Eu falei como uma metralhadora. Provavelmente algumas palavras começaram a se embolar em outras, o que causou uma confusão generalizada. Se existe algo indiscutivelmente incompreensível é alguém falando alemão de forma embolada, isso eu garanto.

          Julia, porém, conseguiu compreender meu desespero. Eu sempre quis falar com alguém sobre o que tem ocorrido nessa última semana, mas nunca tive coragem. É uma sensação muito similar àquela quando você sente uma dor, mas não conta para ninguém esperando que ela seja passageira. Nas duas situações existe um risco de vida.

          — "Previsão Linear" — Julia falou como se ela tivesse retirado de um texto científico. — É assim que podemos chamar essa sua habilidade. Pra resumir, é um fractal.

          — Fractal... — Eu repeti.

          — É um padrão repetitivo que simboliza o...

          — Caos. — Eu completei a fala dela.

          Ela direcionou um pequeno sorriso para mim, mas ainda mantinha uma expressão extremamente séria.

          — Parece que ele te explicou bastante coisa, não? — O sorriso sumiu da face dela.

          — Sim...

          As lembranças que tinha do professor me davam uma sensação esquisita. Era como se eu simplesmente tivesse visto um desconhecido morrer. Os sentimentos não acompanhavam os eventos. Será que nunca me importei com o professor?

          — Então ele não era um adversário... — Julia sussurrou de forma que eu mal pude ouvir. Poderia até dizer que ela falava consigo mesma. — De qualquer forma, eu imagino que com isso você já esteja entendendo um pouco mais do que eu quis dizer.

          Não. Eu não tinha a menor ideia do que ela estava falando.

          — Fractais não são estruturas descritíveis. Como sabemos, eles estão por todo o universo, seja fora como também dentro de nossas mentes. Nós mesmos trabalhamos de forma repetitivamente caótica.

          Ela começou a falar todas aquelas baboseiras científicas que o professor falou durante a aula. Tudo que pude fazer foi ficar olhando a boca dela se mexer enquanto eu não conseguia raciocinar rápido o bastante para processas as informações.

          — Agora imagine se, por algum milagre, um ser humano pudesse descrever um fractal perfeitamente?

          — C-como assim, descrever?

          — Descobrir o padrão do fractal vendo somente uma fração minúscula dele. Descobrir a repetição vendo somente uma única parte.

          Eu consegui visualizar a imagem. Se fosse possível essa descrição você poderia olhar para um galho no chão e conseguiria descrever perfeitamente a árvore de onde esse galho saiu, você descobriria o "fractal" dele somente pela fração.

          — Se você pegar uma pequena folha de samambaia seria fácil de saber que ela veio de uma samambaia. Seria até possível desenhar essa samambaia com certo conhecimento. É claro que o fato dessa samambaia ser algo natural acaba tornando as coisas um pouco mais simples. Portanto, chamamos isso de pseudo-fractal natural. Eles são descritíveis e não são infinitos, então podemos dizer que só imitam um fractal real. São os fractais encontrados na natureza, nas árvores, nos raios, nos rios, nos flocos de neve entre outros.

          — Mas e os fractais reais? É possível "descrever" um fractal real e infinito? — Perguntei com uma expressão cética.

          — Prever a forma de um pseudo-fractal por uma parte de escala menor pode parecer improvável, mas não é impossível.

A Borboleta na TormentaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora