O fim

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ERIN KOCH

Eu sempre tive medo da morte.


Até finalmente estar de frente a ela.


Como todo ser humano que é feliz, eu achei que esse momento demoraria mais a chegar. Me imaginava bem velhinha, sentada no jardim de casa tomando um chá e observando meus netos ou bisnetos brincando.

Essa é a expectativa e o sonho de muitos. Morrer de velhice.


Como mulher também tinha medo de envelhecer. Tinha medo de um dia acordar e pensar "meu Deus, como estou velha!". Cabelos grisalhos, pele flácida... A jovialidade de antes, indo embora...

Eu daria tudo por essa dádiva. Envelhecer é uma dádiva. A grande indústria de beleza está sempre antagonizando a velhice, quase como se fosse um pecado envelhecer.

Rugas? Que horror! Cabelos brancos? Está na hora de cobrir.

Quanta tolice.

Essas são as marcas da vida. Nossas medalhas de vitória. O mapa da nossa história.

Como querer esconder?

Aprendendo a aceitar a morte, tornamo-nos amigas. Tenho percebido o quão importante ela é. Que ela chega para todos. Alguns velhos, outros bem novos. Sem lógica? Destino? Eu não tenho me prendido a essas bobagens. Até porque jamais serei capaz de provar.

Só tenho focado em entender a vida e se a minha valeu a pena.

Do que se compõe uma boa vida? Dinheiro? Fama? Sexo? Amor? Família?

Cheguei a conclusão de que tudo é relativo. Cada ser humano é diferente. Com mentes e focos diferentes. E que cada um precisa ser feliz de acordo com o que entende disso.

E pra mim, uma boa vida é composta de família e amor.

Então sim... Eu tive uma maravilhosa vida. Meus pais foram excepcionais... Tive muitos bons amigos. Viajei para lugares extraordinários, comi as melhores comidas. Trabalhei, falhei, errei muitas vezes. Me apaixonei perdidamente por Arthur... E construímos uma linda família.

Tenho muita gratidão por tudo que vivi até aqui.

E a medida que a morte me enlaça, me sinto mais livre. Deixarei essa terra sem arrependimentos. E sem remorso. Apenas felicidade. Uma felicidade inexplicável.

Como a que sinto agora... Sentada no meu belo quintal. Vendo Benjamim com amigos na piscina. Tão alegres e jovens.

Me sinto cada vez mais fraca. Como se eu literalmente pudesse sentir minha alma indo embora aos poucos. Essa é a parte ruim de morrer lentamente.

O sol começa a se por e todos vão se trocar e se preparar para o jantar. 

O jantar é realmente um banquete! Como com um apetite que não tinha há meses. Logo após a sobremesa vamos todos para a sala de estar. Estou aconchegada nos braços de Arthur quando Natalie se levanta.

"Pessoal, tenho algo importante a compartilhar com vocês. Pensei em fazer algo mais privado para Ben, mas que momento melhor que este? Estando rodeada de pessoas tão queridas... E mais do que nunca, precisamos de boas notícias. É um momento delicado para todos nós" ela olha para mim "mas Deus trabalha de maneira misteriosa. Esse é o dom da vida... Um grande espetáculo cheio de surpresas... A vida tem dores e é finita, mas também tem alegrias e um início" ela tira algo do seu bolso e todos ficamos chocados quando vemos que é um teste de gravidez "e esse é o início para o novo membro da família Koch. Eu estou grávida!"

Há uma explosão de gritos e felicidade. Benjamim corre até Natalie e a abraça, girando-a no ar. 

Me endireito no sofá e Natalie me dá um bom abraço.

Felicidade. É tudo que sinto. Felicidade inexplicável.



08 meses depois    


NATALIE DORMER


Respiro fundo. A anestesia já se foi pela segunda vez. Já estou há doze horas em trabalho de parto. Me sinto fraca. Uma dor inexplicável. Estou prestes a desistir...

Sinto a mão de Ben acariciar a minha.

"Amor, seja firme! Já conseguimos ver o bebê. Você vai conseguir!" ele me encoraja e eu respiro fundo, na última tentativa.

Coloco todas as minhas forças nessa expulsão. Minha visão fica embaçada e enfraqueço, até finalmente ouvir um choro.

O chorinho mais lindo. Mais reconfortante. Mais doce. Minha filha.

A enfermeira a coloca em meus braços e Ben corta o cordão umbilical. Nos abraçamos por um longo tempo. Minhas lágrimas quentes descem como uma enchorrada e eu sorrio.

Não acredito que consegui. Ser mulher é algo sobrenatural.

"Então, vocês já tem um nome para essa princesinha?" a enfermeira pergunta. 

"Ainda não..." Ben responde "já pensamos em tantos, mas nada parecia bom o suficiente".

E realmente foi assim... Até as últimas semanas em que refleti bastante enquanto pensava em que nome seria digno para minha filha. Em quem ela poderia se inspirar? Então pensei numa linda mulher... Que lutou bravamente pela sua vida. E que deixou um grande vazio em nós quando partiu desse plano há quatro meses. 

"Na verdade... Se você concordar, eu escolhi um nome" digo.

"Qual?"

"Erina"

Ben me olha com tanta ternura. Seus olhos começam a marejar e me abraça fortemente.

"Erina... Sim. Esse é mais que suficiente" ele me olha afundo "eu te amo Natalie. Obrigada por tudo".

"Eu também amo você Benjamim. Desde sempre, para sempre"

Ele me beija com carinho e encosto minha cabeça no travesseiro, sentindo minha filha mamar.

Sorrio de olhos fechados. Esse é só o começo de uma linda história. Mas nesse momento sinto... Um sentimento puro... Uma felicidade inexplicável.

𝐓𝐡𝐞 𝐏𝐡𝐨𝐭𝐨𝐬𝐡𝐨𝐨𝐭Where stories live. Discover now