CAPÍTULO 2

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Estamos em um prédio enorme, repleto de pessoas, a maioria delas deve ter a minha idade, outras aparentam uma idade mais avançada, imagino que assim como minha mãe, sejam os pais dos jovens que estão aqui. Existem várias bancadas, acima delas há uma placa escrito REGISTRO, as pessoas que estão atrás delas não esboçam nenhuma expressão, apenas seguem registrando os jovens em seus computadores e em seguida chamam pelo próximo.
-Será simples, eles vão fazer algumas perguntas e você tem que responder a verdade em todas elas, depois disso vão retirar um pouco do seu sangue e registrar as suas impressões digitais, então estará tudo feito.
Apenas afirmo com a cabeça, enquanto vejo o número de pessoas diminuir na sala onde estamos. Algum tempo depois não resta praticamente ninguém, apenas uma garota de cabelo escuro e quem imagino ser seu pai nos fazem companhia, fico a encarando até que ela se aproxima da bancada, então me lembro da razão de estar aqui, olho para a minha mãe e em seguida me direciono até o secretário mais próximo.
-Bom dia- Digo tentando ser o mais simpático possível.
-Nome?- Seu tom é ríspido, quase raivoso.
-Peter Matthews.
-Matthews?- Seu tom muda drasticamente, então lembro da função do meu pai no governo, poucas pessoas não conhecem meu sobrenome na Pangéia.
-Isso- falo tentando imitar a rispidez de sua primeira pergunta.
-Muito bem, tenho um questionário para você.
Ele me entrega uma ficha cheia de perguntas, como o nome da minha mãe e do meu pai, minha idade e várias outras coisas. Lembro da voz da minha mãe na minha cabeça "Você tem que responder a verdade em todas elas", então é o que faço. Quando o entrego a ficha ele pede que eu estenda a minha mão, então espeta o meu dedo com uma agulha e faz com que o sangue pingue em um recipiente.
-Nós só precisamos saber o seu tipo sanguíneo e ter uma amostra do seu DNA, caso venha a ser necessário.
Depois disso ele pede que eu manche meus dedos com um tinta escura e os pressione contra uma folha, com espaços demarcados para cada dedo.
-Muito bem, seu registro está pronto, até o fim da semana você receberá a sua designação de trabalho, mas eu não me preocuparia com isso se tivesse o seu sobrenome.
Suas palavras são como uma pancada na minha cabeça, a minha mãe disse que o meu pai provavelmente já tinha separado um bom emprego pra mim, mas é diferente ouvir isso da voz de um estranho, é como ouvir uma acusação.
-Foi tudo bem?
Demoro um pouco pra perceber que é a voz da minha mãe.
-Claro, já podemos ir?

***
Quando estamos voltando para casa uma figura aparece de repente na frente do carro, ele parece humano, mas não usa roupas comuns, está vestindo trapos e sua pele parece queimada pelo sol, quando olho para a minha mãe ela parece assustada, com um olhar fixo na pessoa que está a nossa frente, não muito tempo depois ouço barulhos que parecem com pequenas explosões, reconheço o barulho dos documentários sobre as guerras que éramos forçados a ver na escola, são armas. O homem que está a nossa frente corre para longe, mas antes que suma da minha vista ele é atingido por uma bala e desaba no chão, como um animal morto, em seguida dois homens com armas pegam o corpo e entram num carro preto, não consigo evitar e um grito escapa da minha boca, isso parece acordar a minha mãe do seu estado de choque, ela se vira pra mim rapidamente e tapa a minha boca.
-Peter você não pode contar a ninguém o que viu aqui está bem?- Sua voz está trêmula, histérica, ela tira a mão da minha boca e repete quase gritando- Está bem?
-Quem era aquele homem? Como podem haver armas dentro da Pangéia?
-Peter eu prometo que vou contar tudo a você, mas é muito importante que você não fala sobre isso com ninguém, nem mesmo com o seu pai. -Ela se inclina e me abraça- Vai ficar tudo bem.
Sinto um frio que percorre todo o meu corpo, por que não posso confiar no meu pai? Sei que eu não deveria ter visto o que vi, sei que a minha mãe esconde um enorme segredo, sei que nada vai ficar bem.

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