14 - Ray

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Eu vi Gerard caminhar na direção do seu trabalho, as costas levemente curvadas e que claramente espelhavam a confusão que se passava na cabeça dele. E eu o conhecia o muito bem, porém, por mais que eu visse o meu amigo daquele jeito, não pude deixar de sorrir e achar aquela situação cômica.

Gerard não comia direito, havia deixado parte do seu macarrão favorito no prato e dado uma desculpa qualquer de que precisava trabalhar imediatamente antes que começasse a pensar naquelas coisas, embora eu soubesse que ele iria pensar nelas mesmo assim. Eu não pude deixar de notá-lo desviar os olhos para a biblioteca, onde eu havia descoberto que o tal Frank trabalhava e arqueei ambas as sobrancelhas, surpreso em como Gerard estava afetado com aquilo tudo. Há anos eu não o via daquela forma por alguém. Aliás, eu nunca o havia visto assim.

E era engraçado. Muito engraçado. Gerard não sabia esconder sua paixonite e eu não conseguia esconder o sorriso enquanto o observava afastar-se cada vez mais de mim.

Veja que belo amigo eu sou, rindo dos problemas pessoais do meu melhor amigo.

Por outro lado, eu me senti um pouco mais calmo por saber que ele tinha voltado a ser um pouco do que ele era antes, e com essa grande notícia, peguei meu telefone, entortando os lábios, porque eu odeio essas novas tecnologias e touchscreen e sei lá o que mais. Mesmo que eu trabalhasse com tablets e computadores todos os dias, eu os odiava acima de tudo. Se Michael não estivesse tão longe, eu teria pessoalmente o visitado para aquela conversa, mas eu não tinha o hábito de fazer visitas surpresas para o irmão do meu melhor amigo, então achei melhor tentar ligar para ele.

Assim, após uns minutos lutando contra o celular, a imagem do Mikey apareceu na tela e em alguns segundos a voz dele soou animada.

- RayRay! O que me conta de novo? – Mikey parecia estar caminhando, já que eu pude escutar buzinas de carro e a voz alegre de Alicia logo ao seu lado também me cumprimentando. Eu e Mikey não éramos próximos como eu era com Gerard, mas ainda mantínhamos aquela amizade amena e, volta e meia, nós dois ligávamos um para o outro, como duas velhas fofoqueiras para falarmos da vida do irmão, como Gerard parecia não ter jeito e nunca mudar. O que parecia começar a mudar naqueles dias. – Alicia está mandando um "Oizinho". Minha mulher é mesmo um amor.

- Pra aguentar você, é óbvio que é. – Não deixei de comentar e Mikey me xingou, assim como Alicia gargalhava. E, com um sorriso ainda mais largo (justamente pelo fato de que o Gerard não poderia me ver ou me ouvir naquele momento) eu continuei a falar, como se não tivesse recém ofendido meu amigo. - Aposto dez dólares que o Frank volta pro apartamento dele até o final dessa semana.

- O que quer dizer com isso? O Gerard disse alguma coisa? – Mikey pareceu surpreso e eu fui me levantando da mesa, deixando minha parte da conta dentro da pequena pasta de couro, onde Gerard havia deixado algumas notas antes de partir, a fim de sair do restaurante, já que meu horário de almoço estava quase terminando.

- O que você deve imaginar: Ficou negando, dizendo que era paranoia dele, sabe como é. Mas ele está inquieto, atordoado... E nós dois sabemos muito bem o que esperar dele quando está assim. Aliás, estamos esperando isso há muito tempo. Nunca iria imaginar que o seu irmão teimoso fosse capaz de se preocupar com alguém a não ser consigo mesmo. – Saí do restaurante com um tanto de pressa, não mais encontrando Gerard em meu campo de visão e, distraidamente, segui o caminho oposto de meu amigo, sabendo que teria que andar um bocado até chegar ao trabalho.

- Whoa! Isso sim é uma puta novidade! Você acha que talvez ele esteja... – Eu sabia que Mikey também desconfiava dos sentimentos de Gerard a respeito do amigo, mas eu não queria alimentá-lo. Gerard era esquisito demais para assumir o que se passava de verdade com ele e mesmo que eu tivesse certeza, sabia que meu amigo teria que lidar com aquilo por conta própria ao invés de ter o irmão e o amigo enchendo seu ouvido de ladainhas. Mesmo que fossem ladainhas boas.

- Não sei. Sabe como Gerard é esquisito demais. Só posso confirmar que o seu amigo vai ter onde ficar. Seu irmão vai acabar o buscando mais cedo ou mais tarde. – Sorri com as minhas palavras, pois eu não só acreditava nelas... Eu tinha absoluta certeza de que eram reais. E tudo o que eu queria, naquele instante, era que se tornassem verdade.

Porque eu precisava que o meu melhor amigo ficasse bem. E ele iria. Aquele garoto esquisito do café iria se encarregar disso.

Burn Bright || Frerard versionOnde as histórias ganham vida. Descobre agora