Capítulo 1

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    Meu despertador está tocando, penso seriamente em não levantar, mas não demora muito até que minha mãe venha me chamar. Meu nome é Peter Matthews, meus pais foram designados há alguns anos para o sistema Pangéia. O projeto Pangéia consiste na união de povos de todos os lugares do mundo aqui no centro de desenvolvimento de pesquisa, uma ilha distante de todos os continentes, o lugar foi considerado perfeito para o projeto, segundo o meu pai, eles precisavam de um lugar distante o bastante dos continentes para impedir qualquer relação com as pessoas daqui com “o mundo lá fora”. Eu nasci aqui, na Pangéia, nunca entendi muito bem o objetivo de estarmos aqui, minha mãe diz que o mundo enfrentava um grande conflito político, e os representantes dos governos firmaram um acordo, uma pequena parte da população de cada continente seria levada para a Pangéia, o objetivo disso era fazer com que as pessoas se unissem e se desenvolvessem juntas, assim as próximas gerações criadas nesse sistema não teriam nenhum problema étnico ou político uns com os outros, com o tempo, os jovens seriam retirados da Pangéia e postos nos continentes, e esse processo se repetiria até que não houvesse mais conflitos entre os povos. Porém, alguns anos depois do início do projeto uma guerra foi gerada, e vários continentes foram destruídos inteiramente, outros possuem apenas uma pequena população, distribuídas em tribos, desde então o fluxo entre pessoas da Pangéia e dos continentes foi proibido. Isso é tudo que ela me conta, nunca fala sobre os motivos que levaram a guerra, ou os motivos para que o contato com o mundo lá fora fosse cortado, mas depois de um tempo decidi parar de perguntar.
    O meu pai faz parte de um dos conselhos governamentais, para evitar que conflitos políticos fossem novamente gerados não existem mais líderes, todo o poder foi divido em conselhos, com exceção do grupo que rege o sistema de leis da Pangéia, formado por cinco membros, todos os outros são compostos por três membros, eleitos pelo povo. Meu pai Stalin Matthews, está no conselho legislativo desde que nasci, dezesseis anos atrás, isso me faz pensar que ele é um bom conselheiro, já que o povo sempre o escolhe de volta.
    -Peter eu já disse para levantar- Seu tom de voz está alterado, ela parece nervosa, não é comum vê-la nesse estado, por isso sinto uma pontada no estômago e não ouso esperar por mais um chamado.
    -Eu já estou descendo mãe.
   Quando chego à cozinha meu café já está posto, e ela está olhando pela janela em direção ao centro, então me lembro, sei o motivo dela estar nervosa: Hoje é dia de fazer o meu registro.
    Todos os anos na Pangéia, os jovens que possuem mais de dezesseis anos devem fazer o seu registro, por meio dele as pessoas tem direito ao voto, trabalho, saúde, entre várias outras coisas, basicamente esse é o marco para quando alguém atinge a vida adulta. Antes dos dezesseis anos todos são considerados dependentes, e todas as ações devem ser efetuadas nos registros dos pais.
    -Depois que tiver o seu registro você não precisará morar comigo e com seu pai- Sinto um pesar em sua voz -Mas você terá que arranjar um emprego, não se preocupe com isso, o seu pai com certeza já deve ter pensado nisso e separado alguma vaga em algo muito bom.
    -Isso não é uma despedida, eu ainda vou voltar pra casa.
    Quando termino o café vou ao meu quarto para me aprontar, depois disso desço e minha mãe já esta no carro me esperando no carro para que possamos ir à sede do governo. Ao entrar no carro ela beija a minha testa e sussurra tão baixo que quase não consigo escutar:
    -Não se preocupe tudo vai ficar bem, eu e seu pai vamos sempre amar você.
    Não sei a razão dessas palavras nesse momento, mas sinto um embrulho no estômago. Estamos indo ao centro da Pangéia.

PangéiaWhere stories live. Discover now