- Pode me dar uma carona? – Eu perguntei, em súbito, ao que Gerard terminava de fechar a maleta e erguia seu olhar em minha direção, extremamente assustado. Rapidamente, eu emendei, antes que acabasse tomando um de seus foras. – É sério. Eu... Não sei onde fica o metrô mais próximo, não sei chegar lá. – O que era parcialmente verdade. Eu daria um jeito de me virar, mas não custava nada tentar a ajuda de Gerard. Por mais que ele fosse um chato.

- Você não sabe andar de metrô? – Ele perguntou, rumando em direção à porta principal, com a maleta e o celular em mãos, a gravata preta e branca já bem arrumada em seu pescoço. E eu resmunguei, em negação, fitando o papel em minhas mãos, enquanto o seguia, distraidamente. – Achei que você tivesse morado aqui antes. É o mínimo que você deveria saber.

- Pois é. Digamos que eu morava a uma quadra da faculdade e ia caminhando. – Resmunguei, passando rapidamente pelo vão da porta, ao que Gerard a abriu rapidamente, quase o empurrando longe. O escutei resmungar algo, quase me xingando, mas, aparentemente, ele se controlou. – Olha, tudo bem. Eu acho que já saquei o mapa do Bert, eu me viro bem. – Aproximei-me do elevador, ainda com os olhos fixos na folha, analisando os traços e a letra garranchosa de Bert, conforme apertava o botão, a fim de aguardar o elevador chegar.

- Certo. – Gerard começou, após fechar a porta e trancá-la, já se postando ao meu lado. Ergui meu olhar em sua direção e ele bufou, daquela forma engraçada de sempre, enquanto eu o analisava. – Onde você trabalha? Aliás, onde vai começar?

- Na Biblioteca Estadual. – Eu abri um sorriso largo, já adentrando o elevador, enquanto Gerard demorou alguns segundos para fazê-lo. Notei-o ligeiramente irritado e os lábios crispados de um jeito engraçado, enquanto adentrava o elevador, fazendo-me ter que segurar as portas com um dos botões do painel, antes que elas acabassem fechando contra ele. – O que foi?

- Nada. Eu posso te deixar lá. Fica um pouco perto do meu trabalho e... – Ele fez uma longa pausa, enquanto encarava os números do visor do elevador mudarem, como se aquilo fosse realmente muito importante. – Não se acostume. Só fique de olho no caminho, ache pontos de referência e jogue esse papel fora, não sei como consegue entender essa coisa. – Ele desceu o olhar para as minhas mãos e seu cenho permaneceu sério por longos segundos, enquanto ele encarava as tatuagens em meus dedos. Pigarreei, chamando-lhe atenção e ele voltou a fazer o que sabia fazer melhor: fingir-se de chato.

- Obrigado. – Eu disse, quase timidamente, enquanto guardava o papel novamente em meu bolso, sem importar-me de amassá-lo ali mesmo.

Mantive minhas mãos nos bolsos e um silêncio desagradável se instaurou, até as portas do elevador se abrirem e nós dois quase passarmos ao mesmo tempo, trombando um com o outro. Sem paciência, Gerard empurrou-me com uma das mãos, sem muita força, apenas para que eu seguisse em frente.

A garagem do prédio era repleta de carros caros e importados e o de Gerard não ficava atrás. Passamos por uma fileira de automóveis pretos, até acharmos o de Gerard, surpreendentemente, da mesma cor. Que original.

A lataria era fosca, diferente dos demais, deveria reconhecer, e os vidros escuros escondiam por completo o seu interior. Gerard destravou as portas, largando a maleta no banco de trás, enquanto eu adentrava o carro, sentando-me no banco de carona. Deixei a mochila em meu colo, repousando as mãos sobre tal, após prender o cinto de segurança contra o meu corpo, antes que ele reclamasse disso também. Gerard largou-se ao meu lado, trancando a porta e sua expressão era tão séria, que eu achei que já havia feito algo que tinha o irritado. De qualquer forma, eu já deveria ter me acostumado com o fato de que Gerard tinha aquela expressão de qualquer forma.

- O que você vai fazer? – Ele perguntou, distraidamente, enquanto já ligava o carro e o manobrava para fora da vaga, com apenas uma das mãos. A outra, desgraçadamente, emaranhou-se em um dos fios, enquanto ele guiava o veículo para o elevador de automóveis, vulgo: a coisa mais esquisita que eu tinha visto na vida até então.

Burn Bright || Frerard versionحيث تعيش القصص. اكتشف الآن