31.

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Como tudo que é bom dura pouco, tive que voltar para o hospital. Meu pai estava no quarto com uma cara nada boa. Olhei logo para o Arthur, que continuava no mesmo estado.
-Querem desligar os aparelhos. -Ele estendeu os braços para me abraçar e eu fui até ele. -Alguns parentes dele também acham que vai ser melhor. Acabar com todo o sofrimento de uma vez.
-Não pai. Não podem. -Comecei a chorar. -O que você disse?
-Achei que diria isso. -Ele beijou o topo da minha cabeça. -Eu disse que ia pensar.
-Você nunca viu os casos de pessoas que passam anos em coma e do nada acordam? Ele ainda pode acordar. Não vou desistir dele e nem você deveria. -Me soltei do meu pai e ele deu um sorriso de simpatia para mim.
-Eu não vou. -Ele suspirou. -Bom, eu tenho que ir trabalhar. -Ele me deu um beijo na testa e foi.
Com tudo que estava acontecendo, meu pai conseguiu, com o chefe dele, arrumar um jeito de ir trabalhar só a tarde e como ele era o responsável legal pelo Arthur, não teve como discordar.
Sentei na cadeira ao lado do Arthur e comecei a conversar com ele, como fazia todos os dias.
-Poxa Arthur, eu não acredito que você não vai acordar. Está todo mundo preocupado com você, todo mundo querendo te ver de novo, ouvir suas piadas mega sem graça, mas que em sua defesa me faziam rir. Eu já to ficando uma pilha de nervos com aquela sua namorada que só quer saber de ir contra a sua mãe e vive tentando invadir esse quarto do hospital. Sei que você a ama e peço desculpas por ela não poder estar aqui com você, mas ela não é quem diz ser, ela só quer a merda daquela herança do seu avô. Enfim, meu aniversário é em três dias e a única coisa que eu quero de presente é um abraço seu. Aquele abraço bem apertado que você me pega no colo e me roda, sabe? -Dei um sorriso lembrando. Lágrimas escorriam pelos meus olhos. -Meu maior medo é que quando você acordar, ainda não queira falar comigo ou olhar na minha cara. Tenho medo de preferir a Lara, de novo. -Segurei na mão dele e deixei as emoções tomarem conta de mim.
-Oi Elena. Desculpa, eu ouvi tudo. -Andressa, a enfermeira, entrou no quarto. Eu e ela acabamos virando amigas e no período livre dela ficamos conversando. Ela é casada com um empresário e tem uma filha pequena.
-Dizem as más línguas, que quando estamos em coma, conseguimos ouvir o que nos falam. Se esse for o caso dele, ele vai preferir você. -Ela falou trocando o soro.
Com o tempo, alguns amigos dele e até parentes param de ir vê-lo. Alguns ainda iam o ver um fim de semana ou outro, mas nada muito constante.
Nos dias de semana, apenas meus amigos davam uma passadinha rápida para saber dele. Mais por mim do que por ele, mas mesmo assim vinham.
-Espero que seja. -Dei um sorriso fraco.
-Eu não deveria te contar, pois o médico ia vir aqui amanhã cedo falar tudinho com seu pai, mas eu vou contar. Ele não precisa mais das máquinas para respirar e de acordo com o seu pai, ontem a noite ele mexeu a mão. -Meu coração acelerou de felicidade. Ele não havia acordado, mas era uma grande melhora no estado dele.
-Por que será que ele não me contou?
-Ele não quer alimentar falsas esperanças Elena. Ele sabe quando é difícil para você e eu admiro tudo o que você está fazendo. Você não tem ideia de quantos pacientes no estado dele, existe nesse hospital e muitos foram largados pela família. Quando, uma vez ou outra um acorda, procuram pela família, mas não resta ninguém. Eles ficam tão desnorteados e sozinhos, que da pena. -Disse desligando a máquina que ele usava para respirar. Meu coração apertou na hora, mas vi que ele conseguiu respirar e eu respirei aliviada.

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