir até lá, mas a porta só pode ser fechada do centro de segurança. Não podemos destruir o abrigo nuclear deles, mas podemos impedir que eles fechem as portas, assim a radiação entrara do mesmo jeito.

Minha mãe para o carro e me dá uma arma.

-Se vir algum guarda atire, atire até que ele esteja no chão.

-Certo, o que faremos agora?

Minha mãe arranca um pedaço de sua calça e amarra meu braço, para parar o fluxo de sangue.

-Precisamos destruir os computadores.

Ela segue correndo, eu vou logo atrás dela, entramos na sede de segurança sem nenhuma resistência. Na parte de dentro não vemos muitos guardas, então não temos problemas para passar, além do mais todos eles são velhos.

-O conselho só escolheu os membros sadios da população, para continuarem procriando.

Quando chegamos à sala de controle, vejo apenas um guarda, bastante velho, minha mãe atira em sua cabeça, vejo seu corpo desabar, depois olho para as telas do lugar, poucas câmeras ainda funcionam, em uma delas vejo os infiltrados vivos parados no porto.

Olho para a minha mãe.

-Consegui uma hora a mais, para salvar você, eles só me deixaram vir porque eu falei sobre o abrigo, mas usei essa brecha para salvar você também.- Ela para de mexer no computador e atira nele várias vezes- Pronto, isso vai parar as portas.

Vejo as câmeras de dentro do abrigo, há um grande tumulto, mas minha mãe não fica para ver o que acontece.

-Ainda temos cinco minutos para chegar até o porto, e dez até que o míssil atinja a Pangéia.

-Não vamos conseguir chegar a tempo.

-Vamos conseguir ou vamos morrer tentando.- Fala a minha mãe com um sorriso, depois beija a minha testa.

Quando saímos da sede nos dirigimos até o carro, antes que minha mãe abra a porta ouço um tiro, vejo uma mancha de sangue que cresce rapidamente em seu peito, olho ao redor e vejo um homem com a perna baleada de pé na frente da entrada do centro de segurança. Antes que ele atire mais uma vez disparo repetidas vezes. "Atire até que ele esteja no chão" foi o que minha mãe disse, e é o que faço.

Corro até ela. Ela está com as mãos sobre o peito.

-Peter, me desculpe.

-Não, não, não. Você me salvou, você vai ficar bem, nós vamos ficar bem.

-Me desculpe por não ter contado a você sobre seu pai, ou sobre a Pangéia, ou de onde eu vinha.- Sua voz falha- Se eu tivesse contado a você antes... talvez as coisas tivessem sido diferentes.

-Mãe, você não vai morrer aqui.

-Diga...- Ela fala me interrompendo.- Diga que me perdoa.

Eu abraço ela, as lagrimas não param de escorrer pelo meu rosto.

-Eu perdôo você, mãe.

-Que bom.

Essas foram suas ultimas palavras. "Que bom", meu corpo todo estremece, não consigo parar de chorar, perdi todos, perdi tudo, não tenho motivos para continuar aqui.

-Pelo menos conseguimos impedir que as portas fechassem.- Digo para seu corpo.

Fico parado até ver um pequeno ponto no céu, de repente não é mais um ponto, vejo o míssil se aproximar. Vejo ele atingir a sede do governo, vejo uma grande explosão, vejo uma enorme luz, ouço um estrondo enorme, é diferente de quando haviam tempestades e a minha mãe dormia comigo, para que eu não tivesse medo. Deito ao seu lado, talvez não seja tão diferente daquelas noites. Fecho os olhos para dormir com ela como fazíamos, só que dessa vez não vamos acordar com o cheiro do orvalho, ou com o barulho dos pássaros cantando. Sinto um vento forte passar por nós, depois uma enorme onda de calor, depois nada.

FIM.

Para Andressa, que me presenteou com Katherine e me incentivou a continuar escrevendo

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