CAPÍTULO 14

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Meu despertador está tocando, penso seriamente em não levantar, mas não demora muito até que Katherine venha me chamar. Ela e Christina dormiram no mesmo quarto, eu dormi no quarto ao lado do delas. Lembro do dia em que tudo isso começou. Ouvir a voz de Katherine me chamando, meu despertador tocando, por um minuto penso que estou em minha casa, com minha mãe, que tudo foi um sonho, que vou fazer meu registro em algumas horas... Muitas coisas aconteceram desde então.
-Peter, eu não quero ter que te trazer a força até aqui!- Katherine está gritando.
-Olha que ela vai mesmo, Peter.- Diz Christina rindo entre as palavras.
-Já estou indo.
Katherine está sentada à mesa, de frente para Christina, estão comendo algo, Katherine deve ter preparado o café.
-Meninas, nós realmente precisamos parar de nos comunicar gritando.
Christina solta uma pequena gargalhada, é estranho vê-las assim, de bom humor, é a primeira vez em dias que as vejo sorrir, que as vejo sem toda a tensão dos últimos dias.
-É melhor comer enquanto está quente Peter.- Katherine fala com um sorriso estampado no rosto.
Então me junto a elas e comemos juntos, por alguns minutos o único barulho que ouvimos é o do vento que entra pela janela perto da mesa.
-Muito bem, temos que nos preparar para o trabalho hoje, lembrem que temos que cuidar de todas as imagens e impedir que alguém veja os ataques aos guardas da fronteira.
-Vocês estão muito animadas hoje, posso saber o que está havendo?
Elas se olham por alguns segundos e depois soltam uma gargalhada, o cabelo de Christina está balançando e percebo que está bem maior do que quando a conheci.
-Você não precisa saber Peter, isso é coisa de menina, está parecendo um tarado.- Katherine usa um tom imperativo.
-Certo... Bem não podemos nos atrasar para o trabalho. Só preciso me trocar e estarei pronto.
Quando estou saio da cozinha escuto sussurros e risadas.
-Vocês gosta mesmo dele Christina? Eu acho que vocês dariam um ótimo par.
Meu coração para, Christina contou tudo para Katherine? Talvez seja melhor assim, dessa maneira não teremos segredos... Mas ela deveria ter conversado comigo antes. Afasto o pensamento da cabeça e vou me trocar.

***
Quando estamos andando até a central de segurança, os telões dos prédios todos mostram o símbolo da Pangéia, simultaneamente. De repente todas as pessoas param e olham para eles, o símbolo da Pangéia consiste no Globo com apenas um continente. Isso significa que o conselho vai fazer um pronunciamento. Sinto meu corpo todo entrar em um estado de tensão. Há ultima vez que vi um comunicado do conselho eu era uma criança. O que pode ter acontecido que levou os membros do conselho a se pronunciarem?
-Caros cidadãos da Pangéia.- Há algo estranho, o meu pai está falando, ao lado dele estão os outros conselheiros... Mas Mikhael não está entre eles, sinto meu estômago embrulhar.- É com pesar que informo a todos que sofremos uma lastimável perda- Olho para Katherine, ela está paralisada encarando um dos telões.- O cadáver do conselheiro Mikhael Holand foi encontrado nesta madrugada. Havia ferimentos de balas em seu corpo, informo a todos que entramos em estado de quarentena, a Pangéia foi invadida por pessoas do exterior, eles tiraram a vida de um de nossos conselheiros. Assim que capturarmos os responsáveis eles serão devidamente punidos, quando tudo passar convocaremos uma nova eleição para escolher o novo membro do conselho, até lá evitem sair de suas casas, a não ser que seja extremamente necessário, apenas pessoas com funções essenciais para o sustento da Pangéia continuaram a trabalhar normalmente, isso é tudo.
Olho para Katherine, ela ainda está olhando incrédula para um dos telões, o fluxo de pessoas começa a diminuir rapidamente, até que só vemos pessoas com uniformes do centro de tratamento de água, produção de alimentos, entre as outras funções essenciais, como eles estão em busca de infiltrados o centro de segurança.
Começo a andar em direção a Kethrine, mas antes de chegar até ela vejo uma mulher sem uniforme abraçando-a. É a minha mãe.
-Katherine eu sinto muito, sinto muito, "eles" mataram seu pai. Precisamos agir imediatamente, eles sabem de tudo, estão procurando infiltrados, é só questão de tempo até que encontrem todos, precisamos atacar agora.
Katherine não esboça nenhuma reação, não vejo lágrimas, em pouco tempo seu rosto incrédulo muda, não para uma expressão triste, mas uma expressão de ódio.
-Christina, você está com os transmissores?- Ela cospe as palavras, como se tivesse gosto amargo em sua boca.
-Sim.- Christina fala tão baixo que quase não a ouço.- Mas como vamos entrar? Seu pai ia liberar acesso para Peter no dia certo... Acho que ele não fez isso...
-Senhora Matthews. Seu marido está em casa?
-Sim, mas ele deve sair em alguns minutos.
-Então temos alguns minutos para pegá-lo. Acho melhor irmos logo.

***
Estamos escondidos, do outro lado da rua da minha casa, meu pai abre a porta e anda em direção ao carro.
Katherine puxa da cintura da minha mãe uma arma, que não tinha percebido até então. Ela se levanta e anda normalmente até meu pai.
-Katherine, eu não esperava vê-la agora, sei que está passando
-Se eu ouvir mais uma palavra da sua boca vou atirar- Fala ela levantando a arma e interrompendo meu pai.
-Katherine, escute.
Ouço o barulho de um tiro, seguido por um urro de dor, o braço de Stalin está sangrando, Katherine olha para nós e faz um sinal com a cabeça, indicando que devemos ir até lá.
-Peter? Meredith?
Ouço mais um tiro, esse acerta o ombro dele de raspão, e ele grita mais alto.
-Achei que disse para não abrir a boca, entre no carro.- Katherine ordena sibilando.
Stalin obedece, depois todos nós entramos também, Katherine manda que minha mãe dirija até o centro de segurança.
-Katherine, você está louca? As câmeras registraram tudo.
-Que horas são?- ela pergunta de forma seca.
-Sete e vinte oito.- Respondo.
-A mudança de turno ocorre nesse horário, das sete e vinte às sete e trinta a sala está completamente vazia, as pessoas do turno noturno estão saindo e batendo ponto, assim como as pessoas do turno da manhã estão chegando e batendo a entrada. Ninguém viu as imagens temos tempo até que eles façam a revisão no fim do dia.
Todos olham incrédulos para Katherine, ela parece tão diferente da garota que estava sorrindo essa manhã. Chegamos ao centro de segurança
-Muito bem, agora o que faremos? Como vamos entrar com um conselheiro sangrando sem chamar atenção?- Pergunta minha mãe.
-Meredith, você vai dizer que está lá para resolver alguns assuntos do Stalin, e chamará todos para a sala de vigilância, fique enrolando eles até que tenhamos terminado.
-Mas como vamos passar por todas as câmeras de segurança sem que as pessoas nos vejam na sala de vigilância? Christina indaga.
-Me entregue o controle das câmeras Stalin.- Katherine fala com um tom enojado.
Stalin faz caretas de dor enquanto se move para pegar o controle.
-O resto deixe comigo, Christina e Peter, Meredith.- Fala Katherine.
A minha mãe faz um sinal afirmativo com a cabeça e sai do carro.

PangéiaWhere stories live. Discover now