"Fiz questão de esquecer como um anjo"

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  "E como um anjo caído, eu fiz questão de esquecer, que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira. Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo." - Renato Russo


      Ícaro corria em meio as rochas, pulando e destruindo-as, enquanto via um castelo que lembrava vagamente um castelo medieval aproximando-se dele. Ele estava recordando de quando estava na esfera de luz que o levara diretamente a caverna, e do jeito como ela explodira ao chegar na entrada do lugar. Desde então ele estava correndo para impedir o plano maléfico de Abaddon, o demônio do abismo, que desejava abrir os portões do inferno. O sol já estava se pondo, a escura noite já tomava conta dos céus, como uma tinta preta se espalha em um potinho com água cristalina. Uma espécie de aurora boreal estava a envolver o topo do castelo e a cada passo que o Arcanjo Mortal dava, uma energia infernal o empurrava para baixo. Não tinha para onde fugir, esse era o seu destino agora, ele escolhera isso, o mundo contava com ele, seus amigos contavam com ele, Halley contava com ele, até porque ele não era apenas um simples garoto de 17 anos, ele era um guerreiro, ele era um arcanjo-humano.

— Cara, eu não estou mais aguentando — Gritou Ariel estufando o peito enquanto colocava o dedo no rosto de Halley — Da para você me explicar o que houve, diga-me um motivo, diga o porquê de você estar me evitando.

Porém Halley não respondeu.

— Eu mandei você me dar uma explicação!

— Tudo bem, você quer que eu diga? — Disse Halley irritada — Você quer que eu fique de boas com a sua cara depois de você quase ter me matado, depois de ter enfiado espinhos em mim, de ter rido da minha cara, me ignorar, me ameaçar, você quer que eu apenas esqueça que isso aconteceu? Não é fácil assim não Ariel!

O clima tornou-se tenso outra vez. O silêncio passou a reinar ali, enquanto Halley passava as duas mãos na testa e soltava o ar. Ariel olhou para ela e perguntou:

— Como?!

— Muriel não quis que você soubesse, mas você quase me matou, você perdeu o controle, se tornou uma espécie de demônio, você eletrocutou o ciclope, você o matou de um jeito perverso!

— Me desculpe, eu não lembro de nada, me desculpe.

Ariel abaixou a cabeça e começou a chorar. Halley sentiu uma pontada de culpa, não fora culpa da anja, quem estava sendo má ali era ele. Ela aproximou-se de Ariel e disse:

— Deixe para lá, esquece isso, beleza?

Ícaro estava subindo as escadas do castelo quando escutou três vozes no salão principal, uma voz masculina, outra que parecia um rugido de um leão e a última era a voz de uma garotinha que gritava e chorava pedindo ajuda.

Você pode gritar o quanto for, ninguém te escutará daqui fedelha. — A voz do demônio tinha um sotaque francês — Se você continuar gritando vou arrancar sua língua enquanto corto suas cordas vocais, ENTENDEU?!

Um barulho ecoou pelo salão e a garota gritou, Ícaro conteve o instinto de correr e salvar a garota, até que alguém tocou em seu ombro, uma mão fria e grande. O Arcanjo Mortal colocou sua mão na bainha e estava prestes a tirar a espada quando viu o rosto do anjo. Era Ismael, o querubim morto.

— Há uma garotinha lá dentr...

— Shhhh — disse o anjo colocando a mão direita na boca de Ícaro — Cale a boca!

Eles subiram o resto das escadas e viram os demônios que estavam com a garotinha. Os dois demônios tinham aparência de sátiros, e a menina era apenas garotinha humana, com cabelos louros, olhos cor âmbar, pele branca, porém bronzeada, segurando com suas mãos um pingente de chave em seu colar.

A Última Nefilim - Livro I (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now