A Linguagem do Caos

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          Tenho poucos amigos.

          Todos utilizamos nossos amigos a todo o momento. Eles são a forma de fugir da realidade. Se você tirar uma nota digna de lágrimas, mas seu amigo tirou uma nota ainda menor, você ignora seus problemas e passa a se concentrar no do seu "amigo". Seu consolo é o desespero do igual.

          Podemos chamar isso de amizade? Quando seu amigo te pergunta a sua nota, ele não deseja ouvir uma boa notícia, mas o contrário. Ele quer fugir de seus próprios problemas. Fugir da sua realidade utilizando-se do problema dos outros.

          Ele quer se sentir bem ouvindo a desgraça alheia.

          Sim... Quando cheguei na Alemanha consegui entender o significado disso tudo. Uma palavra única, tão terrível que só existe em duas línguas: O alemão e o grego.

          O prazer da desgraça: Schadenfreude.

          Não quero ser hipócrita. Faria o mesmo se tivesse amigos burros. O problema é o fato de Aleksandr, a única pessoa que me arrisco a chamar de amigo, ser um gênio incompreendido. Sinceramente, o garoto consegue tirar as maiores notas da escola mesmo com a personalidade problemática dele. As notas dele sempre estão em um patamar inalcançável.

          Basicamente, eu já estava no perigo de ficar devendo nota em física mesmo estando nas primeiras semanas do ano.

          Enquanto pensava em tudo isso, meu caderno estava fechado e me encontrava debruçado por cima da mesa, sem perceber o olhar desapontado do professor Tobias.

          Tsc... Você não compreende. Minha cabeça está completamente cheia depois dessa maluquice. Não é você... Não é você que irá morrer!

          Afundei minha cabeça nos meus braços e decidi não falar nada. Era melhor deixar quieto.

          O sinal do fim da aula tocou e logo o professor Tobias voltou a sua mesa terminando de dar alguns detalhes da aula. Ele, porém, falou que eu devia esperar um tempo enquanto os outros alunos saíam em direção da quadra, visto que a próxima aula era de educação física. Ele provavelmente queria falar sobre minhas notas. Talvez ele tivesse me esquecido se Julia não tivesse refeito a sua apresentação para ele também. Ah... Para que me deixar no centro das atenções?

          Todos os alunos saíram e logo Tobias veio na minha direção e sentou-se em uma cadeira ao lado da minha.

          — Fatou, o que você acha das minhas aulas?

          Ele era alto e calvo. Fazia academia e por isso tinha um corpo que fazia você acreditar que ele poderia quebrar seu crânio com as mãos nuas. Basicamente, ele era intimidador o bastante para você ter medo de acabar deixando-o bravo.

          — Bem... São boas aulas?

          — Isso é uma resposta ou uma pergunta? Vamos, o que você acha que falta nas minhas aulas?

          — E-eu não sei, senhor.

          Droga. Acabei de falar a pior coisa que deveria falar.

          Ele pareceu ter um tique no momento que falei a palavra "senhor" e logo depois abriu um sorriso falso de puro ódio.

          — Eu não sou tão velho assim — falou com uma voz baixa.

          Na realidade suas roupas que não são. Você, com a sua idade, está bem desconectado da "vida jovem".

          Obviamente não falei o que vinha em minha cabeça. Ainda faltam alguns dias para morrer.

A Borboleta na TormentaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora