Eu só não consigo entender essa mudança repentina de personalidade. Teria sido pelo stress da situação improvável? A pessoa que mais teria chance de ter uma mudança de personalidade, considerando tudo que tem ocorrido, seria eu mesmo, afinal, fui eu quem viu aquela atrocidade e ainda assim parece que não fui tão afetado quanto o esperado.

          Para falar a verdade isso me incomodava. Por que não estou traumatizado ou em estado de choque? Por que eu me recuperei tão rapidamente? Será que sou tão insensível a ponto de quase relevar uma morte?

          Por um momento eu consegui deduzir a causa da minha insensibilidade: Não foi a primeira vez que eu o vi morto, certo? A maldita visão estava acabando com meus sentimentos. Eu estava começando a ficar acostumado com cadáveres mesmo que esse tivesse sido o primeiro que já vi.

          — Isamu, está me ouvindo? — Julia falou com um olhar preocupado, era a primeira vez que eu a vi agindo daquela forma.

          — Ah! S-sim. Claro. — Falei com uma resposta automática. Tobias já me disse que eu devia parar de dar respostas automáticas... Nem nisso pude honrá-lo. Desculpe-me professor.

          — Isso realmente tem me preocupado. Se não for somente nós que podemos vê-lo significa que alguém também foi "atraído".

          — Espera um pouco... O quê? — Minha expressão deveria parecer de um idiota completo.

          — Sinceramente. — Julia levou a mão até o rosto com um sorriso decepcionado.

          — Desculpa! Comecei a pensar algumas coisas e... — Tentei me desculpar um tanto quanto constrangido, mas fui interrompido bruscamente.

          — Tudo bem... Acho que você deve estar bem impactado com o que vem acontecendo.

          Na realidade é exatamente o oposto e é por isso que estou tão preocupado. De qualquer forma, é melhor deixar ela acreditar nisso. Não gostaria de dar a impressão de que não tenho sentimentos.

          — Bem... Acho que estamos em grande perigo.

          Considerando que eu estava prestes a ser assassinado, isso é algo bem óbvio.

          — E você tem alguma ideia de onde vem esse perigo?

          — Um fractal.

          Quando ela usou a palavra fractal minha visão começou a girar. Um gosto de ferro surgiu em minha boca.

          O que ela quis dizer com isso? Ela está falando da mesma coisa que meu álter ego falou, não? Da mesma coisa que Tobias falou. Como ela sabia disso? Não. Não importa como ela sabe disso. Finalmente eu posso conversar com alguém que não ache que fiquei maluco.

          — Quando você diz f-fractal...

          — Quando eu digo fractal eu estou falando dessa sua habilidade. Da sua visão. — Julia completou com um sorriso falso.

          Exatamente. Ela tem ideia do que vem acontecendo. Finalmente alguém. Finalmente! Eu não consegui conter minha animação. Eu já estava segurando isso por tanto tempo para não ser taxado de louco que eu realmente estava ficando maluco.

          — Foi no primeiro dia depois que era para voltar para a escola eu estava com muito sono porque eu acordei mais cedo do que o normal então eu acabei dormindo na escola eu não queria mas acabei dormindo aí veio aquela visão e tudo ficou escuro eu não sabia o que fazer eu me desesperei e logo eu desisti de tudo mas quando você chegou eu pensei que ainda tinha um jeito mesmo não sabendo o que você quis dizer com aquilo então eu simplesmente esperei mas aí aconteceu aquilo com o professor e logo eu já não sabia mais o que fazer então...

A Borboleta na TormentaWhere stories live. Discover now